Restaurantes de Pelotas – Shangay Sushi Lounge

Eu gostava do Shangay original. Bastante. Desde criança. Desde quando não era buffet. Mas aos poucos foi perdendo as características, ou eu fui crescendo, ou os dois. Com os anos, parece que a comida foi ficando mais gordurosa e os ingredientes e atendimento piorando. Não tenho mais aquela vontade “mãe, vamos no Shangay?”. Brinco que, após o desabamento do antigo ponto, no Calçadão da Sete, tiveram que recomeçar com panelas novas, limpas, perdendo o tempero do tempo e da sujeira.

Mas é aqui que minha teoria sobre a evolução de uma família a cada geração se mostra eficiente. A abertura do Shangay Sushi Lounge me surpreendeu. O lugar é criação dos mais novos da dinastia Shangay. Sushis e sashimis feitos na hora, salmão, shitake, polvo… Alguns pratos herdados dos estabelecimentos da família quebram o galho daquele seu amigo enjoado que não come as delícias orientais mais roots. Os sushis são excelentes, taco a taco com os da antiga Gohan, feitos pela Tereza há alguns anos, e, é claro, dão de relho nos da Luna Inti e do Shangay convencional.

Em um restaurante desse tipo, o cuidado com a qualidade da matéria-prima é muito mais crítico. Não há espaço para um mínimo deslize. Nas quatro vezes que já fui, nada me decepcionou – a exceção do peruano ceviche, salgado demais, talvez por estar no fim do prato do qual servi. Mas foi só. Preciso provar novamente. Os garçons são muito atenciosos e simpáticos.

Com toda essa qualidade, o preço não é baixo, mas é justo. Já no Shangay original, o preço não é tão alto, mas é caro.

Restaurantes de Pelotas: Creperie

Foto meramente ilustrativa catada da Internet

Adendo (12/maio/2015): escrevi este post há muitos anos. Eu ou a casa mudou. Torço para que tenha sido eu (se tiver sido para melhor). O fato é que os crepes estão novamente deliciosos, os sorvetes artesanais são divinos e, às terças-feiras, servem também hambúrgueres perfeitos, com pão feito no local. Recomendo a visita!

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Sou péssimo com datas. Chutaria uns 10 anos de idade. Vi a criação da Creperie, na Anchieta entre Bento e Argolo, com os fundadores Schaun (Luiz) e Ana. Eu e meus amigos chegávamos a ir 2, 3 vezes por semana. Drinks sensacionais, massa perfeita, recheios saborosos. Tive o agrado de ver no cardápio um coquetel sugerido por mim, que misturava vodka, leite condensado e suco de laranja. Estava lá: “EFS dos Cuca” (traduzindo: “Essa Foi Sugestão do Cuca”). Bebidas e comidas, tudo feito com muito tesão e dedicação. Mudaram-se para a Gonçalves, em frente ao Diamantinos, mantendo o mesmo padrão. Só que é aquilo: restaurante é pra quem nasceu pro negócio — Schaun e Ana cansaram da rotina exaustiva. Antes de abrir mão da qualidade, resolveram vendê-lo.

Depois da troca de dono, foi para onde é até hoje, na Avenida, em um espaço mais caprichado e bem decorado. Porém, o crepe nunca mais foi o mesmo. A primeira mudança perceptível foi na massa. Ficou mais fina e crocante, o que, por si só poderia ser até uma vantagem, não fosse pela também alteração dos recheios, a começar pelo meu preferido. O de chili, pasmem, parece ter tido o ingrediente principal (o chili: pimenta) suprimido. No geral, todos os recheios salgados caíram no problema que restaurantes sem personalidade cometem (e aí, chuto de novo o motivo): no anseio de agradarem a todos os clientes, reduzem o sal — porque uns clientes têm pressão alta —, os temperos – porque alguns levam as crianças e, não sei de onde tiraram que os mais jovens devem comer comida sem graça —, a pimenta – porque outros foram criados pela avó e a coisa mais forte que comeram na vida foi molho de mostarda à base de milho — e acabam não agradando ninguém. Insípidos, inodoros e incolores.

