Fazuele seu bolsominion!

Aconteceu no post de uma pequena celebridade, depois que alguém comentou algo ofensivo e um fã tomou as dores.
— Cara, você não pode vir aqui no post dele dizer que ele não conhece o que está falando!
— Tá bem. Concordo!
— Como assim, “concorda”? Você chega aqui, cheio de si, joga um monte de merda e depois diz que concorda?
— Pois é, mas eu concordo com você.
— Se você concorda por que disse que ele não sabe o que está falando?
— Você está certo. Me arrependi.
— Então tá… Vê se aprende!
— 👍
— Tem certeza que não quer discutir?
— Cara, tenho. Você me fez ver que eu estava errado. Não tenho mais o que discutir.
— Mas aí vai acabar assim?
— Como você queria que acabasse?
— Sei lá… Você poderia me chamar de bolsominion, dizer “fazuele” ou algo assim…
— Mas por que eu falaria isso?
— Porque é isso que as pessoas falam.
— Não, pra mim tá bom assim.
— Cara, você é muito chato.
— Já ouvi isso.
— VTC!
— Tá bem.
— Porra, meu!
— Boa noite.
— … Boa noite.

O Clube Secreto

Imagine que você abre um negócio. É um clube secreto. Ele tem sede em um prédio preto, com a porta preta, com placa preta sem letras. Pessoas se associam, e apesar de terem fornecido seus dados, as carteirinhas de acesso que recebem não contêm nenhuma identificação. Quando entram no clube, se tornam anônimos. Não há luz no interior e o porteiro encapuzado entrega a elas uma máscara após suas carteirinhas de acesso serem liberadas na catraca. Lanternas e velas são proibidas lá dentro.

Os membros tateiam as paredes e conseguem saber o que está escrito nas portas das salas internas, e escolhem uma para ingressar. No interior, encontram pessoas também não identificadas. Elas só podem falar e ouvir. Não veem nada. Mas conseguem criar novas amizades com outros que, como elas, estão interessados na proposta de assunto da sala.

Em determinado dia, acontece um crime na cidade, e o criminoso é pego com uma carteirinha do clube secreto. As investigações descobrem que a ação foi planejada em uma de suas salas, e que, possivelmente, outros membros do clube são cúmplices e/ou membros da mesma quadrilha.

A Justiça expede um mandado de busca e apreensão na sede do clube secreto. Mas chegando lá os agentes da polícia são barrados pelo porteiro. Ele chama seu superior que diz que não pode permitir que a polícia ingresse no local, pois, afinal, se trata de um “clube secreto” e que entrar ali significaria ir contra o contrato de adesão de seus usuários, a liberdade de expressão e os “direitos humanos” que regem seu propósito.

A Justiça, então, determina multa diária elevada até que o dono do local ceda. Mas ele continua irredutível e argumenta que todo interior da casa é escuro e que não pode, nem se quisesse, acender as luzes, porque elas nem ao mesmo existem. E que há um aparato tecnológico que apaga imediatamente qualquer tipo de iluminação que adentre no espaço.

O que você acha que tem que acontecer com o Telegram e com todas as redes sociais que, não só se isentam da responsabilidade sobre o que acontece lá dentro, como criam meios para acobertar qualquer tipo de “privacidade” e “liberdade”?

Ah, você não confia na Justiça ou na Polícia? Mas confia no Clube Secreto e no que acontece lá dentro às escuras?

A cultura musical do Tik Tok

Volta e meia minha filhas estão cantando músicas antigas, da década de 60, 70, 80…Semana passada foi ABBA, ontem foi George Michael. Só pra citar as mais recentes.

Mas não se trata de um trabalho de pesquisa antropológica e cultural delas. É que algumas canções de décadas passadas viralizam no Tik Tok, sendo trilha sonora de vídeos replicados, trends e sei lá mais como chamam.

Acaba sendo uma ajuda para manter o repertório e o gosto musical das meninas fora da câmara de resistência cultural que é meu carro, onde quem manda no som que toca sou eu.

Mas quem diria, hein? — “Tik Tok”! Dando um forcinha lá em casa…

Outra constatação sobre esse resgate que a plataforma promove, e que enche meu coração de revanchismo, é que as pessoas vão acabar descobrindo de onde vêm as ideias de Bruno Mars pras suas músicas.

A Nova Era do Sei-lá-o-quê

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Então, o mercado está esquisito. A crise não é apenas econômica. A crise é de perspectiva de futuro do padrão vigente (já nem mais tão vigente assim). Mas o problema não é só se o mundo como conhecemos vai ou não deixar de existir: é que ninguém sabe para onde ele vai! Há pistas, mas são nebulosas. Ninguém tem mais certeza de nada.

