Meu cachorro fugiu

Dobrei na minha rua e, a uns 400 metros de casa, a Stela chamou minha atenção:

Olha! Não é o Luke?!

Luke é nosso cachorro. Um golden retriever de quatro anos. Estava se cheirando com um vira-latas. Tinha fugido quase chegou na estrada! Passei a direção para a Stela e desci do carro:

Luke! Luke! O que tu tá fazendo aqui?! Vem cá! — Me olhou mas não veio. — Luke, vem! Vamos pra casa! — E ele obedeceu.

Foi me acompanhando na frente (ou eu acompanhando ele, não sei). Parava em algumas plantas para marcar território. Cheirava outros cachorros que latiam nos portões. Algumas vezes tive que pegar pelo cangote e puxar para ele vir. Não está acostumado a andar na rua. Achei estranho que estava babando demais.

Quando chegamos em casa, minha filha, já sabendo da história:

Pai! Pai! Mas o Luke tá em casa!

Aquele cachorro era igual ao Luke — mas idêntico! Ele me obedeceu, arrastei pelo couro e trouxe para dentro do meu pátio, mas não era o Luke! Eu sequestrei o bichinho de alguém! Realmente, havia estranhado que não senti a coleira quando peguei pelo pescoço. Mas as semelhanças, tanto físicas quanto de temperamento, do jeito de andar etc., eram as mesmas. Só podia ser do mesmo canil.

Imediatamente, mandei mensagem para a Roberta, dona do canil, perguntando se sabia de algum outro golden que morasse perto da gente. Em 30 minutos a dona entrou em contato para ir buscar o fujão. Mandei fotos e rimos da situação.

A raça é pacata, vai com todo mundo. Uma personalidade, realmente, amável, tanto que o sósia permitiu que eu ralhasse com ele, puxasse pelo cangote, tirasse ele da frente da sua casa e o trancasse na minha!

Mas a situação não foi só pitoresca. Serviu para a reflexão: não reconheci meu próprio cachorro, mas tenho certeza que ele me reconheceria entre milhares de pessoas bastante parecidas comigo. Acho que não estou sendo um bom amigo.

(Na foto, o sósia, molhado da chuva e o Luke, se refrescando no verão.)

Tetris no currículo escolar

Toda vez que vejo um escorredor de pia ou uma máquina de lavar louça mal organizados, com mau aproveitamento do espaço e correndo risco das coisas caírem e quebrarem, eu fico de cara.

Sempre que vou dobrar em uma sinaleira que dá para o miolo da Avenida Bento Gonçalves, e os carros ficam mal posicionados, não dando espaço para todos que precisam se acomodar no mesmo lugar, me dá um troço.

Estacionamento então… O cara usa o carro estacionado de trás como base para parar o seu, ao invés de se guiar pela rampa (ou a esquina) que está à frente. Fica um espaço inútil entre seu carro e o elemento fixo da calçada, inaproveitável por ninguém. A rampa não vai sair do lugar, mas o Opala de trás sim! Quando acontecer, provavelmente caberão dois no lugar dele, porque, é claro, estacionou totalmente errado.

E é aí que percebo o que faltou para esse pessoal: jogar Tetris! Tinha que ser disciplina no colégio. Vital para a formação de um ser humano completo.

Sim, sou virginiano.

Tem nos camelôs por 20 pila.
Tem de graça pra jogar online, aqui.

Queimadura

Eles têm um calefator de dupla combustão. Uma gentileza, sem dúvida, para os clientes que vêm jantar com esse frio todo. Penso em sentarmos à mesa mais próxima para aquecer meus pés congelados, mas lembro das experiências com o que temos em casa. Já queimei as pernas algumas vezes me acomodando perto demais. Na hora não se percebe, mas dois dias depois a pele aparece vermelha, começa a escamar e faz casquinha. Uma violência que a gente não se dá conta. No mínimo, um metro de distância é o indicado. Vamos para a mesa ao lado.