Já fui umas dez vezes no endereço atual e, a cada uma, parece que o problema se agrava. Na última, que motivou este post, além da falta de sabor, a massa veio a um passo de estar queimada, em pelo menos dois dos pedidos de nossa mesa. Pô! Errou a massa? Joga fora e faz outra. Não deve ter nada mais barato do que uma massa de crepe.

Fora as especialidades que dão nome à casa, e disponíveis apenas à noite, ao meio-dia servem um almoço executivo em um nível acima dos crepes. Comida honesta, limpa e saborosa. Difícil de entender a disparidade. Uma pena, pois eu preferia que fosse ao contrário, afinal, crepes não tem em tudo que é lugar mas buffet da balança, sim. E é claro que quando falo em “crepe” não me refiro às aberrações que vendem em carrocinhas e chamam “suíSSos”.

Pode Conter Traços de Lactose

Minha filha tem intolerância à lactose. Descobrimos há uns 2 meses. Estamos no período de desintoxicação para, depois, verificar qual o limite exato dela para laticíneos. É a “doença da moda”. Uma infinidade de gente com problemas digestivos crônicos, nunca antes diagnosticados, estão sendo enquadradas como deficientes na produção de lactase (enzima de nosso corpo que processa a lactose — é como a insulina para o açúcar).

Além dos alimentos óbvios que estão na lista negra, como iogurte, queijo, manteiga e o próprio leite, outros que nem imaginamos precisam ser verificados. A visita ao supermercado agora leva três vezes mais tempo, pois tenho que ler a listagem de ingredientes de todas as embalagens. Todas as maioneses industriais que encontrei têm ácido lático. A maioria das margarinas também. Pães de sanduíche tem soro de leite. Os mais variados tipos de biscoitos idem. Até os de água e sal têm. A marca Zezé (www.zeze.com.br) é uma das poucas, senão a única, em matéria de biscoito, própria para quem sofre desse mal.

O mais ridículo é quando encontramos a inscrição “pode conter traços de lactose”. A afirmação indica que o alimento foi processado por uma indústria que manipula leite no mesmo espaço ou no mesmo “tacho” em que o produto em questão. Além da informação imprecisa, pra mim, é o mesmo que dizer “não temos condições higiênicas de limparmos com eficiência nossos equipamentos ou de lavarmos nossas mãos e só não colocamos a inscrição ‘pode conter traços de asas de moscas, antenas de baratas e cocô de morcego’ porque a Anvisa não exige”.

E aí? Você prefere ingerir traços de urina de rato ou de lactose?

O micro-ondas explodiu meu ovo

Imagem meramente ilustrativa

Mesmo quem não gosta de ler manuais de aparelhos eletrônicos sabe que não se coloca ovos no micro-ondas. As moléculas de água expandem e fazem o alimento hermético explodir. Eu também sei e, por isso, nunca experimentei, a não ser com ovos mexidos. Mas outro dia me deu aquela coceirinha. Eu sou o tipo de pessoa que não aguenta ver uma espinha sem cutucar, uma picada de mosquito sem fazer fendas em cruz e em “X” com a unha, uma casquinha de ferida sem arrancar, uma cutícula esfarrapada sem morder. Sim, sou do tipo ansioso.

Cozinhei três ovos, de forma convencional, no fogão. Apressado, retirei da água antes de ficarem completamente duros. Precisava com a gema bem cozida. Como já tinha descascado, tive uma brilhante ideia: “Trinta segundinhos de micro-ondas não serão suficientes para causar qualquer dano”. Ousei. “Pi, pi, pi, pi.” Deu certo! Não explodiram! Mas ainda não estavam no ponto que queria. “Só mais trinta não dá nada.” Quando faltavam apenas 5 segundos — “puuuff” — um foi pelos ares, ou melhor, por dentro do forno. “Imbecil!” Retirei com cuidado. Quando larguei sobre a mesa, o segundo se destruiu sujando toda a cozinha. Ainda bem que não estava mole, o estrago seria maior. Sobrou um. Como uma espinha, uma picada de mosquito, uma casquinha de ferida, uma cutícula rebelde, aquele ovo latejante me chamava. Peguei uma faca e espetei.

