A vida dela

Achei este artigo em minhas pastas. O arquivo está datado de 8 de junho de 2007. Ele fala sobre a música “Minha Vida” do primeiro disco da minha banda, Água de Melissa, que você pode ouvir aqui. Resolvi postar já que aqui é meu repositório.

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Quando tenho uma harmonia, uma melodia ou um riff martelando na cabeça, mas não tenho uma letra ou uma inspiração para fazê-la, sou capaz, atroz, de musicar uma bula de remédio, um guia telefônico ou o que estiver por perto. Esse foi caso da música “Minha Vida”. Peguei uma Revista da MTV e achei bonitinho um poema de uma leitora — Maria Carolina dos Santos. Apesar de não me identificar com o teor da mensagem (suicídio, em primeira instância), achei simples (não-simplória), inusitada em algumas passagens e bem construída. Tasquei ficha, dando vazão à minha necessidade de compor no momento. Ficou legal o contraste entre o alto-astral da música com o baixo-astral da letra.

Hoje, temos um clipe para ela e a minha filha de 2,5 anos sabe de cor. É estranho, pouco infantil e bastante inadequado para uma criança, mas quando foi composta minha guria não era nem plano. Agora, quando ela canta ou quando mostro o clipe para alguém, me sinto na obrigação de dizer “olha, a letra não fui eu que fiz, só a música.” Não é como tocar um cover intepretando outro artista. Quando a canção é do repertório próprio, mesmo que seja uma coautoria, parece que damos o aval total à obra.

A gente vai ficando velho e se enchendo de preocupações quanto ao que pensam sobre o que deixaremos na vida. Não me envergonho, nem vou deixar de tocar a música, mas a vida é dela, viu? Não a minha. :)

As três etapas da percepção humana frente à IA

Toda novidade que promete mudar o mundo passa por algumas etapas para se estabelecer ou ser descartada. Everett Rogers, em seu livro da década de 60 — “Diffusion of Innovations” — versou sobre essas etapas de difusão das inovações sobre o ponto de vista da assimilação: conhecimento, persuasão, decisão, implementação e confirmação. Ele também se referiu aos perfis daqueles que, ao longo do tempo, adotam uma nova tecnologia, dos inovadores aos retardatários, também em cinco personas. A questão que trago vem complementar, só que sob o viés da percepção humana, especificamente, sobre as inteligências artificiais generativas e do estreitamento de nosso contato com elas.

É normal que a primeira etapa dessa relação seja sempre a do deslumbramento. Quando a novidade vem à tona para os early adopters (como denominou Rogers), chega embarcada em curiosidade, perspectiva profissional, aumento de produtividade e de encantamento com as entregas. A excitação é tão grande que o primeiro sintoma é o surgimento dos gurus: pessoas prometendo ensinar até mesmo como fazer dinheiro, antes mesmos de terem ganho o seu próprio com a tecnologia. Estamos na era do conteúdo e dos coachs. Afinal, o mercado está sedento para saber como a ferramenta irá impactar seus negócios e como conseguirá ser mais produtivo com ela: “se não usar, a concorrência usará”. Não parece ser o caso das inteligências artificiais generativas, mas promessas que geram esse tipo de frisson, muitas vezes dão com os burros n’água ou penalizam os vanguardistas. Chat-GPTs e MidJourneys da vida estão sendo testados à exaustão. Tem gente perguntando pra plataforma da OpenAI até como se frita um bife, enquanto não descobrem qual será, para si, sua real utilidade. (A imagem deste post foi feita no MidJourney com o prompt “como fritar um bife”).

Já na segunda etapa, por mais que a tecnologia evolua, as pessoas começarão a perceber que, apesar de incrível, no que tange a geração de entregas criativas de verdade, as soluções ainda deixam a desejar. Em pouco tempo, a massificação e a pasteurização dos resultados produzidos por IA darão saudade em quem tem um olhar mais crítico sobre as coisas, que espera conteúdos mais verdadeiros, com sutilezas humanas. Trarão uma constante sensação de desumanização, perda de vínculos afetivos com o mundo real e, até mesmo, descrença no futuro. Sabe textos de sites feitos para performar em SEO? Aqueles cheios de repetições, explicaçõezinhas chumbregas e conteúdo raso, construídos para serem bem ranqueados no Google e em outras plataformas? Imagine esse tipo de intenção massificada à exaustão em todas as linguagens: texto escrito, imagem, vídeo, áudio… A máquina produzindo conteúdos para serem interpretados por algoritmos de outras máquinas e entregues para se encaixarem nas percepções e bolhas dos seres humanos. E tudo bem? Para 99% das pessoas estará tudo bem. Isso, infelizmente, também será o suficiente para muitos anunciantes, que remuneram a financiam a comunicação digital atual.

