Eu, De Fora de Mim

“Escuta a música que fiz com a tua letra. O que tu acha? Posso colocar no disco?”

Eu não lembrava de ter mandado aquilo para o Felipe (Mello, da Doidivanas). Muito menos de ter escrito. Fiquei confuso demais. Ainda mais se tratando de um dos compositores e cantores mais talentosos com quem tive o prazer de tocar e conviver. Forcei a memória por todos os lados. Enfiei um barbante por um ouvido e puxei pelo outro, pra ver se extraia alguma pista dos meus neurônios. Nada. Nenhum verso relampejava sinapse qualquer. Eu precisava ter uma única prova sequer que aquilo era meu.

“Felipe, tem certeza que esta letra é minha?”

Ele garantia. Pelo menos que havia enviado pra ele. Mas eu estava incrédulo. Afinal, todo mundo pode se enganar, trocar as bolas, fazer uma “felipada”. Tá certo, meu estilo meio fajuto de compor estava ali — palavras óbvias, rimas fáceis, toantes (ou assonânticas), construção reta. Mas isso não bastava. E o pior: “o que eu quis dizer com ela?”. Foi quando, um sopro de sanidade — uma microdescarga elétrica, das mesmas que mantêm um trauma vivo na cabeça — me fez lembrar de um caderno velho onde anotava coisas, versos, ideias em geral. Era um bem surrado da faculdade; reaproveitado. Bingo! Estava lá, com minha caligrafia. Ufa! Alívio! Afinal, o meu nome constaria nos créditos do CD e, definitivamente, não queria cometer injustiça com alguém.

Eu ainda precisava batizar a canção, mas não tinha entendido o contexto e a intenção que dei na época. Tranquilo, me pus a interpretar as figuras de linguagem dali. Pela primeira vez na vida, consegui ver algo meu de fora, isento, com os olhos de um terceiro. E gostei. Fiquei feliz. Estava direitinho, apesar de algumas liberdades poéticas que talvez não me permitisse hoje.

Esse olhar externo foi o que me fez escrever este post. Eu sempre quis ver um show da minha banda, mas estando sobre o palco tocando não era possível. Todo mundo que trabalha com criatividade, e com arte principalmente, carece de opinião. A melhor opinião, sem dúvida, seria a sua mesmo, se fosse possível se ausentar de si para um olhar imparcial.

“Dois Polos” foi como a chamei. Está lá, abrindo o disco “O Som da Paisagem” do trabalho solo de Felipe Mello, chamado “Aeroflip“, o qual também tive o privilégio de fazer o projeto gráfico. E, claro, o disco é ótimo, com destaque para “A Casa das Canções”, “Um Blues Depois de Mim” e “Quando o Coração É Um Violão Desafinado”.

Você pode comprar o CD pelo Facebook, solicitando ao Felipe aqui.

Como o Rock-gaúcho Colaborou com a Desconstrução de Um Estado

(este texto deve ser lido com bom-humor, alguma ironia, desprendimento e felicidade no coração)

O Rio Grande do Sul começou a degringolar quando o rock-gaúcho ensaiou alçar voos nacionais.

Os gaúchos costumavam ser um povo referente para o resto do País. Nossos índices sociais e econômicos, por muito tempo, estiveram no topo das estatísticas. Mas essa imagem veio se perdendo. Não só a imagem, como os fatos. Já falei sobre meu ódio por esse “orgulho gaúcho” imbecil aqui. Eu acredito piamente que, se não uma causa, uma dos primeiros sintomas da decadência foi o rock-gaúcho.

Note que usei “rock-gaúcho”, com hífen, pois não trata-se de preconceito geográfico. Não estou usando o “gaúcho” como adjetivo, mas falando daquele rock feito aqui nos anos 80, que começou a ser reconhecido como tal no resto do país. Ou seja, não estou falando de toda a produção de rock dessa década. Me refiro àquela “marrenta”, lotada de um sotaque forçado — de um magrinhês “que me fez te pegar nojo”. Para não começar a me repetir, já falei sobre isso. Leia aqui.

Vamos dar nome aos bois: me refiro a TNT, Cascavelletes, Rosa Tatuada e alguns outros contemporâneos, coniventes e cúmplices; me refiro ao rock “oh, yeeaaahh ééééé!”. Não falo do estilo musical em si e nem das composições, mas a esse jeito de cantar pretensamente rebelde-sem-causa. Outro dia, no Canal Viva — onde reprisam programas antigos da Globo — estava o TNT no Globo de Ouro, fazendo playback (olha a situação aqui) . Lembro que até Xuxa eles frequentaram poucas vezes. Acho até que chegaram a estar na trilha sonora de alguma novela do canal. Nesse momento, num ponto em que qualquer outro estilo musical teria se criado e procriado para todo Brasil, toda uma geração, duas, três, talvez quatro, de bandas e artistas gaúchos foram lançadas ao ralo. Quem, em sã consciência, no centro do país, ou em algum recanto por aí, haveria de comprar uma balaca tão insuportável quanto aquela? Ninguém estava preparado para aquilo. Era uma afronta, um desconforto, uma nojeira a quem via de fora. Muitas bandeiras espontâneas, sem representação na mídia, quando levantadas, são capazes de erguer súditos seguidores e se tornar uma força. Essa foi o oposto; antipropaganda.

“Sob Um Céu de Blues”, dos Cascavelletes, é uma baladinha sincera, meia-boca como tantas outras, não pior do que tantas populares por aí. Agora, escutem o jeito que o cara canta aqui (é o meu ponto). Uma tentativa de Mick Jagger extrapolada ao infinito.