Já estamos jantando quando uma família entra no restaurante e se encanta com o aquecedor à lenha. Sem dúvida não são daqui. “Vamos sentar nesta, que tá uma delícia! Aqui eles precisam disso, viu?” O garçom tenta orientar para que escolham outro lugar, mas, como se diz, “o cliente sempre tem razão”.

As duas mulheres do grupo ficam com as costas a um palmo do ferro quente. Está na cara que não vai dar certo. O funcionário, sem jeito, volta da copa e insiste outra vez. Relutantes, afastam-se uns 10 centímetros e seguem se aquecendo. A distância ainda é curta. Amanhã vão começar a sentir as consequências.

Estou naquele dilema: sei que devo tomar uma atitude mas fico com receio de como receberão minha abordagem. Como falar?

— Senhoras, estão muito perto do calefator. Vai causar uma queimadura que só perceberão depois.

Azar. Não é da minha conta. O garçom já orientou. Quem sou eu pra me meter? Ao mesmo tempo, sinto-me no dever.

— Boa noite. Eu tenho um desses em casa. Algumas vezes já me queimei sentando tão perto.

O prato deles chega. Não vou atrapalhar agora. Imagina fazê-los trocarem de lugar com o pedido já servido. Demorei demais.

Pago a conta e passo por eles.

— Mas essas picanhas vão ficar passadas, hein?!

Mentira. Não falei.

Beatles Get Back — Voltando de onde veio

Se eu tivesse um podcast, gravaria um episódio sobre o documentário Get Back dos Beatles. Se fosse um youtuber, subiria um vídeo. Se estivesse em um jornal, redigiria uma matéria, faria uma entrevista… Como não tenho nada disso, e os momentos sociais estão raros para filosofar em botecos com os amigos, escrevo este post. Tenho necessidade de colocar para fora tudo que senti assistindo, à espera de comentários complementares ou discordantes. 

Em primeiro lugar, é preciso contextualizar por que o lançamento de Get Back foi algo tão aguardado e está sendo tão comentado.

Os Beatles existiram por apenas 10 anos, em uma ascendência artística meteórica, que os conduziu de boy band a um grupo dos mais talentosos e inovadores que já houve. Foram 13 álbuns lançados, o primeiro em 1963, três anos após o nascimento da banda — da água para o vinho em sete anos! The Who, Pink Floyd, Led Zeppelin e Jimi Hendrix eram contemporâneos. Então, não é que os Beatles revolucionaram sozinhos o rock e que ninguém era inventivo naquela década, como há a tendência de se imaginar. A questão principal é o impacto que uma banda extremamente popular teve. Eles conduziram o gosto de uma geração de adolescentes de uma canção bobinha como “She Loves You” a patamares mais complexos e inventivos como “Eleanor Rigby”. A música pop experimentou algo que pouco se repetiu nas décadas subsequentes. Isso é marcante e incomum.

A contribuição artística foi tanta que, quando comecei a perceber a magnitude da banda — talvez pelos meus 15, em 1989 — já fazia quase duas décadas que ela não mais existia. Uma carreira de 10 anos, que completava 30 aos olhos de alguém de 15. Sua eternidade, ou perenidade, se apresentava. Não existia mundo sem Beatles mesmo depois de seu fim. E interpreto essa percepção só agora, quando vejo minha filha de 12, 50 anos depois que o “sonho não acabou”, impactada pela permanência estética, assistindo comigo ao documentário que acaba de sair no Disney Plus. Tenho a felicidade de ser contemporâneo dos integrantes do quarteto e, minhas filhas, dos dois que ainda restam. Isso é um privilégio que só meus descendentes terão a verdadeira dimensão, quando pensarem em mim, seu antepassado, e a reverenciada obra deixada.