“Puuuuuuuuuuuufffffffff”.

Saldo: ovos espalhados pelas paredes e um dedo queimado.

Camarão a Thermidor

Fui incumbido a fazer um Camarão a Thermidor para a família de minha esposa. O prato não combina muito com o calor que faz em Palmas, mas nada que uma piscina não resolva imediatamente e que uma caminhada de 1 hora não resolva a longo prazo. A receita que eu faço, não sei se é a original (aliás, tenho certeza que não é), pois é uma mistura do melhor que achei em várias fontes. Fez tanto sucesso com o pessoal que pediram para eu deixar a receita. Escrevi uma versão cheia de gracinhas e deixei no desktop do meu sogro. Para não correr o risco de algum desavisado deletar e para deixar o registro para a história, publico aqui.

CAMARÃO A THERMIDOR (do Cuca)

Ingredientes para o molho:
– 1 cebola média
– 3 colheres (sopa) de farinha de trigo
– 50g de manteiga
– 200g de queijo gruyère
– 1 copo de nata fresca
– 2 copos de leite
– 1 copo pequeno de champignon
– 4 gemas de ovo
– noz-moscada
– sal
– pimenta-do-reino

Ingredientes para o camarão:
– 1kg de camarão (quanto maior, melhor)
– conhaque para flambar
– alho
– sal
– 3 limões
– pimenta-do-reino
– 50g de manteiga

Modo de fazer (molho):
Frite a cebola na manteiga. Coloque as colheres de farinha e misture. Vá adicionando o leite vagarozamente para não empelotar, mexendo sempre e raspando a colher no fundo para não grudar. Parta o queijo em pedaços pequenos e misture até derreter. Adicione as gemas ao poucos, mexendo vigorosamente para dissolver bem. Coloque a nata fresca, tempere com noz-moscada, pimenta-do-reino e sal. O ponto certo é até a farinha estar cozida. Adicione o champignon só no final.
Obs.: jamais engrosse com maizena – não trata-se de um mingau. Se necessário, para afinar o ponto, use mais leite para dissolver ou mais farinha para engrossar.

Modo de fazer (camarão):
Tempere o camarão com limão, alho, sal e a pimenta-do-reino. Deixe marinando por cerca de uma hora (ou, se não der, apenas pelo tempo de fazer o molho acima) e escorra bem. Consiga no vizinho uma frigideira muito grande, de laterais não-verticais. Com ela muito – mas muito – quente (de preferência no fogareiro do vô), frite os camarões de pouco em pouco com o auxílio de pouca manteiga de cada vez. 20 a 30 segundo de cada lado é o suficiente. Adicione cerca de duas colheres (sopa) de conhaque e flambe (deite a frigideira para que as chamas do fogareiro inflamem o conhaque). Retire do fogo e reserve. Repita o processo até finalizar com o camarão. Obs.: o camarão deve fritar e não cozinhar, portanto a temperatura elevada da frigideira é essencial; para fritar 1kg do crustáceo será necessário, no mínimo, dividir em 5 fritadas – assim não criará muita água, o que atrapalharia também o flambar.

Montagem:
Em uma forma refratária, misture o camarão e o molho branco. Se desejar cubra com queijo parmesão ralado. Leve ao forno pré-aquecido até dourar a superfície, ou se o povo estiver com muita fome e sono, até começar a borbulhar.

Sirva arroz para acompanhar.
Dá pra 4 pessoas.

Restaurantes de Palmas – Açaí.Com e Espetinho Pôr-do-Sol

Não se tratam, especificamente, de restaurantes. São como bares, só que um pouco mais incrementados em termos gastronômicos.

No Açaí.Com, o primeiro contato do garçom foi para se desculpar pela demora, justificando com a falta ao trabalho de dois colegas. E o queco? Odeio esse tipo de argumento, quando o cara tá mais preocupado em livrar a cara do que tentar resolver o problema; como se eu fosse culpá-lo pessoalmente por isso. Ele quer que eu tenha raiva do vagabundo que ficou em casa e livre a barra dele? Tô nem aí. Fico indignado é com o chefe que não consegue ter uma equipe que preste, nem para comparecer ao trabalho nem treinada o suficiente para se comunicar com o cliente.

