Por que os brasileiros são bons no skate?

A skatista Rayssa Leal — a Fadinha —, de 13 anos, é a medalhista olímpica mais jovem do Brasil. E isso diz muito, não só por ser uma conquista relevante para o país mas sobre a importância do apoio ao esporte em uma nação.

O skate sempre foi uma modalidade marginal. Há algum tempo, poderia ser até questionável para alguns chamá-lo de esporte. Mas não há dúvidas que, dentre os mais populares, um pouco depois do futebol — que, de forma genérica, só precisa de uma bola — ele é um esporte até bastante democrático. Você não precisa necessariamente de uma pista, o capacete é opcional, a joelheira também. Mais acessível que uma bicicleta, que é meio de transporte de tanta gente, a prancha com rodinhas chama atenção das crianças de todas as classes sociais. E repetindo: um pouco depois do futebol.

Para um país ser destaque em um esporte, a primeira coisa que precisa é que tenha uma grande população: quanto mais, maiores as chances de alguém praticar e alcançar sucesso. A segunda necessidade é que ele seja disseminado: quanto mais pessoas praticarem, o resultado do funil de talentos será mais rico. Não somos referência no futebol mundial por causa de um dom que se adquire quando alguém (descendente de qualquer uma das dezenas de etnias que nos formam) nasce dentro dos limites geográficos do nosso território. Somos bons nisso porque nossas crianças chutam bolas desde que nasceram e porque nossa população é de 211 milhões de brasileiros. Em outro patamar, uma relação parecida também está presente no skate e no surf.

Agora, vamos inverter o raciocínio. Todo mundo já ouviu falar em Torben e Lars Grael. Esses irmãos, juntos ou separados, ganharam seis medalhas olímpicas para o Brasil de 1988 a 2000. Filhos de uma família iatista, com posses, e bons mesmo na modalidade, tiveram sucesso em competições. E, agora, a filha de Torben está em Tóquio disputando um lugar no pódio e é favorita. E se a prática fosse mais disseminada no país? E se mais pessoas (ou famílias) tivessem condições de bancar um esporte caro como este? E se houvesse mais apoio a esportes de qualquer tipo no país? Quantas medalhas teríamos nas olimpíadas? Basta olhar para as nações que levam o esporte a sério.

Um país que apoia o esporte, além de criar exemplos de saúde, bem-estar, superação e recompensa para seus cidadãos, ganha visibilidade no mundo. Você já ouviu falar no Pelé, né? A simples menção de seu nome continua abrindo portas no exterior para qualquer brasileiro.

Além disso, apoiar o esporte não é assistencialismo nem a mão do estado cuidando do que não deveria. Apoiar o esporte significa tornar diversas modalidades mais populares, incentivar tanto sua prática quanto sua audiência. Isso ajuda a criar campeonatos os quais a iniciativa privada terá interesse de patrocinar, bem como atletas e equipes. Olhem onde o futebol chegou. Talvez tenha ido até longe demais. Nem precisava tanto.

Mas a linha de raciocínio não para nas práticas esportivas. E se todas as pessoas tivessem mais oportunidades, por exemplo, na educação, ampliando para o campo profissional, nas artes, na ciência? O que seria este país no mundo? Sua relevância nos meios produtivos, tecnológicos, científicos e, inclusive, de “imagem de marca”?

O capitalismo é uma bicicleta em curso. No início, precisa de uma rodinha para aprender a se equilibrar, depois pedala por conta própria, talvez com algumas paradas para encher os pneus.

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