Então…

Não suporto mais os padrões do jornalismo da Rede Globo. Por que toda a vez que falam do PIB têm que explicar “a soma de todas as riquezas produzidas no País”? Não é de vez em quando. É sempre! Não podem ser tão eficientes assim. Por que, a cada vez que divulgam uma pesquisa de opinião, têm que dizer, após falar da margem de erro, “tanto pra mais quanto pra menos”? Blerg! Arggg! TODAS AS VEZES! Não é possível que subestimem tanto a inteligência das pessoas e que façam isso sistematicamente. E quando falam de alguma medida de grandes proporções e comparam com campos de futebol? “A nova indústria do grupo tem o tamanho de 15 campos de futebol.” Que desserviço é esse? Nunca ouviram falar em metros quadrados? Acres, hectares? Tá certo que grande parte do povo não sabe o que é um hectare, mas não é uma das funções do jornalismo fazer pensar? Ensinar a pensar?

Nada a ver com a Globo, mas dentro do mesmo assunto para o qual ando com a tolerância abaixo do zero: e os entrevistados que iniciam suas respostas com “Então…”? “Então…” é o novo “Tipo, assim…”. Todo mundo debocha do texto proferido pelos jogadores de futebol, mas já notaram que são os jornalistas que perguntam sempre a mesma coisa?

— O que você espera do jogo?
— Ah, espero perder. Não estou muito confiante hoje. Acordei com um mau presságio.
— E vai mais um golzinho aí, para continuar artilheiro?
— Nah! Hoje tô cansado. Só se for contra. Vou ficar lá conversando com nosso goleiro. Se pintar bola na zaga, eu meto pra dentro. Será que vale para a conta da artilharia?

E quando fazem matérias onde o repórter chega em uma casa, cumprimenta as pessoas, mas a câmera já estava lá dentro? De certo o cinegrafista chegou antes, escondido, pela janela, e ficou aguardando atrás do sofá. Quando o jornalista bateu na porta, começou a gravar e captou a surpresa do entrevistado ao receber uma visita tão inesperada. E quando gravam a família fingindo suas atividades diárias costumeiras, como se nada de diferente estivesse acontecendo?

O jornalismo não deveria contar a verdade? Fazer historinha é pro cinema, pra novela, pro gibi. Quando falo sobre esse assunto, geralmente devolvem a crítica falando da minha profissão, de publicitário: “e não se mente na propaganda?”. Em um nível superimaginativo, até que sim. Mas a questão é que, com anúncios e comerciais, todo mundo tem o pé atrás; já assistem armados, na defesa. Com matérias jornalísticas, as pessoas tendem a se portar ingenuamente, a acreditar piamente, como se fosse pura verdade. O jornalismo é muito mais nocivo do que a publicidade, principalmente quando tem segundas intenções. E, em 90% das vezes, tem. A publicidade tem apenas uma: vender. Já o jornalismo, dá pra fazer uma lista de possíveis intenções ocultas. Gosto de pensar assim para limpar a barra com a minha consciência. É tipo um exercício de purificação espiritual.

5 comentários em “Então…”

  1. Não sei quanto mede um campo de futebol. Mas acho que se me disserem que um lugar tem área equivalente a cinco campos de futebol, vou ter uma boa noção do tamanho. Se me disserem, sei lá, 100 mil m², vou ficar boiando. Minha ignorância é a mesma de GRANDE parte da população, então não acho tão inadequado assim quando os meios de comunicação divulgam uma informação desta forma. Poderiam dar a área correta e complementar (o equivalente a cinco campos de futebol) para de fato educar as pessoas. Mas, fora isso, me parece uma comparação razoável. Concordo que o jornalismo PODE SER nocivo, se mal feito. Mas a publicidade SEMPRE o é, porque SEMPRE quer te convencer de alguma coisa. Claro que, na prática, ambas são fantasiosas…

  2. Vamos entrar com uma solicitação na ABNT para que “campos de futebol” seja considerado unidade de medida, já que a grande parte das pessoas não vai aprender nunca quanto é 100m2. Ehehe O problema é que o jornalismo vem disfarçado, a propaganda não. O jornalismos é o cara que oferece doces para uma criança. a publicidade já vem com capuz e arma em punho.

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