E, então, chegaremos na terceira etapa. Virá uma contratendência, como sempre acontece após um establishment. Foi assim quando o movimento hippie se opôs à Guerra do Vietnã e ao crescimento do consumismo. Foi assim com a abstração trazida pela arte moderna, que se contrapôs ao excesso de técnicas das artes plásticas vigentes, e depois foi contraposta pelo realismo e sua representação mais literal da realidade.

A inteligência artificial generativa criará uma contratendência que promoverá o anseio e a valorização dos conteúdos ultraverdadeiros, como textos de sinceridade latente, imagens aparentemente mal produzidas e amadoras, erros singelos dos mais diversos tipos e exposição maior de nossas fragilidades.

Promoveremos a busca pela quebra do algoritmo da máquina e a elevação do algoritmo humano. Vamos querer nos ver espelhados em nossas imperfeições.

“Abaixo a Skynet!” “Sarah Connors lives!”

Seremos resistência.

Taylor Swift e o jeito errado de vender ingressos

Já escrevi uma vez sobre o desgosto que megaeventos musicais sempre me trazem sob o aspecto da experiência frustrante em diversos aspectos do evento (leia aqui). Agora, a decepção é com relação à compra de ingressos para minha filha ir na Taylor Swift.

Os sites especializados adotam a mesma estratégia: todo processo é criado para gerar a sensação de urgência e escassez: “compre agora!”, “garanta o seu!”, “vai acabar!”, “vai ficar no segundo lote será mais caro!”. E aí se monta uma corrida de fãs histéricos em busca do tíquete dourado.

Para ter uma ideia, a quantidade de lugares para os primeiros dois shows que Taylor Swift fará em São Paulo, em novembro de 2023, é de, aproximadamente, 80 mil espectadores no total (depois abriu um terceiro), mas a fila virtual ultrapassava um milhão de dispositivos conectados. Isso indica algumas coisas: (1) muita gente quer ver a cantora; (2) muita gente está acessando com mais de um dispositivo, para aumentar suas chances de pegar um lugar melhor na ordem de espera (são distribuídos de forma aleatória pelo sistema na hora em que está marcado o começo das vendas); (3) tem muito curioso que não vai comprar, mas participa do processo, atrapalhando a vida de quem realmente quer (um ingresso colocado no carrinho sem finalizar a compra, fica bloqueado para outro pretendente e o sistema alega não haver mais disponibilidade); (4) isso sem falar nos cambistas virtuais, que devem estar bem organizados para comprar em grupo o maior número de ingressos possíveis.

Outras dúvidas surgem do fato que a produção do espetáculo não informa quantos ingressos há para cada setor, criando algumas hipóteses conspiratórias. Por exemplo, será que a grade da pista premium não vai se afastando à medida em que há mais interesse em ingressos desse tipo? Quantos ingressos há para meia-entrada? Será que essa quantidade não é “flexibilizada” de acordo com a venda de inteiras? O certo é que todo processo é muito misterioso e não transparente, levando o fã, em quase todos os casos, a embarcar em uma jornada aflitiva que o faz pagar mais do que pretendia no início do processo.

IDEIA MAIS EFICIENTE PARA O PRODUTOR, ARTISTA E FÃ

Inspirado em algumas técnicas de venda utilizadas pelo mercado imobiliário, pensei em um formato melhor.

  1. LISTA DE INTERESSE. Antes da venda, o site abre inscrição para os interessados. Com um limite de quatro ingressos por CPF, o interessado deve arcar com R$ 100 por lugar. A adesão não tem limite total. Pode-se ter 1 milhão de cadastros para um show para 40 mil pessoas. Só quem realmente deseja ir ao evento participa do processo, afugentando curiosos e dificultando a vida dos cambistas. Esse processo também sinaliza para a produção do show e para o artista se é preciso abrir mais datas, qual o patamar de valor do ingresso pode ser praticado, e qual é a taxa de conversão que geralmente acontece. Claro que o valor ser devolvido ao cliente, sob a forma de desconto na etapa posterior de efetivação de compra ou em caso de desistência.
  2. VENDA. Haveria um sorteio entre todas as pessoas que entraram na lista para definir quando ela poderá comprar seu ingresso. Cada conjunto de 5, 10 mil pessoas teria um dia para converter seu interesse ou teria o investimento devolvido.
  3. TRANSPARÊNCIA NO PROCESSO. O sistema iria divulgar claramente quantos ingressos de cada tipo existe para cada setor e tipo. Ao final de cada etapa de venda, os dados seriam atualizados.

