No Escurinho É Mais Gostoso

As pessoas costumam reclamar quando algumas ruas carecem de iluminação pública. Os motivos são dois: enxergar para deslocar-se e a segurança. Quanto ao deslocamento, se cada um levasse uma vela, um lampião ou uma lanterna, estaria resolvido. Ainda por cima, com muito menos custo do que a manutenção do sistema público exige. Com relação a carros, cada um tem seu farol. Não existem sem. É lei. No quesito segurança, quem conhece pesquisas que indiquem que a falta de luz aumenta a criminalidade? O escuro, o soturno, as sombras são muito usados nas artes para despertar suspense, medo e aflição. Mas quem disse que esses elementos da ficção têm consequências concretas na realidade? Um ladrão enxerga o mesmo que eu, tanto na luz do dia quanto na escuridão. Um estuprador não usa um aparato de visão noturna que lhe dê vantagem visual contra sua vítima. Um vampiro… Nem mesmo um vampiro teria vantagem à noite. Ele teria é desvantagem de dia, pois não suportaria a luz do sol. Mas, nesse caso hipotético, a iluminação pública artificial também não ajudaria, pois é apenas com raios solares que ele padece.

Mas voltando a falar sério… O cidadão está em igual condições visuais com o infrator tanto na luz quanto no escuro. Não é a quantidade de lux que vai garantir sua segurança ou vitimá-lo. Sabe aquela história de deixar uma lâmpada acessa no pátio de casa, na varanda? Sou contra. Quem melhor do que eu conhece minha casa, meu jardim? Quem sabe onde termina a grama, começa a brita; sabe a altura dos degraus, das saliências, a posição das árvores, a distância do muro, onde a mangueira está enrolada? Quem leva vantagem no escuro? É claro que eu. Se nas ruas há um empate, na minha casa, sou o mestre.
Quer outro fato que comprova minha tese? Imagine um pedestre cego. Claro que seria um alvo fácil. Mas agora visualize um bandido também cego pronto para atacá-lo. Claro que sempre o agressor tem a vantagem da iniciativa, mas isso nada tem nada a ver com a condição visual.

Voltando ao vampiro… De repente, algum deputado propõe um projeto para disponibilizar estacas públicas, a cada cem metros, nas ruas, ao lado das lixeiras, caixas de correio ou orelhões. Aí, sim! Se lembram? Já até tentaram algo semelhante com o kit de primeiros socorros e com o cambão nos carros.

Vida de Pai

No final de outubro, a escolinha de minha filha resolveu comemorar o Dia dos Pais. Por causa da gripe A, a volta das férias de julho foi adiada e a tradicional festinha de homenagem também. Não é preciso dizer que, na ocasião, dei graças a Deus. Podia apostar que o evento não se realizaria! Mas aconteceu. Sou totalmente bicho do mato e antissocial, pra não dizer antipático. Nunca sei o que falar em situações assim e fico constrangido com a minha falta de papo e respostas monossilábicas. “Fosse na festinha do ano passado?” “Ã-rã!” — resmungo.

Conforme marcado, 16h30 de sexta, lá estava eu, sentado em uma cadeirinha de criança com outros 50 pais desconfortáveis. O atraso de meia hora não colaborava com minha lombar. Um pai ao meu lado, visivelmente contrariado, não parava de olhar o celular e, certa hora, aflito, resmungou: “Acabou a bateria! Acredita? Logo agora! Acabou a bateria!” Franzi o queixo e fiz cara de “que coisa…”, balançando a cabeça.

O evento começou com a coordenadora pedagógica (ou algo que o valha) proferindo um texto em homenagem a nós. “Pai, muito obrigado por existir, por brincar comigo… Por me dar segurança… Por me repreender quando é preciso… — blá, blá, blá — E por, toda tarde, voltares pra casa.” O quê? “Voltares pra casa”? Na mesma hora, fiz uma brincadeira: “não sabia que existia a opção de não voltar”. O esquisitão ao meu lado, ainda abalado pelo desfalecimento de seu telefone, perguntou: “o que ela falou sobre opção?”. Totalmente fora da casinha.

