Achei este artigo em minhas pastas. O arquivo está datado de 8 de junho de 2007. Ele fala sobre a música “Minha Vida” do primeiro disco da minha banda, Água de Melissa, que você pode ouvir aqui. Resolvi postar já que aqui é meu repositório.
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Quando tenho uma harmonia, uma melodia ou um riff martelando na cabeça, mas não tenho uma letra ou uma inspiração para fazê-la, sou capaz, atroz, de musicar uma bula de remédio, um guia telefônico ou o que estiver por perto. Esse foi caso da música “Minha Vida”. Peguei uma Revista da MTV e achei bonitinho um poema de uma leitora — Maria Carolina dos Santos. Apesar de não me identificar com o teor da mensagem (suicídio, em primeira instância), achei simples (não-simplória), inusitada em algumas passagens e bem construída. Tasquei ficha, dando vazão à minha necessidade de compor no momento. Ficou legal o contraste entre o alto-astral da música com o baixo-astral da letra.
Hoje, temos um clipe para ela e a minha filha de 2,5 anos sabe de cor. É estranho, pouco infantil e bastante inadequado para uma criança, mas quando foi composta minha guria não era nem plano. Agora, quando ela canta ou quando mostro o clipe para alguém, me sinto na obrigação de dizer “olha, a letra não fui eu que fiz, só a música.” Não é como tocar um cover intepretando outro artista. Quando a canção é do repertório próprio, mesmo que seja uma coautoria, parece que damos o aval total à obra.
A gente vai ficando velho e se enchendo de preocupações quanto ao que pensam sobre o que deixaremos na vida. Não me envergonho, nem vou deixar de tocar a música, mas a vida é dela, viu? Não a minha. :)
Volta e meia minha filhas estão cantando músicas antigas, da década de 60, 70, 80…Semana passada foi ABBA, ontem foi George Michael. Só pra citar as mais recentes.
Mas não se trata de um trabalho de pesquisa antropológica e cultural delas. É que algumas canções de décadas passadas viralizam no Tik Tok, sendo trilha sonora de vídeos replicados, trends e sei lá mais como chamam.
Acaba sendo uma ajuda para manter o repertório e o gosto musical das meninas fora da câmara de resistência cultural que é meu carro, onde quem manda no som que toca sou eu.
Mas quem diria, hein? — “Tik Tok”! Dando um forcinha lá em casa…
Outra constatação sobre esse resgate que a plataforma promove, e que enche meu coração de revanchismo, é que as pessoas vão acabar descobrindo de onde vêm as ideias de Bruno Mars pras suas músicas.
Não sei o que é festa de formatura conjunta nem colação de grau. Não que nunca tenha ido nas de amigos nem tampouco não tenha me formado. Falo da experiência de ser “anfitrião” nesses eventos coletivos. Na do segundo grau (ensino médio, hoje) estava viajando. Na da faculdade, vou contar a história.
Cursei Comunicação Social — Habilitação Publicidade e Propaganda, na UCPel. Entrei em 1992, mas acabei me perdendo de minha turma. Não, não rodei. Na verdade, até rodei em uma, mas a disciplina acabou sendo tirada do currículo e não precisei refazê-la. O que ocorreu é que, na ânsia de frequentar matérias mais legais e práticas, acabei antecipando umas e deixando para depois outras que não deveria. Só faltavam dois semestres do tempo regulamentar (quatro anos) mas ainda cinco cadeiras para cursar em sequência. Eram pré-requisito umas das outras. O coordenador do curso não deu mole e acabei entrando pelo cano. Fiquei muitos períodos fazendo apenas uma disciplina… Na real, não lembro bem — ”Não sei. Só sei que foi assim.”
Ao frigir dos ovos, acabei me formando só em 1998 e, sem colegas muito chegados, não estava na pilha da cerimônia da colação de grau e da festa conjunta. Acabei na formatura interna e fazendo uma festa só para mim — o tradicional “coquetel”.
Na minha cabeça, colação interna era uma sala de aula adaptada, com um representante da reitoria sentado à mesa do professor. Receberia o diploma, apertaria uma ou duas mãos e estava feito o carreto. Pois que, na data marcada — um dia de semana à tarde —, estava trabalhando quando alguém me perguntou: “Cuca, e a tua formatura?”. Estava atrasado. Nem tanto, mas para meus padrões virginianos, sim. Saí em disparada.
Era no teatro do Colégio São José, onde nunca havia estado até então. Não imaginava que se tratava, de fato, de um “teatro”. Vislumbrava um estrado e algumas cadeiras escolares na plateia. Mas era um teatro mesmo. Quase com “th” — “theatro”.