Me parece que a ideia acima não diminuiria a sensação de urgência e escassez, que faz vender mais ingressos, e ainda traria outras vantagens aos organizadores, como previsão de interessados, melhor definição de quantidade de datas, melhor definição de preço de ingresso, menor custo de servidores, maior tranquilidade de organização e credibilidade no processo.

Fazuele seu bolsominion!

Aconteceu no post de uma pequena celebridade, depois que alguém comentou algo ofensivo e um fã tomou as dores.
— Cara, você não pode vir aqui no post dele dizer que ele não conhece o que está falando!
— Tá bem. Concordo!
— Como assim, “concorda”? Você chega aqui, cheio de si, joga um monte de merda e depois diz que concorda?
— Pois é, mas eu concordo com você.
— Se você concorda por que disse que ele não sabe o que está falando?
— Você está certo. Me arrependi.
— Então tá… Vê se aprende!
— 👍
— Tem certeza que não quer discutir?
— Cara, tenho. Você me fez ver que eu estava errado. Não tenho mais o que discutir.
— Mas aí vai acabar assim?
— Como você queria que acabasse?
— Sei lá… Você poderia me chamar de bolsominion, dizer “fazuele” ou algo assim…
— Mas por que eu falaria isso?
— Porque é isso que as pessoas falam.
— Não, pra mim tá bom assim.
— Cara, você é muito chato.
— Já ouvi isso.
— VTC!
— Tá bem.
— Porra, meu!
— Boa noite.
— … Boa noite.

Brothers in Arms

Eu sempre fico imaginando tocar essa música com uma banda. Mas assistindo agora e pensando: só é empolgante tocar guitarra nessa música. É sublime, cheio de nuances, dinâmicas, emoções. O resto dos instrumentos é frustrante, chato, repetitivo. Neste momento, lembro que para uma música ficar perfeita cada um tem que fazer o seu papel, por mais chato que possa ser. São todos trabalhando por um resultado perfeito e comum. Abrindo mão de seus egos e dando palco ao conjunto.

Um dia vou ter paciência pra tirar essa música na guitarra solo, ensaiar até à exaustão para ficar bom de verdade — talvez não consiga, vai demorar. E aí, vou tocar com uma banda que tenha saco pra construir e me propiciar esse momento.

Então, poderei morrer feliz.

O Clube Secreto

Imagine que você abre um negócio. É um clube secreto. Ele tem sede em um prédio preto, com a porta preta, com placa preta sem letras. Pessoas se associam, e apesar de terem fornecido seus dados, as carteirinhas de acesso que recebem não contêm nenhuma identificação. Quando entram no clube, se tornam anônimos. Não há luz no interior e o porteiro encapuzado entrega a elas uma máscara após suas carteirinhas de acesso serem liberadas na catraca. Lanternas e velas são proibidas lá dentro.

Os membros tateiam as paredes e conseguem saber o que está escrito nas portas das salas internas, e escolhem uma para ingressar. No interior, encontram pessoas também não identificadas. Elas só podem falar e ouvir. Não veem nada. Mas conseguem criar novas amizades com outros que, como elas, estão interessados na proposta de assunto da sala.

Em determinado dia, acontece um crime na cidade, e o criminoso é pego com uma carteirinha do clube secreto. As investigações descobrem que a ação foi planejada em uma de suas salas, e que, possivelmente, outros membros do clube são cúmplices e/ou membros da mesma quadrilha.

A Justiça expede um mandado de busca e apreensão na sede do clube secreto. Mas chegando lá os agentes da polícia são barrados pelo porteiro. Ele chama seu superior que diz que não pode permitir que a polícia ingresse no local, pois, afinal, se trata de um “clube secreto” e que entrar ali significaria ir contra o contrato de adesão de seus usuários, a liberdade de expressão e os “direitos humanos” que regem seu propósito.