A primeira apresentação das crianças começou. Era o grupo dos pequenos. De um a três anos, aproximadamente. Tocou uma música do Tim Maia interpretada por Ivete Sangalo, em gravação ao vivo, cheia de tira-o-pé-do-chão, improvisações etc. Versão totalmente inadequada a esse tipo de apresentação. As crianças estavam estáticas, procurando os pais na plateia. Imagino que era pra dançarem e cantarem, visto que as “tias” faziam uma coreografia, agitando as mãos freneticamente e acompanhando a letra. Em seguida, foi a vez do segundo grupo, de três a cinco anos — o que minha filha fazia parte. Outra música do Tim Maia pela Ivete Sangalo, ao vivo — provavelmente do mesmo CD que pulava de tão arranhado. A canção era “Você”. O grupo mais velho tinha um pouco mais de desenvoltura e assimilou melhor os ensaios da semana. Todos cantavam: “não, não vá embora / vou morrer de saudade…” De novo?! “Que problema eles têm com os pais? Acham que todos vão se mandar, sair para comprar cigarros e abandonar a família? Que horror!” Fiquei chocado.

Mas o pior estava por vir. Depois de um slideshow não anunciado, que ninguém prestou atenção, exibido em uma desproporcional tela para o local, as tias fizeram um teatrinho. Esconderam-se atrás de uma janela e empunharam fantoches em meio à gritaria dos pequenos e desrespeito total dos pais, que conversavam como se nada estivesse acontecendo. Não consegui escutar uma palavra sequer do texto que era dito através pelos microfones do DVD-karaoke e reproduzido diminuto nas caixas de som da TV.

Minha mulher tinha alertado: “adivinha o presente superútil que vais ganhar?”. Chutei: “um cachimbo!”. Imagino as tias fazendo uma reunião de brainstorm para criar a festa: “Deixa eu pensar, deixa eu pensar… Pai… Pai… Deixa eu ver… Pai… Ã… Futebol… Gravata… Ã… Cachimbo… Chimarrão e… Churrasco!”. E é claro que tinha churrasco! Às 5h30 da tarde! Não é perfeito? Saí de lá me sentindo muito mais pai do que quando eu cheguei.

Brincadeiras à parte, esse tipo de evento é importante para as crianças e é por isso que eu fui. A escolinha é muito boa, só as tias são um pouco atrapalhadas. Só um pouco.

Uma Geração Atrás

Sim, eu sou do século passado, como todos que devem estar lendo isto. Mas não é desse tipo de geração que estou falando. Minha questão é sobre equipametos eletrônicos portáteis

Tenho certo constrangimento quando me ponho, em público, a manusear certos gadgets. Explico melhor: quando foi lançado, é claro que eu queria ter um iPod, tanto que comprei pouco depois. Mas preferi um preto e pequeno (Nano). Ao encomendar, achei que os fones também seriam escuros; discretos. Minha intenção era não parecer estar usando um iPod. Era sinal de status andar com fones brancos nos ouvidos, mesmo que o som estivesse saindo de um Jwix ou qualquer outra marca-diabo – sou avesso a modismos e mais ainda a exibimentos. A decepção foi quando chegou e os fones não eram da cor aparelho. Só não fiquei mais frustrado do que com a anatomia e som que saiam dele. Imediatamente resgatei os meus antigos fones Sony que, além de tudo, são pretos.

Uma vez estava em um aeroporto, quietinho com meus in-ear pretos e com o Nano em sua capa de couro no bolso, quando sentou ao meu lado um gurizão com um iPod Video gigantesto, branco e, pasmém, dependurado no pescoço. Deu vontade até de mudar de lugar. Sabe vergonha alheia?

E quando chegaram os celulares? Na época, disse que só teria um quando deixasse de ser extravagante e chamativo atender a uma chamada no meio da “Mesbla”, por exemplo. Mas os dito-cujos se popularizaram rápido e logo tive meu telefone móvel. E a Mesbla, coitada, fechou.

