Restaurantes de Pelotas – Open Brasil

O novo empreendimento gastronômico de Pelotas é de grande estilo. Dizem que foi gasto R$ 1 milhão entre compra do imóvel, reforma, equipamentos e decoração. Eu acredito. Ficou muito agradável e bonito. Esperei uns dois meses para conhecer. Nenhum dos meus amigos que foram nos primeiros dias tiveram boas impressões. Fui tirar a prova. A noite estava quente, mas a promessa de ambiente climatizado nos fez apostar no programa.

Éramos oito. Chegamos cedo e estava vazio. A dificuldade em nos acomodarem foi grande. Três garçons, feito moscas tontas, girando mesas e cadeiras de um lado para o outro. Coisa que apenas uma pessoa um pouco mais bem resolvida solucionaria em 30 segundos. Levamos de 5 a 10 minutos para sentar, sem exageros. Depois, solicitamos que ligassem o ar-condicionado, pois estava apenas ventilando, mesmo com o calor infernal. Ninguém sabia como manusear o aparelho. Diziam que estava funcionando corretamente, mas só saía vento-chuchu, daquele nem frio nem quente, nem bom nem ruim. Um led vermelho (convenção cromática internacional que indica negatividade) estava aceso. Mostrei para a gerente e até para o dono do lugar que juntavam-se aos 3 garçons. Estava aberto o “I Fórum Pelotense de Acionamento de Condicionadores de Ar Split Comprados em Rio Branco“. Não conseguiram. Mudamos de mesa para outra mais bem posicionada com relação a um dos aparelhos. Corta para o meio da refeição: começam a cair pingos sobre a gente. Dono, gerente e garçons mobilizam-se para o “II Fórum Pelotense…”. Tudo resolvido com o bom e velho balde.

O cardápio é bem interessante, conciso, objetivo e apetitoso, mas algumas tentativas de mostrarem um conhecimento que não têm fica evidente em alguns itens. É o caso de uma batata recheada afrancesada que é chamada de “pom me de ter re” assim mesmo, com espaços, como quem copia o significado de “batata” de um dicionário de francês usando a notação da separação silábica. Alguém explica? Certamente os atendentes não.

Fizemos os pedidos. A garçonete anotou. Depois de pronta a comida e de servir a todos, veio reperguntar o que cada um havia solicitado para marcar na comanda. Parece que os investimentos realizados não contemplaram um sistema de informação simples para gerenciamento de restaurantes ou um básico treinamento do pessoal.

A comida estava excelente, muito bem apresentada, com exceção do meu entrecot que estava passado demais; seco. Lembrei-me que não questionaram sobre qual o ponto de meu agrado. Quando não se pergunta, o certo seria vir mal-passado, por dois motivos: ser a forma mais indicada de preparo e permitir a correção do cozimento caso solicitada pelo cliente.

Quando pedimos mais uma cerveja, a garçonete fez uma cara de enjoada dizendo que não era com ela, mas aceitou a solicitação. Nas formas modernas de administrar restaurantes, cada garçon tem uma função: uns são verdadeiros vendedores, apresentam os pratos, discorrem sobre eles e recebem os pedidos; outros apenas trazem a comida, especalizando-se em técnicas específicas de servir cada tipo de prato. Tudo bem. Não tenho problemas quanto a isso, aliás sou adepto do sistema. Porém, o cliente não precisa decorar quem faz o quê. Mas no caso do meu pedido no Open Brasil, adivinhe se veio a cerveja. Catei-a novamente e reclamei da demora. Ela disse “é que isso não é comigo”. Eu não encontrava outro garçon, principalmente com cara de “estou aceitando pedidos para antes do Natal”. Dois deles conversavam na rua, enquanto a demanda por serviço do lado de dentro era grande. Quando consegui falar com um, não veio a cerveja de novo.

Enquanto isso, o dono do lugar, ocupando uma das mesas do salão já lotado, desfazia um pacote com volume aproximado de 30 litros que parecia ter chegado pelos Correios. Papel para um lado e papel para o outro. Para mim, naquele momento, ficou claro de quem era a culpa pelo mau atendimento da equipe. Lidar com o público exige um semancol altíssimo que poucos possuem.

Palmas para o petit gateau, muitíssimo bem feito.

Conclusão: restaurante é para profissionais, no sentido mais amplo do termo. Aventurar-se em algo dessa envergadura sem conhecimento profundo ou algum tipo de experiência anterior é o primeiro indício de maus resultados. As pessoas comentam umas com as outras. Enquanto é novidade, o movimento de curiosos parece bom, mas a maioria não volta. Planejo regressar daqui uns 6 meses torcendo para que tenham havido mudanças e aprendizados. Investimentos assim não podem ser jogados fora.

6 comentários em “Restaurantes de Pelotas – Open Brasil”

  1. Nunca ouvi falar bem desse lugar, de todas as pessoas que foram conhecer o empreendimento milionário, todas saíram falando muito mal. Teu depoimente só se soma às críticas. Uma pena porque Pelotas precisa de um restaurante decente pra oferecer. Á propósito, acho que tu podia escrever sobre o fechamento desses estabelecimentos em feriados. Na terça de carnaval não havia 1 restaurante aberto pra e jantar em Pelotas, com exessão da Creperia. Lamentável. Beijos

  2. Galera, não sei o que houve. Estou em Curitiba desde 2000 e saio com MUITA frequência aqui em todo o tipo de lugar. Confesso que fiquei MUITO BEM impressionado e fiz questão de elogiar tudo lá no Open, diretamente pro gerente/dono (sei lá). Veio tudo perfeito, desde pedido, apresentação, cerveja, e o petit gateau foi (serio) O MELHOR, EVER. A minha namorada também concordou. Isso foi no período de Natal de 2008. Não sei hoje como seria. Curiosidade: um mês antes da inauguração eu estive em Pelotas, e perguntei pro porteiro do Tulha que lugar era aquele que estavam construindo. Resposta dele “aaah isso ai vai ser muito chique..não é pro nível de Pelotas..” Fiquei pasmo com a baixa auto-estima do sujeito.

  3. Tenho que concordar. Fomos lá em dezembro e juramos nunca mais voltar. Garçons completamente despreparados. O cardápio promete, é diferente para Pelotas, o que é bem-vindo, mas mal executado – a comida que chegou, chegou fria (e aperitivos chegaram depois da comida) e simplesmente mal-feita, ainda que apresentável. Eu tenho implicância também com esse sistema de números. A gente pede um prato, o garçom sempre diz “ah, me vê o número aí”, como se não fosse responsabilidade dele. Invariavelmente, traz o prato errado por que não entende a própria escrita. Como já é março e os problems continuam, não era problema de inauguração. Reforço minha promessa de nunca mais voltar. Aliás, a cada restaurante que visito, o Batuva sobe mais no meu conceito. :)

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