A cura do câncer?

O texto a seguir não defende nem duvida dos efeitos da substância fosfoetalonamina nem de seus pesquisadores e detratores. O texto a seguir apenas clama para que se propiciem testes clínicos para serem submetidos à ANVISA. O texto a seguir apenas quer instigar o pensamento crítico frente ao um assunto do tipo que tende a ser calado pelo poder econômico e sua rede de interesses.
Vou repetir isso no final, para que fique bem claro.

 

Nas últimas semanas, a internet tem fervido a cerca de um estudo brasileiro de mais de 25 anos apontado por seus idealizadores e pacientes como, no mínimo, uma opção extremamente eficaz para tratamento do câncer e, no máximo, a cura definitiva da doença.

Os pesquisadores, liderados pelo já aposentado Prof. Dr. Gilberto Orivaldo Chierice, que atuava no Instituto de Química da USP São Carlos, finalmente estão conseguindo falar sobre os resultados publicamente, sem a parcialidade de interlocutores. Aconteceu em uma sessão conjunta das comissões de Ciência e Tecnologia e de Assuntos Sociais do Senado Federal. Foi transmitida ao vivo pela TV Senado, no dia 29 de outubro. Claro, já está no YouTube e é material obrigatório para quem quer se informar ou discutir sobre o assunto em qualquer esfera.

O evento no Congresso Nacional ouviu os pesquisadores, o Ministério da Saúde, a ANVISA e alguns pacientes convidados em relatos emocionados de resultados nunca antes vistos. São mais de 5 horas de falas. Eu vi tudo, com exceção dos momentos em que os senadores presentes começaram a manifestar sua solidariedade à causa, pois se tratam de depoimentos leigos em que nem sempre conseguimos extrair suas verdadeiras intenções. Como não sou da área da saúde, foi preciso rever muitos depoimentos para compreender melhor as entrelinhas e captar raciocínios que passaram despercebidos na primeira audição.

Me interesso muito por esses assuntos que brigam com interesses de megacorporações e que disputam notoriedade em nossa mídia quase sempre tendenciosa. Por isso, resolvi escrever este post, para tentar “resumir” e objetivar o conteúdo do vídeo. Mas recomendo a visualização do conteúdo integral.

Nota-se claramente nos depoimentos dos pesquisadores — apesar de sua ânsia por reconhecimento da substância fosfoetanolamina — um cuidado para não acusarem ninguém pelo travamento do processo de testes clínicos. Então, algumas informações não ficam muito claras quanto a isso. Eles se detiveram mais em demonstrar de forma científica os resultados alcançados até então.

SITUAÇÃO
— Havia uma parceria com o Hospital Amaral de Carvalho que foi cancelada pela instituição, em que estavam sendo realizados testes clínicos para as fases necessárias à aprovação da substância pela ANVISA, com resultados ditos incríveis. Ou seja, testes existiram. Eles apenas não conseguiram ser concluídos devido a falta de interesse das instituições.
— Os referidos pesquisadores não são médicos, então, não podem proceder aos testes clínicos por conta própria.
— A substância fosfoetanolamina age nas células anaeróbicas apenas. Ou seja, quem diz que existem muitos tipos de câncer e que não significa que a molécula não deve ter efeito sobre todos eles, segundo Dr. Gilberto, não entende nada de câncer ou não viu a explicação sobre este fato. Na referida sessão no Senado foi demonstrada a ação efetiva em diversos tipos da doença. Todos são formados por células anaeróbicas.
— Quem diz que os pesquisadores estão apenas buscando resultados financeiros com a descoberta também não ouviu que eles abrirão mão da patente caso o Governo Federal distribua o medicamento no SUS, para a população carente, após aprovação na ANVISA.
— A pesquisa, que já foi financiada pela FAPESP, CAPES e CNPQ, já foi publicada internacionalmente em dezenas de publicações cientificas, das mais renomadas, segundo os relatos.
— Liminares judiciais movidas por pacientes estão sendo emitidas à USP exigindo a fabricação da substância para tratamento. A USP não é indústria e, além disso, não tem condições de atender todas as liminares por uma questão física até, e não está bancando a produção. De tão barata que é a substância, os próprios pesquisadores a estão financiando para atenderem ao máximo possível as liminares de pacientes desesperados.

AFINAL DE CONTAS, O QUE DIZEM QUERER OS PESQUISADORES?
— Apoio do Governo para prosseguirem com os testes clínicos no Brasil, com investimentos públicos e sem intervenção internacional e de qualquer indústria farmacêutica, para garantirem a imparcialidade das decisões e eliminarem a maior parte dos conflitos de interesses.
— Apoio do Governo para desburocratizar o processo de aprovação da ANVISA. O presidente da ANVISA garantiu na sessão que, por praxe, o processo não leva mais de 180 dias e, por se tratar de “inovação radical” de iniciativa nacional, ainda pula na frente da fila de aprovações.
— Destinação de estatal de medicamentos para a produção da substância, mesmo ainda sem aprovação na ANVISA, apenas para atender às liminares concedidas a pacientes terminais, devidamente autorizados por seus médicos e por eles mesmos ou familiares.

Estamos diante de um assunto importante, aparentemente promissor. Eu não consigo admitir que a discussão se restrinja a “a ANVISA ainda não aprovou”, sem nos questionarmos nem o motivo de não estarem conseguindo submeter à Agência. É tão ingênuo acreditar piamente na eficácia da substância quanto fechar os olhos e deixar que as decisões se tomem nos bastidores obscuros dos jogos de interesses da indústria da saúde.

 

Aqui está a sessão do Senado, na íntegra.

Aqui você encontra uma carta de esclarecimento da USP São Carlos e perguntas frequentes sobre o assunto.

Aqui, a matéria do Fantástico feita pelo Dr. Drauzio Varella, alertando sobre o perigo de utilizar o medicamento.

E aqui, Drauzio, em seu canal próprio no YouTube, sendo bem mais sensato do que na matéria do Fantástico, após repercussão negativa que suas opiniões veiculadas na Globo tiveram.

 

Repetindo: o texto acima não defende nem duvida dos efeitos da substância fosfoetalonamina nem de seus pesquisadores. O texto acima apenas clama para que se propiciem testes clínicos para serem submetidos à ANVISA. O texto acima apenas quer instigar o pensamento crítico frente ao um assunto do tipo que tende a ser calado pelo poder econômico e sua rede de interesses.