Penso o mesmo sobre o iPhone. Claro que eu estou me mordendo pra ter um. Mas imagina eu escrever este texto, no meio da festa de aniversário da minha afilhada, em um iPhone. Ninguém percebeu enquanto eu fazia isso com meu Nokia de 3 anos atrás. Mas não passaria incólume com um iPhone.

O pior é que, à medida que vou ficando mais velho, só tende a piorar.

Acabou a discussão: “tele-entrega” é com hífen

Antes da reforma ortográfica, a discussão era constante. Uns defendiam que o prefixo “tele”, por não exigir hífen, gerava “telentrega”. Outros, mais radicais (que vão na raiz do problema), eram enfáticos: “tele-entrega”. A justificativa era que “tele”, significa distância (telecomunicação, comunicação a distância; televisão, visão a distância; telefone, som a distância) e “tele-entrega” não é entrega a distância, mas telefone-entrega, ou seja, entrega realizada por solictação telefônica. Portanto, “tele”, nesse caso, não seria prefixo, mas a forma reduzida da palavra “telefone”. Mesmo que essa simplificação não seja formalmente permitida na língua portuguesa, para ficar menos errado, seria exigido o uso do hífen.

Eu, por outro lado, sempre preferi pensar que, se foi construído um verbete popular de forma imprópria, problema dele; sua escrita não deveria continuar colaborando com o equívoco. Que fique errado o significado, mas que escrevamos conforme a regra ortográfica. Sendo assim, sempre escrevi “telentrega”. Até porque, a segunda vertente é bem menos assimilada e conhecida do que a primeira e as chances dela ser uma baita de uma viagem é maior ainda.

Porém, depois da reforma que uniu as ortografias dos países de língua lusitana, a discussão foi pro saco. Diz a nova regra que quando a vogal final do prefixo é igual a inicial do radical, usa-se o maldito tracinho. É o caso de “micro-ondas”, coitado. Difícil de se acostumar.

Se você ainda tem a pulga atrás da orelha, acha feio ou tem medo que digam que está errado, use “delivery”, “telepedidos”, “telecompras” ou “ligue pra gente”.

Então…

Não suporto mais os padrões do jornalismo da Rede Globo. Por que toda a vez que falam do PIB têm que explicar “a soma de todas as riquezas produzidas no País”? Não é de vez em quando. É sempre! Não podem ser tão eficientes assim. Por que, a cada vez que divulgam uma pesquisa de opinião, têm que dizer, após falar da margem de erro, “tanto pra mais quanto pra menos”? Blerg! Arggg! TODAS AS VEZES! Não é possível que subestimem tanto a inteligência das pessoas e que façam isso sistematicamente. E quando falam de alguma medida de grandes proporções e comparam com campos de futebol? “A nova indústria do grupo tem o tamanho de 15 campos de futebol.” Que desserviço é esse? Nunca ouviram falar em metros quadrados? Acres, hectares? Tá certo que grande parte do povo não sabe o que é um hectare, mas não é uma das funções do jornalismo fazer pensar? Ensinar a pensar?

Nada a ver com a Globo, mas dentro do mesmo assunto para o qual ando com a tolerância abaixo do zero: e os entrevistados que iniciam suas respostas com “Então…”? “Então…” é o novo “Tipo, assim…”. Todo mundo debocha do texto proferido pelos jogadores de futebol, mas já notaram que são os jornalistas que perguntam sempre a mesma coisa?

— O que você espera do jogo?
— Ah, espero perder. Não estou muito confiante hoje. Acordei com um mau presságio.
— E vai mais um golzinho aí, para continuar artilheiro?
— Nah! Hoje tô cansado. Só se for contra. Vou ficar lá conversando com nosso goleiro. Se pintar bola na zaga, eu meto pra dentro. Será que vale para a conta da artilharia?

E quando fazem matérias onde o repórter chega em uma casa, cumprimenta as pessoas, mas a câmera já estava lá dentro? De certo o cinegrafista chegou antes, escondido, pela janela, e ficou aguardando atrás do sofá. Quando o jornalista bateu na porta, começou a gravar e captou a surpresa do entrevistado ao receber uma visita tão inesperada. E quando gravam a família fingindo suas atividades diárias costumeiras, como se nada de diferente estivesse acontecendo?