O filme

Claro que um material audiovisual é fruto de decisões de roteiro e de edição. Supressões, emendas, cortes, deslocamentos, tudo isso tem o potencial de contar muitas histórias diferentes sobre o mesmo material bruto que, nesse caso, era vasto. Porém, como não tenho acesso ao restante das 60 horas de filme, só resta discorrer sobre o que vi e sobre a história que Peter Jackson quis contar. E aqui, vale uma filosofada: o que é a verdade senão a interpretação de cada um sobre o que ouve, escuta, vê, sente? E se ela depende disso, quantas verdades existem sobre cada microfato? A própria definição de “fato” passa a ser questionável. Então, vamos nos basear no que o mundo está nos entregando e, nesse caso, sob o meu ponto de vista baseado no do diretor.

O áudio e o vídeo

O filme já começa com Peter Jackson deixando claro que não houve vídeo para todo áudio disponível e, por isso, precisou cobrir alguns momentos com imagens não relacionadas. Imagino o trabalho que deu, pois, mesmo eu ficando nervoso com a falta de sincronia e tentativa de grudar um final de frase com uma boca se mexendo, sei que se esforçaram para fazer o melhor possível. Já editei materiais densos e conheço a dificuldade. Para os menos introduzidos ao processo, explico o que pode ter acontecido: rolo de filme não grava áudio. E, mesmo que gravasse como as câmeras de vídeo atuais, profissionalmente, sempre se tem uma equipe para o vídeo e outra para o áudio. Então, não sei se material foi roubado, estragou, se perdeu ou, simplesmente não foi registrado em conjunto. O fato é que áudios importantíssimos (e muito bem captados por sinal) precisavam ser usados. Eles já haviam, inclusive, sido lançados em bootlegs durante os anos. Os mais malucos já os conheciam.

O maestro

Paul McCartney se mostra realmente a mola propulsora dos Beatles, o cara que leva a banda nas costas. Claro que é um retrato do final da existência da banda; talvez John fosse mais propositivo nos trabalhos anteriores. Mas ali poderia estar em um momento novo de vida, com a Yoko; mais leve, tranquilo e deixando seu amigo conduzir as coisas. Os fãs mais ardorosos de John podem não ter curtido muito essa coadjuvância de seu ídolo, mas para mim, que sempre fui muito mais Paul, está tudo certo.

No primeiro episódio, enquanto conversavam sobre onde seria o show, e algumas ideias foram lançadas, Macca deu o tom. Disse mais ou menos assim “tem que ser em um lugar meio proibido, em que a gente comece a tocar escondido e a polícia venha nos tirar, como no Senado”. Acabou sendo no rooftop, exatamente dentro desse espírito.

Harrison

A discussão com Paul (muito polida, inclusive, a meu ver), que fez com que George quase deixasse a banda, não passou de um fato corriqueiro em uma sessão de ensaio de qualquer artista. Demonstrou mais a insegurança do guitarrista, que era mais novo que os companheiros e que queria se afirmar como compositor, do que uma animosidade real. A versão do filme “Let It Be” da época tentou mostrar o contrário. Só quem já esteve em uma banda sabe que é normal. Que grupo nunca passou pelo problema da música não estar evoluindo em arranjo quando está sendo executada repetidas vezes sempre da mesma forma por todos integrantes? Paul estava apenas pedindo que fosse decidido o que fazer ou a coisa não sairia do lugar. Com o calendário apertado, novamente o baixista mostrava protagonismo na condução, querendo ser prático, objetivo e desenvolver um processo eficiente.

A composição de “Get Back” e “The Long and Winding Road”

É incrível assistir as  músicas que estão no imaginário coletivo serem compostas na nossa frente. Não tem preço, ainda mais para alguém que gosta de tocar e compor como eu. Ficava torcendo para que Paul achasse os acordes e as palavras: “Vai, Paul! Vai, Paul!”. Queria soprar a dica que “Get Back” devia voltar à primeira nota da harmonia antes de acabar a sequência de compassos, como ela é na versão final! Muito legal! Arrepiante!

