O Show de Roberto Carlos em Pelotas

20130414-232350.jpgRoberto Carlos esteve neste sábado, 13, com seu show em Pelotas. A princípio, o fato de ter passado parte da minha infância escutando três de seus discos não era suficiente para me fazer querer ir ao show. Admiro apenas suas composições antigas e acho que o formato espetáculo, que apresenta nas últimas décadas, um tanto quanto pasteurizado, com seus pout-porris dez-em-um-essa-nao-pode-faltar. Porém, ganhei ingressos de cortesia da RBS TV, que estava promovendo o evento. Foi o que fez eu mudar de ideia rapidinho.

Apesar de uma pequena confusão na entrada — nosso portão estava indicado de forma errada no ingresso — todo restante da organização foi impecável. A estrutura é como a de um grande festival internacional, senão melhor — pelo menos mais eficiente e profissional. Afinal, Roberto Carlos vem realizando turnês desse tipo há bastante tempo, construindo um know-how inevejável em sua equipe. A meia hora de atraso em sua pontualidade habitual, creio que foi ocasionada pelas filas que ainda havia no estádio do Esporte Clube Pelotas.

A primeira impressão ao iniciar o show foi o volume — muito abaixo do comum, não só em concertos de rock, mas em qualquer outro, mesmo em teatros. Tecnicamente, volume não precisa ser alto para ser bom e, depois de duas ou três canções, o operador de áudio provou isso. O segredo de toda boa mixagem, seja ao vivo ou em gravações, é colocar cada instrumento em sua frequência correta. Assim, um não se sobrepõe ao outro, permitindo que tudo seja escutado com perfeição. Quanto maior a quantidade de instrumentos, mais complicada é esta tarefa e mais restrita fica a faixa de frequência de cada um. Porém, no show de ontem, o espaço do espectro em que a voz de Roberto Carlos estava, parecia ter um buraco de segurança abismal só pra ela. Imagine que você tem 40 carros para estacionar em 40 vagas, mas ao invés de colocar um em cada uma, coloca 39 socados em 30 vagas para que um deles (a voz de Roberto) fique com dez vagas só pra ele. Estava assim. Acho que isso prejudicou bastante a percepção de muitas nuanças de alguns instrumentos, porém, a voz do protagonista (que é o que 99,9% das pessoas foi pra ouvir) estava perfeitamente inteligível. Ainda sobre o som baixo, isso também permitiu que, no silêncio reverencial que se instaurava, pudesse-se ouvir perfeitamente, em todo estádio, qualquer expressão mais acalorada de algum fã. Diversos foram os momentos em que todo o estádio riu de alguma declaração de amor vinda da plateia. Em alguns momentos, chegava a ser chato.

Deixando a parte técnica de lado, vamos as percepções emocionais. Entendi por que, nos especiais da Globo, o público composto de atores, diretores e convidados, fica sempre com aquela cara de babaca, como se estivessem hipnotizados. É porque, sim, todo mundo se comporta dessa forma na presença desse ícone da música brasileira. Eu estava assim. Roberto Carlos é mítico, carismático, simbólico, histórico e algumas outras proparoxítonas que não me ocorrem agora. Estar em sua presença é enxergar perfeitamente o GPS que a música popular nacional usou, em sua fase áurea, para percorrer seu caminho. Sem falar na importância emocional que suas composições nos trazem.

Alguns recalcados falam que Roberto Carlos não tem uma grande voz. Se falarem em potência vocal, certamente estão certos. Mas o Rei canta muito bem, não desafina nunca (nem chega perto disso) e sabe, como quase ninguém, o que tem que fazer para suas letras e melodias rasgarem nossos sentidos como uma faca. Pra mim, isso é ser um grande cantor.

Os pontos altos do show foram duas canções menos óbvias (houve poucas, por sinal): “Desabafo” e “Cama e Mesa”. Os momentos em que ele conversou e contou histórias de sua vida, também fizeram os presentes esboçarem sorrisos de satisfação. Senti falta de “Curvas da Estrada de Santos” e “Todos Estão Surdos”, mas esta ele não ia tocar mesmo.

Acabou com a tradicional distribuição de rosas ao som de “Jesus Cristo”. O fato estranho nessa parte é que as primeiras (mais ou menos) dez flores, Roberto beija e deixa sobre o piano. As seguintes, só leva à boca, sem fazer nem biquinho, e atira às moças e senhoras que, a essa hora, já estão se esbofeteando em frente ao palco.

Fiquei feliz em ter ido. Eu precisa desta experiência. Foi um grande show, com grandes músicos e produção, de um grande nome da música popular brasileira.

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