Não precisa dizer que cheguei como saí do trabalho, em um dia bem informal na agência. Estava de calça de moletom, daquelas bem folgadas e coloridas. Coisa que nem me vejo usando, mas eu era “xóvem e xóvem é outro papo”. Na chegada ao local, já senti que teria problemas. Só dava gente engravatada, em plena terça-feira (ou o que o valha), em um horário improvável como 15h30, e marcando uns 30 graus. Fui entrando pelo corredor em meio às cadeiras. Eram plumas e paletós de um lado, cheiro de naftalina do outro, maquiagens nos trinques. Todos me olhando e achando que eu fosse o “rapaz do som”. Aliás, nem quem está a serviço em uma formatura se vestiria como eu. São profissionais o suficiente para saber que a forma com que vão vestidos influencia na experiência dos convidados.
Avistei uma plaquinha escrito “formandos”, que reservava assentos nas primeiras filas, e me dirigi para lá. Sentei o mais depressa possível para passar menos tempo em pé. Vergonha em pé é sempre pior que vergonha sentado. Uma senhora com sangue nos olhos, daquelas que gostam de fazer justiça com as próprias mãos, cutucou meu ombro e, com voz afiada, atacou: “Esses lugares são exclusivos para formandos”. Vesti minha cara blasé e, como um estilista de moda trajando modelito tendência para 2030, respondi: “Eu sei”.
Era uma solenidade para diversos cursos ao mesmo tempo. Toda universidade que decidiu não colar grau com suas turmas naquele semestre estava ali. E mais eu, claro, de abrigo roxo.
Na hora que chamaram meu nome, respirei fundo, fingi determinação, pisei os quatro ou cinco degraus para subir ao palco, apertei com vigor umas seis mãos, peguei meu diploma, virei para a foto, fiz um X e fui embora direto. Ah! Essa foto eu queria ter!
Quando cheguei de volta na agência — afinal o dia estava corrido e a tarde ainda na metade — a Dani e a Gigi me deram o recado:
— Tua mãe ligou. — E o que vocês disseram? — Que tu tinhas ido te formar.
Ele odiava amigo-secreto. E não é porque não gostasse de presentear ou de receber. A questão era outra. Meu pai era uma pessoa com personalidade muito forte. Não havia meias palavras, nem falta de sinceridade. Era tudo na lata. Em qualquer conversa, com conhecidos ou não, não era raro serem alvejados por uma metralhadora de frases a causarem um verdadeiro “sincericídio”.
Por esse motivo, não suportava a ideia de receber em um papelzinho o nome de alguém que não teria vontade de agradar e, a partir daí, comprar algo que não gostaria de dar e entregar com um sorriso amarelo, fingindo bom-grado. Hipocrisia dava calafrios nele.
Sempre quando se começava a planejar o Natal — o que acontece por setembro na minha família —, ele gelava. Em uma mistura de bom-humor com o que pensava de verdade, não perdia a oportunidade de reclamar e sugerir ideias. A mais frequente era a do amigo-secreto-realmente-secreto. Nele não haveria sorteios. O processo, além de mais simples, seria também o mais justo e à prova de “pequenas hipocrisias”. Na cabeça dele, cada um escolheria alguém que gostasse e desejasse presentear (até mais de um, se quisesse). Na noite do encontro, deixaria seu pacote endereçado sob a árvore. Não haveria dinâmica de entrega (outra coisa que era uma verdadeira tortura para ele) e ninguém deveria assinar os embrulhos. Seriam presentes totalmente anônimos, ocultos, secretos de fato.
Cada pessoa pegaria o que encontrasse com seu nome e ficaria na dúvida eterna de quem o teria ganho. Afinal, algo que é secreto não deve ser revelado, ou deixa de ser. Claro que alguns ficariam sem presente, o que, para meu pai, seria justíssimo, e uma lição de como se comportarem no ano seguinte. Não é essa a lógica do Papai Noel? “Você foi um bom menino este ano?”. No fundo, acho que sabia que o ônus de sua ideia ser aprovada talvez fosse o de não ganhar presente de ninguém.
Em seu último Natal, em 2016, ele resolveu arcar com parte dos custos e presentear toda a família (abaixo dele e da mãe) com uma grande viagem para seu lugar preferido. E assim aconteceu. Só que tinha um porém: haveria amigo-secreto na noite do dia 24 de dezembro e ele participaria. Sorteamos um mês antes de partirmos, para já levarmos os presentes. Meu primo, que estava também de viagem por lá, participou.
Depois da ceia, alguém iniciou o processo torturante — para ele — de revelação. Usamos sempre a dinâmica de dar dicas para que os demais tentem adivinhar. Mas meu pai, dessa vez, não parecia se importar muito, esboçando até certa satisfação no semblante. Em um momento, restaram apenas três a revelarem, incluindo ele. Só que minha irmã tirou meu primo e meu primo tirou minha irmã. Sobrou o pai. Todo mundo ficou se olhando sem entender. Até o encararmos e compreendermos tudo.