A ideia do show na Líbia

O diretor da época, Michael Lindsay-Hogg, estava com a ideia fixa de realizar o show em um anfiteatro em ruínas no litoral da Líbia. É muito engraçado vê-lo tentando convencer todo mundo. Quando Paul diz que Ringo não gostaria de sair do país, o diretor logo mais aparece passando a conversa no baterista. Hilário! Ele não quer desistir da sua ideia genial. Sem dúvida, claro, seria antológico. Mas certamente, se os Beatles tivessem seguido a ideia do diretor, Pink Floyd não teria tocado nas ruínas de Pompeia quatro anos depois. Não seria inovador. E isso me fez lembrar do filme “Yesterday”, que mostra como o mundo seria diferente se os Beatles não tivessem existido. Se você não viu, veja “Yesterday”!

Ringo Starr

Ninguém questiona que o baterista era o mais tranquilo de todos. Se restingia a segurar suas baquetas e a seguir sugestões do Paul sobre como compor levadas e climas. Por outro lado, não significa que não era respeitado. Por três vezes, pelo menos, isso fica bastante claro. A primeira, e principal de todas, é que o projeto tinha prazo para ser finalizado justamente porque Ringo participaria de um filme. A segunda, que já citei acima, é quando Paul diz que é o amigo que não quer sair do país, para dissuadir a todos da ideia de gravar na África. E a terceira e mais legal de todas, é quando os quatro estão conversando sobre a sugestão de se apresentarem no telhado. Paul é contra, Lennon fala, fala, mas não deixa clara sua posição. Harrison diz que é “definitivamente” contra. Mas Ringo diz algo como “eu gostaria muito de tocar no telhado”. Pra mim o filme poderia ter acabado ali! Não haveria nada mais significativo para demonstrar a amizade que tinham, e o valor que davam ao companheiro, do que sublinhar que a palavra final sobre um dos feitos mais icônicos da carreira da banda (além da foto deles atravessando a faixa de segurança na Abbey Road) foi de Ringo Starr.

Os demais elementos

Muito legal ver como a equipe era enxuta, como a banda era simples. O engenheiro de som Glyn Johns se mostrou muito mais produtor do que o próprio George Martin, que pouco se manifesta. Inclusive o técnico deu até palpite no arranjo de “Let It Be”. O privilégio daqueles assistentes que ficavam trazendo chás e torradas é sublime. Mas o destaque maior, o mais simpático e carismático, sem dúvida, era Mal Evans, que demonstrava toda sua alegria em participar, inclusive musicalmente de alguns momentos. Mal era assistente desde a época do Cavern Club, o que demonstra a fidelidade e generosidade que o grupo sempre teve. Infelizmente, Mal faleceu precocemente, em 1976.

Yoko

Peter Jackson preferiu mostrar uma Yoko Ono calada. Ou foi a própria que só assim o permitiu. O que muitos diziam sobre ser a causadora da dissolução do grupo (e os mais entendidos beatlemaníacos não corroboram totalmente com essa versão) não se mostra neste filme. O que vemos é um casal apaixonado, parceiro, a ponto de John fazer questão de mantê-la a seu lado, mais até do acho que deveria, quando se trata de uma banda trabalhando. O núcleo de um grupo é sagrado em momentos como esse.

A rivalidade entre Paul e John

Isso é outra lenda que não aparece. Os dois se mostram bastante amigos. E não há relação animosa que consiga ser disfarçada em 22 dias sob gravação constante de câmeras. Vi em uma entrevista Paul falando sobre o filme. Ele diz que o documentário o fez se lembrar de como se davam bem mesmo, coisa que a mídia e o tempo transcorrido pareciam querer provar o contr´ário para ele mesmo. Claro que pode ser apenas conversa para boi dormir, mas não é o que a “verdade” da película demonstra.

Um material sublime

Como é bom poder ter acesso a um produto dessa dimensão. Geralmente (e é compreensível que seja assim), as escolhas de finalização primam por uma entrega enxuta, objetiva, sintética. Aqui, a imersão das quase oito horas de material nos transporta para a época, nos faz entrar em suas cabeças, viver aqueles dias com eles. É um produto para quem é fã. Não serve para quem está descobrindo a banda, claro.