Primeiro era assim: você produzia algo e colocava no mercado. Se as pessoas gostassem, compravam. Você fazia um pouco de publicidade, para apresentar seu produto a quem não o conhecesse, e aumentava seu horizonte de vendas. Algum tempo depois, passou-se a embalá-lo em um papel de presente “mais bonito”, ampliando a percepção de seu valor. A estratégia começou a ficar mais rebuscada, ardilosa, psicologicamente questionável. Era preciso criar imagens de produtos, nem sempre verdadeiras.

A concorrência começou a estabelecer níveis de qualidade (ou de percepção de qualidade) altíssimos — “quem não tem qualidade, não tem mercado”. Não bastava mais vender um sanduíche bom, você precisava oferecer um serviço bom, um ambiente bom, itens conexos bons, uma experiência de compra mais que boa — incrível!

Até que chegou a Internet. O consumidor começou a ter voz e as marcas começaram a perceber que esses consumidores eram pessoas. Sim! Se deram conta disso! Mas sabe como as pessoas são complexas, não? Pessoas são solitárias ou têm muitos amigos, são tristes ou são felizes — estão tristes ou estão felizes! —, são burras ou são inteligentes, estão com tempo ou estão sem tempo, gostam de amarelo ou odeiam amarelo; são complexas ou são complexas! Como atender a todos? Ao mesmo tempo, os consumidores começaram a exigir que as marcas também fossem pessoas. Tirando, claro, a parte da esquizofrenia.

Então, surgiram as mídias sociais e as pessoas-consumidores começaram a exigir que as marcas-pessoas conversassem com elas. Aí, além da qualidade, da experiência e da esquizofrenia, entrou em cena a transparência. Se você não for sincero, você está morto. Isso é bom, claro. Deveria ter sido sempre assim! Mas nunca foi. Talvez esta seja a única certeza que podemos assumir.

Paralelo ao crescimento dessas exigências cada vez maiores sobre as empresas, vêm as das pessoas sobre elas mesmas. Você quer dar a seu filho tudo que você não teve. Você não admite que ele não estude inglês, não exercite uma atividade artística, não pratique um esporte. Seu filho não pode sair na rua sozinho porque as coisas não são mais como eram na sua época. Então, você contrata seguro para o seu carro e para sua casa, plano de saúde porque o SUS não dá conta, uma escola particular, uma faculdade das boas, o melhor serviço de buffet para a formatura, com direito a banda, photo booth, whisky, cerveja, vinho, barman com drinks, DJ, sushiman, equipe de fotógrafos e, quando seu filho casar, é bom nem pensar, pois vai ser ainda pior. Cadê as festas de aniversário só com cachorrinho, guaraná e bolo? Não. Isso não é mais admissível.

Se você cobra isso tudo de você mesmo, o que exigirá das empresas e marcas que consome? Você quer mais, mais e mais! Mas tudo tem um preço. E você não quer pagar esta conta. Esse custo não pode mais ser tirado da qualidade, da matéria-prima, dos funcionários, da sede, do transporte, dos analistas de mídias sociais, do cara do marketing, da TI, do programa de formação e atualização dos colaboradores, da mesa de ping-pong, do videogame, da festa de final de ano e da supermáquina de café — afinal, os colaboradores precisam se sentir bem para produzirem. De onde tirar?

Neste ritmo, só sobrevivem os produtos de grande escala; de escala mundial. Como ser inovador no mercado local? Como competir? Até dá, mas com muita inovação. Só que logo alguém vai industrializar a sua ideia de produto ou serviço e torná-la mundial, através de uma fonte de recursos etérea, provinda de uma “nuvem” de investidores que irão exigir resultados.

Dizem que a revolução está só começando. Ainda estão para aparecer os grandes concorrentes dos líderes mundiais e aí eles vão precisar de novo de… Publicidade! Mas pense: o mundo não tem espaço para dois facebooks, dois ubers, dois googles, dois twitters, dois instagrams, dois whatsapps! Todos querem estar onde os demais também estão. Um sempre vem e mata o outro. Se o objeto não for levemente diferente, um sucumbe para que o outro viva. São os novos tempos, onde todos devemos ser um só.

A humanidade está ensaiando uma unificação filosófica, econômica, social… É certamente prematura, apesar de toda tentativa ser sempre válida e cheia de aprendizado. Certamente, ainda não estamos prontos. Precisamos antes de uma elevação espiritual. Ela pressupõe enxergar o mundo com outros olhos, outra ciência, outra matemática, outro modelo de criação e aculturação. Estamos longe disso. Por enquanto, ficamos dando cabeçadas na parede e chilique nas mídias sociais. É a nova era do sei-lá-o-quê.