A Justiça, então, determina multa diária elevada até que o dono do local ceda. Mas ele continua irredutível e argumenta que todo interior da casa é escuro e que não pode, nem se quisesse, acender as luzes, porque elas nem ao mesmo existem. E que há um aparato tecnológico que apaga imediatamente qualquer tipo de iluminação que adentre no espaço.

O que você acha que tem que acontecer com o Telegram e com todas as redes sociais que, não só se isentam da responsabilidade sobre o que acontece lá dentro, como criam meios para acobertar qualquer tipo de “privacidade” e “liberdade”?

Ah, você não confia na Justiça ou na Polícia? Mas confia no Clube Secreto e no que acontece lá dentro às escuras?

Invenções para conversas informais (ou não) em grupo

1. Um sistema que identifique as vozes de cada pessoa em uma conversa e mostre em um placar, em tempo real, o tempo que cada uma falou.

2. Cada pessoa teria um controle remoto, que pressionaria o botão para se inscrever para falar. O sistema, inteligente, ordena a vez de cada um é mostra em um placar (poderia ser o mesmo da ideia anterior). A “inteligência artificial” (só porque está na moda) não levaria em consideração apenas a ordem em que as pessoas pressionaram o botão pedindo a vez: se alguém que pouco falou pedir voz, passaria na frente de quem monopolizou a conversa demais.

Obviamente, isso tudo poderia ser um aplicativo de celular com todos conectados em rede.

Sim, na minha família falam todos ao mesmo tempo, em assuntos misturados.

Sobre fraldas, cerveja e votos

Você já ouviu falar em data mining ou mineração de dados?

Consiste em pegar um banco de dados gigantescos e disparar um software para buscar alguma tendência de ocorrência que se sobressaia às outras.

É muito usado no marketing para encontrar comportamentos do consumidor de determinados varejos, por exemplo. O caso mais clássico, que se usa em toda palestra de negócios sobre o assunto é o das fraldas e da cerveja.

Através da mineração de um banco de dados enorme que trazia informações de tickets de compras de uma rede de supermercados, se descobriu uma alta incidência de cupons fiscais que continham, ao mesmo tempo, fraldas descartáveis e cerveja. De posse da informação curiosa, o departamento de marketing da empresa conseguiu criar, estrategicamente, ações promocionais que se aproveitassem dessa predisposição de parcela dos consumidores. Então, caminhos estratégicos foram abertos, como: fazer um ponto extra nas lojas onde fraldas ficavam posicionadas ao lado de cervejas, anunciar promoções com os produtos próximos em um folheto de ofertas, negociar com os fornecedores desses itens melhores preços, tendo em vista promoções combinadas que aumentassem as vendas etc.

Apesar de todos ficarmos nos perguntando “por que, diabos, essa conjunção de fraldas com cerveja tinha uma incidência fora da curva?” — e, certamente a gente consegue imaginar alguns motivos — a resposta importa muito menos do que o fato em si. O universo está cheio de coincidências inexplicáveis. Nem tudo é uma teoria da conspiração ou acontece sempre de forma aleatória e bem distribuída em um universo de grandes proporções.

A Natura, gigante dos cosméticos e do marketing de rede, tem servidores de dados rodando 24 horas por dia softwares de mineração de dados. Todas as decisões estratégicas passam pelas descobertas em seu big data. O programa sai procurando ocorrências fora da curva, como, por exemplo: o hidratante X é mais vendido por consultoras com a idade acima de Y; as vendas das consultoras com domicílio do bairro Z têm menos problemas de entregas; as consultoras que se chamam “Maria” ficam menos tempo na empresa do que as demais. Imaginem a quantidade de informações que podem — e são! — usadas diariamente para tomadas de decisão dos gestores de todos os setores.

Uma empresa de mineração de dados, poderia, hipoteticamente, pegar o arquivo dos resultados das 400 mil urnas das últimas eleições brasileiras, colocá-los para minerar e descobrir, por exemplo, que um candidato teve mais votos do que ele mesmo nas seções cujos números acabam com “2” (102, 42, 252…). Ou que seu concorrente teve mais votos nas cidades cujos nomes são compostos por mais que uma palavra, como “São José do Oeste”, São Paulo”, “Passo Fundo”… Deu pra entender a infinidade de tendências de “coincidências” que um sistema de mineração de dados pode encontrar em um gigantesco banco de dados?