Meu pai pegara o papelzinho com seu próprio nome, o que deve ter sido um momento de satisfação infinita. Ficara quieto por mais de um mês. Sob os questionamentos de todos, respondeu: “tirei todos vocês e meu presente é a viagem”.
O Lucas, que trabalha aqui na empresa, trouxe para vender uns donuts que fez com a namorada. Quando cheguei do almoço só havia sobrado um. Comprei, vislumbrando meu café da tarde, lá pelas 16h. Tirei da cozinha e trouxe para trás da minha mesa, a fim de não correr riscos desnecessários. Meia hora depois, minha mulher, esfomeada, chega, olha e diz: “nossa, que coisa linda, de quem é isso?”.
Qual é a melhor resposta?
a. É um troço que o Lucas trouxe.
b. Não toca. É meu.
c. Era pra meu café, mas pode pegar um pedaço.
d. Comprei pra ti, amor.
Óbvio que a letra D. Não foi a que dei, mas estou aprendendo.
Hoje eu vi um adolescente querendo ajudar a qualquer custo. Eu vi um velho sem saber bem o que fazer, mas procurando ser parte. Eu vi uma mulher rica, bonita e delicada subindo em árvore e sendo a mais envolvida. Hoje eu vi uma criança pobre tendo uma experiência que levará para toda vida, que ajudará a formar seu caráter, sua personalidade. Eu vi outra mais privilegiada se divertindo como nunca junto com as da comunidade. Eu vi um cara com toda pinta de marginal provando para mim — e para si mesmo! — que as coisas podem ser diferentes. Eu vi uma menina linda, com as roupas sujas, ser mais valente que muito marmanjo. Hoje eu vi um homem de posses, que poderia estar em casa com sua família, agarrado numa enxada para construir o sonho de muita gente. Eu vi um rosto cheio de lágrimas por não acreditar no que presenciava. Eu vi uma senhora da comunidade perceber o valor do que estava sendo feito, e trabalhando não só para que sua filha tivesse o exemplo, mas para o futuro de todas as crianças. Hoje eu vi um lugar antes vazio e inóspito encher de moradores tomando chimarrão e conversando. Eu vi as crianças girarem em pneus pendurados em árvores tão felizes como nunca presenciei. Eu vi abraços, agradecimentos, olhos brilhando. Eu vi incrédulos presenciarem a materialização de um sonho brotar do chão diante de seus olhos. Hoje eu vi um gordinho de 13 anos pegar no pesado e ser o mais motivado de todos. Eu vi areia e barro virar uma praça. Eu vi um sonho nascer, sendo construído pela mobilização de pessoas. Somente pessoas.
Eu não tinha a mínima ideia da data, mas esta semana pensei que deveria fazer um post quando o blog estivesse completando 10 anos. Não sabia se já tinha passado, se seria no ano que vem… Resolvi olhar. O primeiro post foi dia 17 de julho de 2005. Então, ainda dentro do mês, o post comemorativo é válido :). Ele mudou de servidor e de endereço, mas quando o fiz, resgatei os artigos do antigo.
Este site é um apanhado das coisas que penso, dos textos que escrevo. Ele mostra a evolução (ou não) de minha escrita e pensamentos. Nada demais, mas é um registro. Eu não tenho estes textos em outro lugar. Deveria.
Todo final de ano, na empresa, recebo ligação do Sargento Palhares da “Poliça” (troquei o nome da pessoa e da corporação para proteger inocentes — no caso, eu). Quando o telefone toca dizendo “Bom dia, aqui é o Sargento Palhares da “Poliça”, gostaria de falar com o Senhor Daniel”, a secretária já sabe que não é pra transferir. Só que este ano, depois de algumas despistadas e tentativas frustradas de me encontrar, a sagacidade do oficial falou mais alto. Apresentou-se só pelo primeiro nome: “Gostaria de falar com o Sr. Daniel. Aqui é o Marcelo”. No momento em que atendi e escutei o bom-dia da imponente voz acostumada a mover um batalhão, não tive dúvidas e esbravejei internamente: “Malditos! Conseguiram de novo!” Não que eu seja um fugitivo, tenha culpa no cartório ou na delegacia. A questão não é essa. Trata-se, apenas de um pressentimento que irei entrar pelo cano outra vez. Explico melhor:
— Daniel, bom dia!
— Bom dia. Quem fala?
— Aqui é o Sargento Palhares. Marcelo Palhares. Estou entrando em contato pois tenho um convite do Comandante Magalhães — (mudei o nome novamente).
