O Frisson dos Megapixels


A primeira câmera fotográfica digital que usei foi uma Sony Mavica, da minha amiga Gigi, de 1,3MP, que salvava os arquivos em disquetes de 3 1/4. Cabiam de 10 a 15 fotos em um disco de 1,44Mb. Era o que tinha de melhor. Um trambolhão, mas não precisava mandar para o laboratório. Era isso ou usar filme, revelar, ampliar e escanear para trabalhar com a imagem. Hoje não se encontra nada com menos de 5MP de resolução no mercado (nem celulares) e os menores cartões de memória são de 2Gb. Cá entre nós, 5 megapixels são mais que suficientes para as necessidades da esmagadora maioria dos consumidores.

Com 5MP pode-se imprimir no tamanho de uma folha A4 com qualidade profissional. Para se ter uma ideia, cabem 4 fotos 10 x 15cm em uma folha A4. Ou seja, bastariam os 1,3MP da citada Mavica pra deixar quase todo mundo feliz com seus albinhos impressos. Por coincidência, ou não, é a mesma quantidade de pixels da maioria dos monitores domésticos de hoje em dia – 1280 x 1024. Então, por que as pessoas continuam querendo mais e mais resolução? Para ocupar mais espaço no HD?

Uma vez um jornalista da TV fez um teste (veja a reportagem aqui). Pegou três câmeras amadoras (point-and-shoot) da mesma marca e modelo, cuja única diferença era a quantidade de megapixels (7, 10 e 13MP). Levou-as a um estúdio profissional e fez três imagens idênticas de um cesto de frutas, com iluminação controlada e resolução máxima. Depois imprimiu em laboratório fotográfico no formato 30x25cm. Expôs na rua, uma ao lado da outra, e solicitava a quem passasse identificar qual a melhor. Depois de dezenas de opiniões e uma confusão generalizada, muitas pessoas preferiram a de 7MP. A explicação é a seguinte: em equipamentos não-profissionais, o CCD (sensor que capta a luz para formar a imagem) não tem qualidade suficiente para grandes resoluções. Quando elas ocorrem, a quantidade de pontos sensíveis à luz é maior em um mesmo espaço do CCD, causando seu aquecimento ir além do desejado e a precisão de cada pixel ser prejudicada. Isso gera imperfeição na reproduçāo de cada cor e na definição das formas. Sutil, mas acontece. Isso sem falar no ruído que aparece principalmente em condições de menos luz. Já em câmeras profissionais, o tamanho e as características de arquitetura dos CCDs são projetados para as resoluções as quais o equipamento se propõe.

Por isso, ao procurar uma câmera, esqueça os megapixels. Acredite: todas as atuais já lhe oferecem a quantidade suficiente. O que vai influir na qualidade da imagem é a parte ótica do equipamento e o tamanho do sensor CCD. Valorize isso em conjunto com um fabricante eletrônico inquestionável e com tradição no segmento.

Para quem está rindo da Mavica com disquete, reflita que talvez a sua Xing-Ling de 15MP seja bem mais engraçada.

Um comentário em “O Frisson dos Megapixels”

  1. Tive uma Mavica dessas durante alguns anos. Se você usar flash, mesmo de dia, até hoje ela produz boas fotos (a minha ainda funciona), com certeza melhores do que as de qualquer telefone, pois seu CCD é bem grande. Sou fotógrafo profissional, fotografo produtos e alimentos, e uso uma Canon de 11 megapixels. De nada adianta ter uma câmera de 30 megapixels para vender fotos que serão usadas em sites. Essa superdimensão de equipamentos serve apenas para se jogar dinheiro fora. É como ter um puro sangue árabe para puxar uma carroça. Belo texto. Adorei!

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