Parece que Peter Jackson tem outra versão, de cerca de 16 horas, que será lançada em bluray. Nem sabia que isso ainda existia, mas é certo que já comprei.

Cucaverso

Banheiro.

Desodorante em uma mão, tampa na outra, enquanto usava. Um gesto brusco, descuidado, e a tampa escapuliu por entre meus dedos rumo ao chão. Cerca de um metro e vinte rodopiando. Meu primeiro instinto foi o de pegar no ar. Refleti que movimentos bruscos e repentinos costumam trazer consequências à minha lombar.

Deixei pra lá.

Continuava caindo.

Ponderei que, talvez, se me movimentasse com cautela, não haveria problema. Mas já tinha se passado algum tempo e, mesmo com toda habilidade, seria em vão.

Definitivamente, não arriscaria. Quem sabe se deixasse quicar na lajota e agarrasse na volta? Aí, sim, daria! Em trajetória ascendente, certamente era mais fácil e seguro pra coluna.

O chão se aproximava.

Por outro lado, a tampa de formato irregular dificilmente retornaria na mesma trajetória. Se fosse esférica… Mas era conoidal.

Atingiu o piso do banheiro e voltava.

Arquei o braço ao chão. Catei o objeto quicante e espirulitado.

Me senti o Homem-aranha.

A cultura musical do Tik Tok

Volta e meia minha filhas estão cantando músicas antigas, da década de 60, 70, 80…Semana passada foi ABBA, ontem foi George Michael. Só pra citar as mais recentes.

Mas não se trata de um trabalho de pesquisa antropológica e cultural delas. É que algumas canções de décadas passadas viralizam no Tik Tok, sendo trilha sonora de vídeos replicados, trends e sei lá mais como chamam.

Acaba sendo uma ajuda para manter o repertório e o gosto musical das meninas fora da câmara de resistência cultural que é meu carro, onde quem manda no som que toca sou eu.

Mas quem diria, hein? — “Tik Tok”! Dando um forcinha lá em casa…

Outra constatação sobre esse resgate que a plataforma promove, e que enche meu coração de revanchismo, é que as pessoas vão acabar descobrindo de onde vêm as ideias de Bruno Mars pras suas músicas.

Um novo formato de amigo-secreto

Amigo-secreto é sempre um saco. Você tira quem não quer, compra um baita presente que a pessoa não gosta e ganha algo que odeia. A maioria não são matchs, são dismatchs. Então, pensando nesse ódio que destila depois de uma noite ensanguentada por um amigo-secreto, tive uma ideia para inovar o Natal de todas as famílias.

Chama-se chantagem-secreta. O segredo não é o amigo (ou inimigo) mas informação que aquela relação esconde.

Há sorteio prévio, mas serve apenas para definir uma ordem. O primeiro escolhe uma pessoa de quem ele guarda um segredo e anuncia o nome para todos: “Eu sei um segredo sobre o João! Ele será meu chantageado”. E a sequência segue até que todos tenham alguém para chantagear e alguém para o chantageá-lo. A tendência é que os últimos não sejam tão interessantes ou comprometedores, mas os primeiros terão potencial de acabar com casamentos e causar assassinatos misteriosos, na própria noite de Natal.

No dia da revelação, ele começa a falar sobre o que sabe sobre seu dismatch, de forma cifrada, até que o chantageado resolva o calar com o presente. Se o chantageador achar o agrado chinfrim, segue a narrativa até que fique satisfeito com a oferta.

O que acham?

Não? Não tem clima de Natal?

O Som do Silêncio

Eu achava o máximo o seriado Armação Ilimitada — programa que passava na Globo nos anos 80, dirigido por Guel Arraes. Juba, Lula, Bacana, Zelda Scotch… A linguagem dinâmica, cortes rápidos, supria a ânsia adolescente por rebeldia. Se o jovem de hoje assistir, ficará entediado com o ritmo lento para os dias atuais. Na época, meus pais achavam uma insanidade a câmera e os cortes “rápidos”.