O jornalismo não deveria contar a verdade? Fazer historinha é pro cinema, pra novela, pro gibi. Quando falo sobre esse assunto, geralmente devolvem a crítica falando da minha profissão, de publicitário: “e não se mente na propaganda?”. Em um nível superimaginativo, até que sim. Mas a questão é que, com anúncios e comerciais, todo mundo tem o pé atrás; já assistem armados, na defesa. Com matérias jornalísticas, as pessoas tendem a se portar ingenuamente, a acreditar piamente, como se fosse pura verdade. O jornalismo é muito mais nocivo do que a publicidade, principalmente quando tem segundas intenções. E, em 90% das vezes, tem. A publicidade tem apenas uma: vender. Já o jornalismo, dá pra fazer uma lista de possíveis intenções ocultas. Gosto de pensar assim para limpar a barra com a minha consciência. É tipo um exercício de purificação espiritual.

Cansei de esperar

Passei 34 anos da minha vida (talvez menos, claro) esperando pelos outros. Chegou a hora de esperarem por mim.

Se marcam às 20h, estou minutos ou segundos antes, para não deixar ninguém aguardando. Se não posso, combino outro horário. Não tem nada demais. Não tem nada de difícil. Você não sabe quanto tempo vai levar tomando banho? Não sabe quanto tempo leva para tomar café? Você é daqueles que adianta o relógio para não se atrasar? Está tentando enganar a quem?

Em uma entrevista, Antônio Fagundes falava sobre sua pontualidade. Só que ele chega meia hora antes. Talvez seja a margem de erro para o inusitado em uma cidade do tamanho de São Paulo, para os problemas de trânsito do Rio. Talvez seja mais doente (ou são) do que eu. O fato é que chegar meia hora antes do combinado e a outra pessoa meia hora depois, significa uma espera de uma hora! Não há paciência que aguente. Mas meia hora antes é um exagero. O ideal é chegar na hora marcada.

Passei 34 anos da minha vida esperando pelos outros. Agora, que esperem por mim. Antes de sair para um encontro, vou demorar no banho, ouvir uma música que estou com saudade, molhar a grama, escolher a roupa com calma; decidir, desistir, mudar de ideia; tirar um cochilo. Quando já estiver atrasado, ligarei pra dizer que vou me atrasar. Vou fazer hora.



Ah! Eu não consigo! Por quê, meu Deus?!

O Fim do Comércio Como Nós Conhecemos

Para uns pode soar pseudoprofecia ou arrogância. Para outros, é chover no molhado. O fato é que não é nenhum dos dois casos, pois muitos já discorreram sobre o tema. Porém, acontecerá de forma mais contundente e rápida do que se imaginava. O comércio tradicional – aquele das lojas populares dos centros das cidades – vai acabar. E não dou 10 anos. Minhas constatações começaram a vir à tona na véspera deste Dia da Criança, na procura por uma bicicletinha aro 16, de menina.

Saí de casa às 9h, para pegar menos tumulto. Na primeira loja que visitei, a atendente consultou o terminal para me fornecer o preço. Concordei e disse que ia levar. Para minha surpresa, o preço à vista não valia para cartão de crédito, apenas débito, cheque ou dinheiro. Tudo bem, até entendo. Aceitei. Na hora de emitir o pedido, o sistema não aceitou a transação. A mulher precisou consultar outro banco de dados, que indicava que o valor era 15% maior. Reclamei, ponderei, mas nada. “Não quero mais.” Virei as costas e fui embora.

Sou um consumidor assíduo de lojas virtuais há alguns anos. Desaprendi como é o corpo-a-corpo nas lojas físicas. Minhas experiências recentes com humanos vendedores têm se dado apenas em um nível acima – em shopping centers durante viagens, apenas. Ou seja, algo menos decadente e penoso que o frenesi paraguaiesco do comércio tradicional local.

Na próxima loja, o vendedor atendia a mim e a outra pessoa ao mesmo tempo. Depois de dar a vez várias vezes ao meu “oponente”, consegui saber o preço e formalizar minha intenção de compra. Para surpresa, a grande loja de departamentos não “estava aceitando” cartões de crédito. “Tchau pra ti”.