Apesar do nome do lugar, servem também crepes e panquecas. “Qual a diferença da massa do crepe e da panqueca?”, perguntei. “Ã… Assim… É… No caso… É a mesma massa, só que diferente.” Entendeu? Nem eu. “É que uma é crepe e a outra é panqueca.” Lhufas. Continuei na mesma. Acho que ele quis dizer que era a mesma massa, porém apresentada de forma diferente no prato. Pela foto do cardápio o crepe era aquadradado e a panqueca enrolada da forma tradicional.

Pedi um crepe Açaí.Com. Aprendi que, na dúvida, devemos pedir sempre o que a casa indica. Tratava-se de frango com catupiry e palmito. Muito bom por sinal, exceto pelo exagero de recheio. O troço é grande demais, com muito, mas muito queijo. Não consegui comer todo. Havia acabado de dividir com minha mulher uma tigela de açaí com outras frutas e granola. Gelado! Esse sim, extremamente gostoso. A primeira vez que provei açaí foi na forma de suco em Porto Alegre. Achei uma merda. Tinha gosto de terra. Depois comi outro excelente em Bombinhas, SC. Mas o do Açaí.Com, de Palmas, superou. Ameacei minha esposa de tomar um Tribomba, mas ela me lembrou que estamos dormindo com nossas duas filhas no mesmo quarto (veja foto).

Bebidinha energética servida no Açaí.Com

 

O Espetinho Pôr-do-Sol serve, claro, espetinhos, além de caldos, como especialidades. Tomei um caldo de carne de sol com mandioca. Bom mas nada demais. Acompanhavam 3 fatias de pão – que combinariam melhor se semitorradas -, queijo “mussarela” em tiras – bem melhor se fosse um parmesão ralado – e um potinho de coentro, que achando ser salsa virei inteiro dentro do caldo. Na primeira colherada percebi a cagada e retirei tudo que consegui. Não tenho nada contra coentro, exceto em excesso (pô, que bonita essa sequência de XC: “exceto em excesso”). Já não é a primeira vez que percebo o uso além do normal de coentro por aqui. Achei que fosse apenas gosto local. Mas descobri que há uma dificuldade em achar salsa para vender em Palmas. De acordo com a origem dos donos do estabelecimento – paranaenses – deduzi que o coentro não estava ali por ser um hábito palmense, mas em substituição à salsa.

Um dos espetinhos era de kafta. Perguntei se era feito de carne de ovelha, como estou acostumado a comer a iguaria libanesa. O garçom disse que não e pedi para explicar do que se tratava. “É que é carne de boi bem condimentada, com temperos fortes, tipo da Índia.” Atrás dele, a TV ligada na novela das 8 exibia o Taj Mahal. Fico com o kafta do Kibe Sphirra de Pelotas. Bem melhor.

Restaurantes de Palmas – Pizzaria Dom Vergílio

Estou de férias. Estou em Palmas, Tocantins. Pra quem não sabe, é uma cidade planejada, com menos de 20 anos de fundação, e que está em franco crescimento. É capital do estado e atrai imigrantes de todo o Brasil. Mais de 50% é maranhense. Chamam de “gaúcho” qualquer um que venha de São Paulo pra baixo.

(clique para ampliar)

Dom Vergílio é uma pizzaria grande, cujo dono é gaúcho. Ele fez questão de trazer toda mão-de-obra do Sul. Aliás, material humano de qualidade é o que há de mais escasso por aqui. Quem faz meia-boca é dono do pedaço. Quem faz direitinho, enriquece. Já é minha terceira vez na Dom Vergílio. Voltei porque gostei. O local é feito para faturar alto, com giro rápido de clientes. Creio que atenda, simultaneamente, a umas 150 pessoas. A organização do atendimento é exemplar, dividida em recepcionistas, tiradores de pedidos, garçons que trazem as pizzas e outros as bebidas. Nossa solicitação é anotada em um PDA e, antes mesmo de finalizada, as bebidas já estão chegando. Informatização que reduz falhas, agiliza o processo e faz as eventuais filas na porta andarem rápido. Há de se faturar.