Pois bem, eu fiquei velho, virei pai e, neste último ano, tem me feito mal a velocidade das narrativas contemporâneas. Sejam filmes, seriados, vídeos no Youtube, entrevistas. Tudo é curto, podado, sem desenvolvimento. E não é só linguagem de edição. É profundidade mesmo. Ninguém quer mais respirar, refletir, aprofundar, ouvir os silêncios.

No cinema

Compare o filme Superman de 1978 com um Avengers da vida. No primeiro, temos meia dúzia de personagens desenvolvidos em uma história de 2h20min. Dá pra nos aprofundarmos em suas personalidades, aflições, angústias, propósitos, peculiaridades. Os melhores Superman (e Clark Kent), Louis Lane, Lex Luthor de todos os tempos. Não tem pra ninguém. Um baita filme até hoje. Agora pense no último Avengers: 50 personagens disputando cada frame dos 180 minutos, em uma edição frenética que te deixa tonto, com um roteiro construído em uma planilha de Excel, para conseguirem engatar um filme com o outro e licenciar tudo que for possível para o mercado. Eu gosto da Marvel e acho que fizeram um trabalho excelente, sem precedentes. Mas fico cada dia mais desestimulado a consumir propostas assim.

Acredito que as séries estão se tornando populares por isso. A gente quer entrar dentro de cada personagem e sentir o que eles sentem. Queremos nos identificar com dilemas, dores e entusiasmos.

Talk Shows

Agora vamos aos talk shows. Tanto os americanos, como os nacionais, todos são supereditados, os assuntos são cortados para caberem no formato comercial da TV. Tem programa com entrevistas de 10 minutos. Como assim?!

Mas, quem diria, que a Internet e sua propensão ao descartável, ao consumo rápido, veio para suprir essa deficiência dos bate-papos? Nos foram trazidos os podcasts que, no começo, também eram curtos (não havia nem banda suficiente nem dispositivos confortáveis para se consumir algo mais longo). Agora, o formato estendeu e é difícil encontrá-lo em episódios de menos de 60 minutos. A grande sensação do momento são os podcasts que também vão pro Youtube, em vídeo, e chegam a ter quatro horas de duração. Sim! Parece inadmissível você parar por quatro horas (o bom é que não precisam ser ininterruptas) para consumir um conteúdo de bate-papo. Alguns canais “piratas” ainda criam os cortes, que são fragmentos mais curtos com um título clickbait, e que acabam auxiliando a divulgar os canais originais. Eles gostam e agradecem.

Flow — O Fenômeno Improvável

O maior expoente do momento é o Flow. Igor e Monark são dois não-jornalistas, despretensiosos, com pouco ou nenhum conhecimento sobre os entrevistados (e até sobre a maioria dos assuntos que apresentam), que sacaram que havia gente, como eu, ávida por uma conversa informal, com tempos de respiro, sem pesquisas prévia, com bolas-fora, com vergonhas-alheias, com erros e acertos, entre pessoas que, às vezes, nunca ouviram nem falar umas nas outras. A curiosidade dos dois sobre o convidado dá o tom e a espontaneidade suficientes para tornar o assunto bacana, como se fosse você conversando. E dentro dessa premissa, os caras estão construindo uma grande indústria de conteúdo, com diversos programas (muitos entram ao vivo) em um complexo de estúdios em São Paulo, capitalizando views no Youtube.

Na cola, além dos próprios programas do conglomerado Flow, tem o Inteligência Limitada, do Rogério Vilela, e o Mais Que 8 Minutos, do Rafinha Bastos, entre outros. Eles parecem que estão formando um circuito que os assessorem de imprensa e RPs descobriram ser um caminho oportuno para divulgar seus clientes. Frequentemente acontece de um convidado, na mesma semana, frequentar esses três que citei. Mandetta, Ciro Gomes, Gabriela Prioli, Eduardo Bueno, Luciano Hang, Guilherme Boulos, Luciana Gimenez, Fernando Haddad, Eduardo Bolsonaro, Kim Kataguiri, Rogério Skylab, Danilo Gentili…  São alguns dos nomes que já foram nos 450 episódios do Flow. Às vezes, os caras chegam a fazer dois por dia.