Quando se faz um estudo científico, sempre se parte de uma hipótese. É a partir dela que o processo se desenrola. Pode ser chamado de pseudociência, quando um dos muitos itens do método científico é descartado para induzir o estudo ao resultado que se pretende. Tentar encontrar indícios que sua hipótese está correta é fácil. A verdadeira pesquisa isenta deve ir atrás também de encontrar dados que provem que a sua hipótese está ERRADA. Essa é a principal armadilha em que os cientistas, ou pseudocientistas, caem. É difícil se distanciarem de suas paixões, de suas crenças prévias. As pessoas ficam cegas quando entram dispostas apenas a enxergar o que desejam enxergar.

Inventaram o conceito de urna audtitável e não-auditável para colar na opinião pública o resultado da mineração que mostrou uma tendência em determinados modelos mais antigos. Todas usam o mesmo software, que foi disponibilizado publicamente à análise de profissionais inscritos. O software é previamente auditável. O padrão se da em todas as regiões, menos na… Sul. “Ah, mas há de ter uma resposta plausível pra isso!”

Inventam que seções inteiras desaparecerem da listagem do TSE, quando se sabe que, de fato, houve a unificação de dezenas de milhares delas. Eram 473 mil e foram pouco mais de 400 mil agora. E vai reduzir mais.

Inventam uma narrativa sobre as 144 urnas nas quais houve 100% votos para Lula, quando em 2018 havia mais ainda para Haddad e ele perdeu. Urnas de comunidades, tribos, onde é perfeitamente plausível que haja uma adesão total contra Bolsonaro, que profere publicamente palavras de ódio contra eles. Não representam poucos milhares de votos. Mas é isca perfeita para pessoas que estão sedentas por confirmar suas crenças.

Tios, pais, avós aliciados pelas estratégias doentias do clã, sendo usados como massa de manobra, sofrendo sequelas psicológicas permanentes. Estão sendo afastados de seus familiares, achando que estão salvando o país.

Não é assim que salva um país. Se salva o país votando direito. Mas o Brasil preferiu o “voto útil”. Esse impasse entre os candidatos com as maiores rejeições vai continuar por muitas eleições.

Proposta alternativa de processo eleitoral

O segundo turno foi inventado justamente para que as pessoas escolhessem seu melhor candidato no primeiro, podendo definirem entre os mais votados no segundo. Parece boa a lógica, só que na prática dá errado.

Dá errado porque o ambiente polarizado e as pesquisas convencem as pessoas de que devem usar o critério do segundo turno já no primeiro. Com isso, elas deixam de votar em quem realmente gostariam de eleger, para escolher entre os dois primeiros nas pesquisas. É o tal do “voto útil”. Uma dissonância cognitiva coletiva que conseguiu colocar na final do processo eleitoral para a presidência do Brasil em 2022, os dois candidatos com maior rejeição entre todos. Se isso não é uma estupidez, não sei o que é.

Como gosto de bolar estratégias e mecânicas de funcionamento das coisas, venho pensando em vários formatos de processos eleitorais que poderiam resolver esse e outros problemas. Todos têm pontos negativos e, até mesmo, inviabilizadores. Alguns contêm boas doses de humor e ironia, apesar de não os tornarem ruins na essência. Vou citá-los abaixo para acompanharem o raciocínio.

MODELO INVERSO

O eleitor deveria escolher alguns candidatos que, definitivamente, não quer como governante.

Pontos positivos: é fácil de entender e descarta que os com as maiores rejeições vão para o segundo turno.

Um dos pontos negativos é que pode gerar confusão: “é pra escolher o que eu gosto ou que eu não gosto?” Outro é que pode ganhar um candidato que não fede nem cheira, mas certamente seria melhor do que dois que cheirassem mal: o sujo e o mal-lavado.

MODELOS ORDENADOS

Existem várias possibilidades aqui, mas juntei em um tópico só. O eleitor poderia posicionar em ordem de preferência. A pontuação de cada um seria inversa a de sua colocação. Outra opção seria distribuição de pontos. Ex.: você tem 10 pontos para distribuir por, pelo menos, três candidatos e nenhum deles poderia ganhar mais do que seis…

Pontos positivos seriam, obviamente, a classificação por preferência. Imagina que um hipotético candidato fascista de direita teria maior pontuação de quem acredita que ele não é fascista (ou que acredita, vai saber). O candidato fascista de esquerda idem. Mas o segundo melhor candidato para ambos os lados talvez ganhasse mais pontos do que os líderes dos extremos.