— Pois não.
— Como o senhor sabe, estamos reformando nossa sede, ampliando a estrutura para melhor atender à comunidade. É uma obra que custará X mil reais. Já temos Y mil e precisamos finalizar. Como o senhor vem colaborando com a gente há alguns anos, estamos ligando mais um vez.
— Pois não. O que seria?
— Então… Estamos promovendo uma rifa de uma motocicleta. Cada cartela contém três números. São três chances de ganhar.
Essa parte do “três chances de ganhar” me soa particularmente engraçada.
— Quanto é?
— Então… O Comandante pediu para separar três cartelas para o senhor. Sendo assim, seriam nove chances de ganhar.
— Nove? Olha!
— Isso mesmo!
— Quanto é?
— Seriam, no caso, 200 reais.
— Não entendi o valor. Pode repetir?
— No caso, seriam 200 reais.
— As três cartelas?
— No caso, uma só. As três seriam 600 reais.
— Quanto?
— No caso, 600 reais, senhor.
— Olha… “No caso”, acho que posso contribuir com uma cartela só.
— Muito obrigado, senhor. Será muito útil para a corporação. Quando posso passar para receber?
Eu sempre achei que rifa fosse ilegal. Mas se é a polícia que está fazendo, já sei que não é. E, afinal, quem sou eu para não atender um pedido desse calibre?
E se eu reduzisse a quantidade de leite ao invés de aumentar o Toddy?
E se eu misturasse cacau em pó no Toddy para ficar menos doce?
E se eu usasse só cacau e colocasse açúcar?
E se eu fosse diminuindo o açúcar até o ponto de ficar quase ruim?
E se eu diminuísse mais um pouco o leite, para ficar mais doce?
E se eu bebesse o leite só de dois em dois dias?
E se eu tomasse só no fim de semana?
E se fosse só uma xícara, daquelas bem pequeninhas?
E se tomasse do jeito que eu gosto, na quantidade que eu gosto, e começasse a fazer exercícios pra valer?
E se eu não fizesse mais exercícios e diminuísse de novo a quantidade de leite ao invés de aumentar a de Toddy?
Sempre tive ideias de projetos fora do meu escopo profissional e estava ficando meio doente de não conseguir (talvez nem tentar) colocá-las em prática. Algumas delas estavam passando do prazo de validade — via outras pessoas as lançando e eu perdendo oportunidades. Resolvi, então, partir para a ação. Reencontrei depois de anos o Amadeu, colega de colégio. Por coincidência, além do destino tê-lo levado profissionalmente para a publicidade, também compartilhava dessa mesma minha angústia.
Ao mesmo tempo, um ex-estagiário da Incomum, Wagner, com quem já tinha ensaiado fazer esse projeto antes, me procurou novamente com seu amigo, também conhecido no colégio, Matheus, com a mesma proposta. Achei legal juntar os quatro, cada um com suas habilidades e, enfim, bancarmos algo no risco. Nasceu a Tutano — uma empresa start-up (nome da moda, para negócios tecnológicos pretensamente promissores a espera de investidores milionários – kkk).
Devido à proximidade do Natal, o primeiro projeto lançado foi o Acertou em Cheio. Um aplicativo para Facebook que permite criar listas de presentes totalmente personalizadas e independentes dos sites de e-commerces. Ou seja, liberdade total para inserir o que quiser, de dentro ou fora do mundo online. O sistema aceita qualquer coisa: de produtos a sentimentos. Experimente pedir um abraço. Pode ser que você ganhe mais rápido do que imagina. A ideia é distinta de tudo que existe justamente por isso. E não precisa de data especial. A sua lista fica ali, eterna, até você ganhar o item e excluí-lo. Quando um amigo for lhe presentear, certamente vai “acertar em cheio”, ou, na pior das hipóteses, se inspirar no que você publicou e lhe dar algo relacionado. 15 dias antes dos aniversários de seus amigos que estão no aplicativo, você é avisado que eles têm lista. E vice-versa — seus amigos também recebem alertas sobre o seu aniversário e irão fuçar nos seus desejos, certamente. O que eu acho mais legal na ideia, não é nem o ato de presentear em si, mas de confeccionar e manter uma lista de coisas que você gosta e deseja ter. Ali ficam registradas sua personalidade, seus requintes, suas ideias, seus sentimentos, suas sinceridades e, até, criancices.
Acertou em Cheio é o primeiro dos nossos projetos e, claro, em constantes melhorias. A partir de janeiro, já inciaremos o segundo. A quantidade de ideias é grande, pois agora não são só as minhas, mas as dos quatro.
Para conhecer o aplicativo, acesse a nossa fan page ou nosso site. Adoraria saber o que acharam.