As pizzas são muito boas, tirando algumas atrocidades do vasto cardápio, como a de strogonoff, coberta de batata palha. Tem quem peça. Os ingredientes são de ótima qualidade. O sabor 6 Queijos traz realmente 6 tipos dos bons, nem precisava tanto; poderiam, ser só 4. A massa é deliciosa e fina, mas dá pra reduzir. Raro, os tomates secos são fartos. Os tamanhos oferecidos são “médio”, “grande” e “big”. Não me pergunte qual a diferença entre o “grande” e o “big”. Talvez o “big” venha com catchup. Não deveria ser “bigger”, ou simplesmente “maior”, “súper”, “família”?. Acho que é para não oferecerem um tamanho “pequeno”. O dono deve ter lido algum livrinho do Sebrae.

Chamei o o tirador de pedidos (o cara com o PDA) e perguntei que sucos tinham. “Todos, menos de maracujá.” “Uau! Como assim ‘todos’?” Secamente, “todos”. Perguntei, “inclusive de uva?”.

Lembrei-me de um episódio engraçado. Certa vez, em Recife, em um daqueles resorts 5 estrelas – não sei como fui parar lá e não tenho a mínima previsão de regressar – perguntei sobre sucos. A resposta foi a mesma, “todos”. Pedi um de uva. O garçom todo atencioso e desapontado, começou a balançar a cabeça lenta e negativamente. Desistiu no meio e decidiu resolver meu problema: “podemos providenciar para o senhor”. “Natural?”, perguntei. “Sem dúvida”. Me senti um rei, até chegar o copo. Colocaram os cachos no liquidificador e serviram uma gosma verde, com fragmento de sementes e galhos. Eu deveria imaginar que um suco de uva improvisado não seria feito do modo lento e tradicional, fervendo a fruta, filtrando com um pano, etc. Palmas não é no Nordeste, mas visualizei que com tantas frutas diferentes, uva deveria ser pouco popular também por aqui, na região Norte. Engano.

“Uva?”, já anotando meu desejo. “Não, obrigado. Era só para testar. Traz um de limão mesmo. Sem açúcar.” “Limonada tradicional ou suiça?”. Mas, ah! O cara tava falando sério mesmo quando disse “todos”. Depois de servido, resolvi tirar a prova derradeira: “amigo, tem de carambola?” “Só um minuto que vou verificar, senhor.” Não voltou mais. Achei um cardápio para confeerir. Não tinha. Ah, também não são tantos assim. São só 23 naturais.

Light Shake Dream Week Com Colágeno

O cara que inventou este produto é um gênio. Talvez a sacada a que me refiro faça parte do beabá do marketing, mas confesso ignorar. Pelo menos de forma tão coesa como essa – e em um produto, não em promoção ou comunicação. O Light Shake Dream Week com Colágeno promete, com baixas calorias, suprir as necessidades nutricionais de uma (geralmente, é uma) das refeições diárias de quem quer perder peso. Está cheio de produtos assim no mercado, todo mundo sabe, inclusive usando este argumente “week”, como se em uma semana tudo estivesse resolvido. Mas meu ponto não é esse. O golpe de mestre é o colágeno. A inclusão dessa proteína, essencial para a manutenção da pele, certamente leva o shake a outro patamar de produto. O maketing da companhia, sacando que as pessoas sempre desconfiam dessas fórmulas milagrosas de emagrecimento, foi além. Quem vai duvidar da eficácia de emagrecimento de uma marca que se preocupa com a pele flácida que o consumidor ficará após inserí-la em sua dieta? Ao invés de dizer “você vai emagrecer”, é como se dissessem “quando você emagrecer…”. Com isso, pula-se a etapa do questionamento sobre a principal e mais polêmica função. Atesta-se o resultado da perda de peso sem sequer discutir-se sobre ela. É muito difícil criar esse segundo argumento de forma tão séria, científica e implacável. Tentei exercitar minha imaginação e só cheguei a exemplos cheios de humor e sem muita credibilidade:

– um tênis para corridas que “de tão eficiente” vem com minianilhas de peso para você dosar o lastro extra necessário para mantê-lo no chão;
– uma ração que promete saúde inabalável para cachorros, com extrato de camomila em sua fórmula, para que compense a extrema alegria e hiperatividade que os bichinhos ganharão – ninguém suportaria um animal tão feliz e chato;
– uma faca tão afiada que sua bainha com código eletrônico para ser retirada, de forma a proteger crianças mexeriqueiras.

Tá, fui péssimo. Mas deu pra entender o recado. O primeiro atributo é tão eficiente que precisa de um segundo para compensá-lo. Palmas ao Light Shake Dream Week Com Colágeno.

Restaurantes de Pelotas – Open Brasil

O novo empreendimento gastronômico de Pelotas é de grande estilo. Dizem que foi gasto R$ 1 milhão entre compra do imóvel, reforma, equipamentos e decoração. Eu acredito. Ficou muito agradável e bonito. Esperei uns dois meses para conhecer. Nenhum dos meus amigos que foram nos primeiros dias tiveram boas impressões. Fui tirar a prova. A noite estava quente, mas a promessa de ambiente climatizado nos fez apostar no programa.

Éramos oito. Chegamos cedo e estava vazio. A dificuldade em nos acomodarem foi grande. Três garçons, feito moscas tontas, girando mesas e cadeiras de um lado para o outro. Coisa que apenas uma pessoa um pouco mais bem resolvida solucionaria em 30 segundos. Levamos de 5 a 10 minutos para sentar, sem exageros. Depois, solicitamos que ligassem o ar-condicionado, pois estava apenas ventilando, mesmo com o calor infernal. Ninguém sabia como manusear o aparelho. Diziam que estava funcionando corretamente, mas só saía vento-chuchu, daquele nem frio nem quente, nem bom nem ruim. Um led vermelho (convenção cromática internacional que indica negatividade) estava aceso. Mostrei para a gerente e até para o dono do lugar que juntavam-se aos 3 garçons. Estava aberto o “I Fórum Pelotense de Acionamento de Condicionadores de Ar Split Comprados em Rio Branco“. Não conseguiram. Mudamos de mesa para outra mais bem posicionada com relação a um dos aparelhos. Corta para o meio da refeição: começam a cair pingos sobre a gente. Dono, gerente e garçons mobilizam-se para o “II Fórum Pelotense…”. Tudo resolvido com o bom e velho balde.

O cardápio é bem interessante, conciso, objetivo e apetitoso, mas algumas tentativas de mostrarem um conhecimento que não têm fica evidente em alguns itens. É o caso de uma batata recheada afrancesada que é chamada de “pom me de ter re” assim mesmo, com espaços, como quem copia o significado de “batata” de um dicionário de francês usando a notação da separação silábica. Alguém explica? Certamente os atendentes não.

Fizemos os pedidos. A garçonete anotou. Depois de pronta a comida e de servir a todos, veio reperguntar o que cada um havia solicitado para marcar na comanda. Parece que os investimentos realizados não contemplaram um sistema de informação simples para gerenciamento de restaurantes ou um básico treinamento do pessoal.

A comida estava excelente, muito bem apresentada, com exceção do meu entrecot que estava passado demais; seco. Lembrei-me que não questionaram sobre qual o ponto de meu agrado. Quando não se pergunta, o certo seria vir mal-passado, por dois motivos: ser a forma mais indicada de preparo e permitir a correção do cozimento caso solicitada pelo cliente.