O Brasil já tem mais de 40 milhões de usuários de Internet. Tem a maioria absoluta dos cadatros no Orkut. Tem 30 milhões de contas de MSN, o maior número do mundo. As classes C e D aumentaram drasticamente sua participação nas compras on line no último ano, muito acima do crescimento nacional da rede no País. Existem 150 lan houses na favela da Rocinha, no Rio. No site de consulta de preços Buscapé, além da forma normal como mostra os resultados de uma busca, permite que o usuário classifique-os de outros modos. É claro que a ordenação mais solicitada é a por preço, mas a segunda, e muito próxima da líder, é a por valor da parcela. Precisa explicar que isso é a democratização da rede e do comércio eletrônico? Há uma geração inteira que nasceu com a Internet já estabelecida. É outra realidade de mundo. Eles não concebem mais que possa existir um computador sem Internet. “Ã? Como assim? Pra que serve um computador sem Internet? Não conheço ninguém que não tenha MSN!”

Como se não bastasse, estava chovendo e ventando, como a maioria dos dias por aqui. Andei mais umas três quadras e cheguei à terceira grande loja. As bicicletas estavam expostas na calçada. Acho que deve ser para concorrer com os camelôs que disputam também o espaço. A atendente, apesar de ser bastante simpática, só conseguia me informar os preços dos modelos que continham cartaz com o valor, dos outros não. Desses, eu não precisava. Sei ler. De repente, outro consumidor interrompe meu papo com ela para perguntar sobre um dos modelos. Aí, eu juntei todo stress acumulado até então e mandei ver:
– Ela está atendendo; a mim!
– Mas eu só quero saber o preço.
– Eu também. Pode esperar a sua vez, por favor?
– Mas estou com pressa.
– Eu também.
– Mas é só o preço que eu quero.
– Eu também e ela não sabe!
– Vou procurar outro vendedor.
– Faz muito bem.
– Palhação! – Ainda proferiu baixinho, de saída.

Quem é que em santa consciência vai encarar o trânsito caótico de uma grande cidade, pagar estacionamento (ou deixar o carro sob os cuidados de um flanelinha qualquer), caminhar na chuva, de loja em loja, pesquisando preços, sendo mal atendido, brigando por sua vez, para ter meia dúzia de opções de compra? Eu fiz isso, mas foi a última vez. Todos os vendedores que eu tive contato esta manhã eram totalmente despreparados para realizar uma venda. Não conheciam nada sobre o produto. Em todas as lojas, o acotovelamento, a disputa por um atendente, a bagunça e o desrespeito estavam expostos com requintes de barbárie; Mad Max.

É claro que o “palhação” sou eu mesmo. Fico até envergonhado por ter sido tão grosseiro na frente da moça, mas paciência tem limite. Ela descobre os preços não marcados e todos estão cerca de 50% acima dos que eu tinha visto em outras lojas. Pergunto se não tem modelos mais baratos. Ela não sabe. É claro. Me chama para um terminal, pega um folheto de ofertas da própria loja e descubro, olhando por cima do ombro dela, que há uma oferta mais interessante anunciada no encarte.
– E esta aqui?
– Ah, esta aqui não. Eles estão montando.
– Beleza. Melhor ainda. Posso levar montada?

Loja física vai ser para poucos. Serão chiques, com os melhores vendedores; aqueles que têm total conhecimento sobre os produtos – mestres prepotentes e cheios de si que adorarão mostrar que conhecem mais do que seus consumidores. Quem preferir este comércio VIP, irá pagar bem mais por isso. Será uma evolução do shopping center. O comerciozão vai ficar marginalizado, adotar o modelo camelô de ser e, se não morrer, no mínimo vai agonizar. Quem quiser sobreviver com qualidade vai ter que vender on line, para o país todo; para o mundo.

Ela sobe. Consulta alguém e volta.
– Pode sim.
– Perfeito, então. Vou levar.
– Só tem que esperar a montagem.
– Ok. Quanto tempo?
– Cerca de uma hora.
– Uma hora? Posso pegar de tarde?
– Tudo bem. Vou deixar reservada pro senhor.
Ela pega meus dados. Confirma que eu já tinha cadastro na loja (ufa!) e faz a reserva. Quero só ver quando eu voltar à tarde.