Ponto negativo, obviamente, é a complexidade. Povo mal sabe apertar meia dúzia de botões coloridos, imagina distribuir pontos. Talvez a solução fosse descobrir uma interface quase infantil para isso: ligar as colunas, arrastar e soltar em um pódio, sei lá…

MODELO BBB

Precisa explicar? A cada semana haveria um debate e uma eliminação. O candidato que sobrasse seria o eleito. Não precisa ter prova do líder, de resistência, big phone, ou mesmo sortear carros aos candidatos. Mas seria legal ter um candidato-celebridade, como o Alexandre Frota. Brincadeira. E não deveria permitir outra forma de campanha tradicional. Seriam só os debates.

Como pontos positivos teríamos a chance de visibilidade dos mais desconhecidos, devido ao grande número de semanas, e um formato mais baseado em propostas. O custo baixíssimo da campanha para os cofres públicos também seria favorável, assim como a compreensão das regras do jogo, por se basearem em um programa de bastante sucesso na televisão brasileira.

O ponto negativo é que, talvez implicaria na mesma questão do voto útil — talvez o raciocínio fosse de ir eliminando todos os demais que não fossem os líderes de pesquisa. Outro ponto negativo é o incômodo e o custo de se ter que votar 15 vezes, sei lá. Seria ótimo que pudesse ser feito por aplicativo, mas traria outros problemas. Poderiam limitar o número de candidatos em cinco através de uma eleição prévia, quem sabe?

MODELO SEGUNDO TURNO TRIPLO

Talvez esta seja a melhor opção. Vão três para o segundo turno ao invés de dois. Sabendo disso de antemão, o eleitor teria mais coragem de não usar a lógica (ou ilógica) o “voto útil” no primeiro turno, pois teria uma segunda chance de consertar um mal maior. Assim, o candidato que talvez seja o menos rejeitado pela maioria poderia demonstrar a real força que tem e chegar na final empoderado e com chances mais reais.

É. Eu acho que essa é a melhor mesmo. E você?

Mídia Social: A Regulação do Bem (mesmo!)

Você já deve ter lido a respeito, visto documentários e, até mesmo, sentido na pele os impactos negativos que as mídias sociais causam na saúde mental das pessoas. Seja na dependência do like, do comentário, seja no recebimento incessante de informações em nossas timelines. As inspirações, virtudes, bizarrices e as opiniões das pessoas são derramadas misturadas em nossa cara segundo a segundo. Cada uma delas nos atinge de uma forma diferente — as polêmicas são as que nos tiram do eixo. Em época de eleição, por exemplo, as políticas entram de soco.

Se fala muito em ter alguma regulação sobre essa mídia. É um assunto bastante vasto e cheio de opiniões superficiais, como a própria característica das redes, que passam pelo tema liberdade de expressão etc.

Mas não é sob esse viés que quero falar. Quero apenas dizer que, sob o aspecto psicológico que me referi acima, algumas configurações, a gosto do usuário, deveriam ser obrigatoriamente oferecidas pelas plataformas.

O que você acharia desta ideia?

  1. Todas as plataformas deveriam adotar a categorização de cada post.
  2. Na hora de postar, seriam oferecidas automaticamente, através de inteligência artificial, tags para seu conteúdo. Por exemplo: esporte, política, artes, família, motivação… Enfim. No mínimo umas 10, categorizando e subcategorizando seu post.
  3. Se o usuário discordar das marcações sugeridas, ele pode remover e adicionar outras.
  4. Cada usuário também deve configurar em seu perfil quais assuntos não deseja receber, aqueles que não têm interesse ou não fazem bem para sua saúde mental.
  5. Caso perceba que alguém está postando fora da categorização correta, qualquer um pode denunciar.
  6. O autor do conteúdo denunciado é convidado a revisar suas tags.
  7. Caso atinja uma quantidade limite de denúncias (pode haver vários limites) sofrerá algum tipo de punição progressiva na plataforma, até alcançar um possível banimento.

O mesmo sistema — algoritmo — poderia ser oferecido para todas as redes sociais. Todos usuários aprenderiam seu funcionamento da mesma forma, tornando o uso trivial e a facilmente compreensível, seja no Instagram, Facebook, Tik Tok…

O que acha?