Quando pedimos mais uma cerveja, a garçonete fez uma cara de enjoada dizendo que não era com ela, mas aceitou a solicitação. Nas formas modernas de administrar restaurantes, cada garçon tem uma função: uns são verdadeiros vendedores, apresentam os pratos, discorrem sobre eles e recebem os pedidos; outros apenas trazem a comida, especalizando-se em técnicas específicas de servir cada tipo de prato. Tudo bem. Não tenho problemas quanto a isso, aliás sou adepto do sistema. Porém, o cliente não precisa decorar quem faz o quê. Mas no caso do meu pedido no Open Brasil, adivinhe se veio a cerveja. Catei-a novamente e reclamei da demora. Ela disse “é que isso não é comigo”. Eu não encontrava outro garçon, principalmente com cara de “estou aceitando pedidos para antes do Natal”. Dois deles conversavam na rua, enquanto a demanda por serviço do lado de dentro era grande. Quando consegui falar com um, não veio a cerveja de novo.

Enquanto isso, o dono do lugar, ocupando uma das mesas do salão já lotado, desfazia um pacote com volume aproximado de 30 litros que parecia ter chegado pelos Correios. Papel para um lado e papel para o outro. Para mim, naquele momento, ficou claro de quem era a culpa pelo mau atendimento da equipe. Lidar com o público exige um semancol altíssimo que poucos possuem.

Palmas para o petit gateau, muitíssimo bem feito.

Conclusão: restaurante é para profissionais, no sentido mais amplo do termo. Aventurar-se em algo dessa envergadura sem conhecimento profundo ou algum tipo de experiência anterior é o primeiro indício de maus resultados. As pessoas comentam umas com as outras. Enquanto é novidade, o movimento de curiosos parece bom, mas a maioria não volta. Planejo regressar daqui uns 6 meses torcendo para que tenham havido mudanças e aprendizados. Investimentos assim não podem ser jogados fora.

Restaurantes de Pelotas – Aki na Praia

Dando sequencia à série sobre situações curiosas em restaurantes de Pelotas, é a vez de outro campeão: o Aki na Praia (do Laranjal). Pra quem não conhece, é uma parillada com dono castellano que serve também pizza uruguaia – daquelas que predominam em nossa cidade: massa grossíssima de pão com a cobertura geralmente embebida em um cataplasma de queijo farinhento, daqueles que se compra de balde em macroatacados. Alguns – acreditem – dão nome a isso de catupiry ou de cheddar, quando tem um corante alaranjado misturado à farinha. Mas o forte da casa são as carnes, com destaque para molleja, sempre perfeita e no ponto, e para o “entrecot au poivre vert” (em francês “à pimenta verde”) que os garçons ignoram a pronúncia correta e, provavelmente, o significado do nome do prato. Dizem que o propietário era fotógrafo da National Geographic e que abandonou a profissão de muitas viagens para ganhar qualidade de vida. É a lenda do lugar. Cada um que se preze tem a sua.

Há uns 3 anos em um novo ambiente mais amplo e agradável, conta até com um miniplayground interno, que é bastante útil para quem tem crianças e mesmo para quem não tem e deseja não ser importunando pelas dos outros. Mas é aí que começa a ficar engraçado: o espaço infantil fica dentro da ala de fumantes.

Uma vez, ainda na sede antiga, minha mãe, desgostosa com o grau de higiene das toalhas, perguntou se não as trocavam nunca. Prontamente, o garçon respondeu que tinham apenas um jogo de mesa, mas que lavavam de 15 em 15 dias, com tom de voz como se a providência fosse um exagero de assiedade.

Em outra ocasião, as azeitonas que acompanhavam o prato estavam mofadas. O atendente, com grande naturalidade e convicção argumentativa, defendeu-se alegando que haviam comprado um pote muito grande e era preciso acabá-lo antes de renovar o estoque.

Certo sábado, com movimento bombando, a dificuldade em sermos atendidos era tanta que resolvemos usar o celular e ligar para a tele-entrega do próprio local de modo a pedir a conta. Graças a Deus, fomos liberados da taxa de entrega. Outro lugar para ir de bom humor.

Para acabar o relato com críticas mais positivas ao Aki na Praia, deixo meus cumprimentos pelos simpáticos garçons e pelas panquecas de doce de leite (Conaprole). Não dá para comer a porção sozinho, devido à grande quantidade de açúcar, mas são fenomenais – guarde espaço para elas e peça junto com um copo d’água.