Torrada de Pão Congelado

Não vou à padaria todo dia. Compro cacetinho (pão francês, para os estrangeiros) uma vez por semana e congelo. Vinte segundos no micro-ondas são suficientes para que esteja apto a ser consumido. Claro que fica pior do que novinho, mas fica bem mais interessante do que pão dormido. E, definitivamente, me recuso a sair de casa de manhã cedo para entrar na “fila do pão”.

Pois não é que, além do processo tradicional, que já contei neste blog, de fazer meu sanduíche matinal, encontrei outro ainda mais gostoso? Chamo de Técnica Beta. Seguinte: corte o pão congelado ao meio (como na Técnica Alfa) e coloque os ingredientes dentro; enquanto isso é feito, a torradeira (ou sanduicheira, para os estrangeiros) está esquentando; depois do recheio pronto, coloque para prensar; é necessário muito jeito e alguma força para conseguir fechar o trinco que junta as chapas, pois a dureza do pão congelado dificulta; após, desligue o aparelho da tomada (isso vai depender do modelo da sua), para que termine o serviço apenas com o calor já adquirido; vá preparar o seu leite com Toddy; em poucos minutos a torrada estará pronta, com a casquinha crocante e o recheio quente mas macio.

O que acontece é que a temperatura baixa do pão impede que o calor da chapa chegue com tanta violência ao centro do cacetinho. É perfeito. Testei também com manteiga e mel e é dos deuses. O mix derretido desses ingredientes junto ao miolo quente me dá vontade de só comer isso pelo resto da vida. Experimente.

Perguntas que me tiram o sono

O carimbo de validade ter desbotado evidencia que o produto está vencido?

Por que quando um imortal da Academia Brasileira de Letras morre, ele é substituído?

Por que espreguiçar bloqueia a audição?

Por que só lembramos do que esquecemos?

Por que estacionam os carros de ré no supermercado, se guardarão as compras no porta-malas?

Dizem que Santos Dumont se matou quando soube que estavam usando aviões para fazer a guerra. Ou foi Einstein por causa da bomba atômica? Não importa. Será que Grahm Bell suicidaria-se ao saber que usam o telefone para tele-marketing?

O Ecad não deveria fiscalizar e cobrar taxas dos playboys que andam ou estacionam seus carros com música (ou algo parecido) a todo volume? Afinal, trata-se de execução pública!

Madonna disse há 15 anos: “não tem por que falar algo se não há uma câmera filmando.” Contemporizando: “não há por que fazer algo se não for para publicar no You Tube.”

“Se uma árvore cai no meio da floresta mas não há ninguém para ouvir, faz barulho?” Contemporizando: “Se um participante do Big Brother dá um peido, mas os microfones não captam, ele realmente peidou?”

Perigo Constante

“Não deixa o portão abrir até o fim porque, depois, ele não fecha.”
“Cuidado com o espelho.”
“Vem carro.”
“Olha a moto.”
“Pode ir.”
“Vai para a direita para os mais rápidos passarem.”
“Dá sinal.”
“Não freia no meio da rua assim!”
“Sabia que tu ultrapassando pela direita, se o cara da esquerda te fechar, a culpa é tua? Não pode ultrapassar pela direita!”
“Vai mais rápido.”
“Vai mais devagar.”
“Este quebra-molas é mais baixo na esquerda. Por lá dá pra passar mais rápido.”
“Olha a bicicleta.”
“Aquele cachorro quer atravessar. Vai atravessar. Tá atravessando. Para!”
“Faz a rótula te mantendo na tua pista.”
“Desliga o pisca.”
“Muda de pista porque tu vais dobrar em seguida.”
“Não fecha o cara.”

Tudo isso eu pensei na ida pro trabalho, mas não disse pra minha mulher. Estou uma semana “de castigo”, andando de carona, pois minha carteira venceu e eu só percebi mais de um mês depois. Ainda não chegou a nova. Até lá, infarto.