Estou cansado de conteúdos que não se aprofundam, que não dão tempo de respiro, que não te fazem conhecer de fato o convidado (ou os personagens), que te cospem na cara algo que não te satisfaz. Já bastam os áudios em 1,5 ou 2x do WhatsApp aos somos obrigados a dar play na correria do dia a dia.

Quando chegar em casa, quero paz, espaço para pensar e uma boa conversa para assistir, quando faltarem os amigos.

Por que os brasileiros são bons no skate?

A skatista Rayssa Leal — a Fadinha —, de 13 anos, é a medalhista olímpica mais jovem do Brasil. E isso diz muito, não só por ser uma conquista relevante para o país mas sobre a importância do apoio ao esporte em uma nação.

O skate sempre foi uma modalidade marginal. Há algum tempo, poderia ser até questionável para alguns chamá-lo de esporte. Mas não há dúvidas que, dentre os mais populares, um pouco depois do futebol — que, de forma genérica, só precisa de uma bola — ele é um esporte até bastante democrático. Você não precisa necessariamente de uma pista, o capacete é opcional, a joelheira também. Mais acessível que uma bicicleta, que é meio de transporte de tanta gente, a prancha com rodinhas chama atenção das crianças de todas as classes sociais. E repetindo: um pouco depois do futebol.

Para um país ser destaque em um esporte, a primeira coisa que precisa é que tenha uma grande população: quanto mais, maiores as chances de alguém praticar e alcançar sucesso. A segunda necessidade é que ele seja disseminado: quanto mais pessoas praticarem, o resultado do funil de talentos será mais rico. Não somos referência no futebol mundial por causa de um dom que se adquire quando alguém (descendente de qualquer uma das dezenas de etnias que nos formam) nasce dentro dos limites geográficos do nosso território. Somos bons nisso porque nossas crianças chutam bolas desde que nasceram e porque nossa população é de 211 milhões de brasileiros. Em outro patamar, uma relação parecida também está presente no skate e no surf.

Agora, vamos inverter o raciocínio. Todo mundo já ouviu falar em Torben e Lars Grael. Esses irmãos, juntos ou separados, ganharam seis medalhas olímpicas para o Brasil de 1988 a 2000. Filhos de uma família iatista, com posses, e bons mesmo na modalidade, tiveram sucesso em competições. E, agora, a filha de Torben está em Tóquio disputando um lugar no pódio e é favorita. E se a prática fosse mais disseminada no país? E se mais pessoas (ou famílias) tivessem condições de bancar um esporte caro como este? E se houvesse mais apoio a esportes de qualquer tipo no país? Quantas medalhas teríamos nas olimpíadas? Basta olhar para as nações que levam o esporte a sério.

Um país que apoia o esporte, além de criar exemplos de saúde, bem-estar, superação e recompensa para seus cidadãos, ganha visibilidade no mundo. Você já ouviu falar no Pelé, né? A simples menção de seu nome continua abrindo portas no exterior para qualquer brasileiro.

Além disso, apoiar o esporte não é assistencialismo nem a mão do estado cuidando do que não deveria. Apoiar o esporte significa tornar diversas modalidades mais populares, incentivar tanto sua prática quanto sua audiência. Isso ajuda a criar campeonatos os quais a iniciativa privada terá interesse de patrocinar, bem como atletas e equipes. Olhem onde o futebol chegou. Talvez tenha ido até longe demais. Nem precisava tanto.

Mas a linha de raciocínio não para nas práticas esportivas. E se todas as pessoas tivessem mais oportunidades, por exemplo, na educação, ampliando para o campo profissional, nas artes, na ciência? O que seria este país no mundo? Sua relevância nos meios produtivos, tecnológicos, científicos e, inclusive, de “imagem de marca”?

O capitalismo é uma bicicleta em curso. No início, precisa de uma rodinha para aprender a se equilibrar, depois pedala por conta própria, talvez com algumas paradas para encher os pneus.

