As Sinaleiras de Paris

— Pai.
— Fala, filha.
— Por que a sinaleira das pessoas fecha bem antes de abrir a dos carros?
— Ah! É mesmo! Quer saber por quê?
— Quero.
— É assim: é que tem que dar tempo para a pessoa, que começou a atravessar bem no momento que fechou, conseguir chegar ao outro lado sem que abra para os carros.
— Hmm! Mas eu cheguei no outro lado e a dos carros continuou fechada por muito tempo.
— Ah, mas é que nem todas as pessoas são tão rápidas quanto uma menina ágil e saudável como tu.
— Ai, pai!
— Então, eles medem com uma pessoa mais lenta.
— Que pessoa?
— Quer saber mesmo?
— Quero! Quero, pai!
— Olha, aqui em Paris, a prefeitura tem três velhinhas, com cerca de 90 anos. Elas têm escoliose, osteoporose e calo no pé. São as criaturas mais lentas que se tem notícia.
— Poxa!
— E elas usam bengala.
— Claro, né? Com tanta doença!
— Aí, todo dia de manhã, eles largam as velhinhas em um ponto da cidade para caminharem aleatoriamente.
— Coitadinhas.
— Elas levam um GPS na bolsa, como o do celular do pai, só que é um próprio para isso. Aí, esse aparelho sabe direitinho em qual esquina elas estão e marca o tempo que levam para atravessar cada rua.
— Nossa! Que massa!
— Está incluído o tempo que elas param e se coçam no meio da faixa de pedestres. Porque velhinha sempre se coça um pouquinho, né?
— É mesmo!
— No final do dia, a prefeitura recolhe as três velhinhas, pega seus aparelhos e transmite as informações para um computador.
— Show!
— Ele controla o tempo de todas as sinaleiras de Paris.
— E as velhinhas não ficam cansadas?
— Ficam. Claro. Às vezes algumas até morrem trabalhando.
— Sério?
— Sério. Por isso, eles estão sempre convocando outras velhinhas para este serviço.
— Puxa, pai. Tu sabe tudo mesmo, hein?
— Quase tudo. Quase tudo.