Nomes de bandas que não tive

Para quem sempre gostou de música e teve projetos musicais com os amigos, é impossível não surgirem ideias de nome de bandas, mesmo quando não se está em busca. Passei a anotar. Daí surgiu uma lista de nomes para bandas que talvez um dia fosse ter.

Hoje tenho clara convicção que um nome de banda (ou a marca de qualquer coisa) deve surgir de acordo com a identidade do projeto e não o escolhendo de uma lista. Como tenho muito mais ideias do que reencarnações pela frente para criar projetos musicais, então resolvi compartilhar as mais legais. Se não servirem para o conceito específico que alguém procura, podem ser úteis como brainstorming. Em último caso, apenas para algumas risadas. Pois é, a maioria é pra banda bem-humorada.

Os Implicantes

Todo mundo conhece os Replicantes, né? Mas quando se tem um clima bom dentro da banda, é impossível que a intimidade não crie implicâncias saudáveis entre os membros.

Desmamados no Vizinho

Antigamente, principalmente no meio rural, quando as famílias tinham muitos filhos, era comum, para que o rebento mais novo deixasse logo de ser tão dependente da mãe (afinal ela tinha muitas outras coisas para fazer), que o mandassem passar um mês na casa do vizinho. Sem ver a mãe todos os dias, seria mais fácil abandonar a amamentação materna. Imagina o trauma.

Guri de Merda

Esse é um clássico. Aquela forma “carinhosa” de chamar o piá que só faz besteira. Cabe bem em uma banda rebelde.

Punheta Interrompida

Imagine uma banda punk de adolescentes de apartamento, cuja a maior revolta é quando acontece isso. Só imagine.

Ainda

Esse seria para uma banda dedicada a covers de canções antigas.

Os Cafonas

Na mesma vibe da de cima, ou na de uma autoral, inspirada na Jovem Guarda e com trajes específicos.

E Eu Com Isso

Meu vô sempre dizia.

Como Diz O Outro

Mais uma do Vô Peres.

Os Bocomocos

Expressão para aquele que é meio abobado. Nem existe no VOLP.

Gasguitas

O adjetivo é comum de dois — até existe no VOLP — mas cai muito bem para uma banda só de mulheres, onde as guitarras têm papel preponderante.

Liganete Viscolycra

Na esfera non sense, baseado nesses tecidos modernos com nomes engraçados.

Doble Chapa

Esse é capaz de até ter. Cabe bem para propostas de bandas do sul, que misturam espanhol e português. Além, claro, do duplo sentido viajandão que algumas apreciam.

Burro Freguês

Outra expressão dos tempos de criança. Seria legal para grupo de animação de festa infantil, ou projeto musical para os pequenos.

Três-Contigo

Mais uma do meu avô. Ele usava como vocativo: “ô, três-contigo!”. Ficaria bem para uma dupla, onde o terceiro é o ouvinte.

Mil Invertido

Como se fala em CNPJ, para uma banda de um homem só. Sabe aqueles homens-banda? Ou uma banda de administradores.

9 Entre 10 Dentistas

Pô, esse é massa para bandas formadas na faculdade de odontologia. Ou não.

Aqui Jazz

Para aquela banda de jazz que só toca clássicos de compositores falecidos.

Aqui Abriu Normal

Banda de designers.

Branda

Um sonzinho relaxante.

Quibebes Selvagens

Banda cover do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens.

Undercover

Covers só de bandas underground, ou banda de cover que toca em metrô.

Cólica

Formada só por mulheres, fazem só covers da banda Cólera.

Ninguém Nada Menos

Serviria bem para banda cover de um artista muito icônico, como Elvis, Michel Jackson…

Desaforo

Combina bem com músicas de dor de cotovelo.

É Cáqui ou Caqui?

Uma banda que veio pra confundir ou pra explicar?

Los Hermenas

Banda cover do Los Hermanos que reside na Praia do Hermenegildo.