Coitado do Nei Lisboa, e muitos outros, que foram jogados no mesmo balaio e nunca conseguiram se criar nacionalmente apesar de extremamente talentosos. Sei que vou sofrer apedrejamento por pensar e escrever este artigo. De gaúchos, claro. E o pior é que até eu chego a me acostumar e a ter certa nostalgia, afinal, era o que tocava quando eu era criança e adolescente. Lampejos de insanidade chegam a se apossar de minha mente em alguns momentos…

P.s.: Cachorro Grande tem um pouco disso tudo, mas eu acho BEM MAIS INTERESSANTE, porque já são uma releitura daquilo tudo e mais um pouco.

Clarice Falcão Vai Grudar Nos Seus Ouvidos

Há algum tempo, a pernambucana Clarice Falcão é hit na Internet com suas composições em performances caseiras solitárias. A fórmula é certeira: uma menina com voz doce e cara de tímida, cantando melodias simples, sobre harmonias simples, com letras simples, contudo inspiradas e inusitadas. Mas, apesar de seus 22, nem tão menina assim. Clarice já tem significativa experiência. É atriz, roteirista; filha do meio. Seus pais são roteiristas de cinema, Adriana e João Falcão, que trazem na bagagem, individualmente, trabalhos para “O Auto da Compadecida”, “Se Eu Fosse Você” e “O Coronel e o Lobisomem”. É também namorada do ator e humorista Gregório Duviver. Mas não é todo esse relacionamento que faz de Clarice uma grande expressão artística. Se não tivesse talento pra dar e vender, não teria vencido o concurso internacional Project Direct, com o curta “Laços” (de 2008), escrito por sua mãe, no qual foi atriz, e seu vídeo de “Uma Canção Sobre o Amor, Ah o Amor…” não teria mais de 2,5 milhões de views.

Clarice também já fez ponta na novela “A Favorita”, sua estreia na TV.

Mas o que interesse mesmo pra mim, que está martelando na minha cabeça, que fez minha filha implorar pra que eu gravasse pra ela um CD, são as composições de Clarice. Trata-se daquele tipo que nos faz chorar, rir à beça e nos encantarmos com tamanha inspiração. Há uma possibilidade — confabulo sorrindo — que os quase 4 milhões de views no Youtube sejam de apenas cerca de 4 mil pessoas que assistiram umas mil vezes cada música, porque o troço é viciante.

A moça não tem CD, mas diz estar trabalhando em um. Fucei e encontrei pra baixar uma compilação não-oficial que não sei quem fez. Acho que Clarice não vai ficar brava se eu compartilhar. Baixe aqui.

Se quiser ver seus vídeos, posto alguns aqui, mas tem mais no seu canal do Youtube. Vale a pena dar uma buscada também pelo seu nome, pois há dezenas ou centenas de covers caseiros de seus hits.

E para não ficar sem mostrar o curta “Laços”, aqui está.

Clarice faz bem aos ouvidos do mundo.

Rachou

Contabilização da energia.

Sozinho em uma pizzaria, viajando a trabalho, compus a letra.
Anotei no celular.
Tentei musicar algumas vezes. Ficou ruim. Guardei.
Mandei para um amigo. Ele não fez.
Meses depois, publiquei no blog.
Meses depois, descobri o concurso do Leoni.
Mandei a notícia para uma amigo.
Li o regulamento algumas vezes.
Não gostei das regras do Concurso.
Achei-as falhas e incompletas.
Resolvi participar mesmo assim.
Baixei a música.
Ouvi umas 3 vezes.
Pensei em compor algo novo.
Questinei Leoni sobre o tipo de letra desejada.
Ele respondeu que só precisava ser boa.
Lembrei da letra já feita.
Resgatei.
Combinou.
Mudei versos de lugares.
Cantei.
Ajustei métrica.
Cantei.
Cortei dois versos.
Cantei.
Cantei.
Cantei.
Conectei cabos, microfone e arrumei a câmera.
Coloquei a letra no monitor.
Apaguei a luz.
Disparei a câmera, o player mp3 e o gravador do micro.
Errei.
Errei.
Errei.
Errei.
Errei.
Acertei.
Mixei o áudio.
Editei o vídeo.
Subi pro Youtube.
Inscrevi no site.
Aguardei instruções.
Escutei concorrentes.
Troquei ideia com amigos.
Questionei as regras do Concurso.
Mandei sugestões para um próximo.
Assisti 6 paredões.
Fui emparedado.
Postei no blog.
Fiz campanha no Facebook, no Twitter, no Instagram.
Fiz campanha no trabalho.
Enchi o saco de muita gente.
Consolidei minha imagem de chato.
Ajudei a aumentar o mind share do Leoni.
Vi muita gente não conseguir votar.
Ajudei.
Excomunguei o sistema.
Não forjei votos, não incentivei, desestimulei quem se ofereceu a fazer.
Tive ajuda de muita gente.
Me emocionei com a boa-vontade de pessoas, até de distantes.
Me decepcionei com o descaso de algumas pessoas próximas.
Comprometi um dia de trabalho.
Tive a compreensão de quem gosta de mim.
Consegui 113 votos.
Venci o paredão!
Fiquei entre os 38 semifinalistas!
Vi as regras mudarem.
Questionei.
Não polemizei.
Fui colocado na primeira das semifinais.
Postei no blog.
Fiz campanha no Facebook, no Twitter, no Instagram.
Fiz campanha durante trabalho.
Estive em terceiro.
Fiz artezinha 1.
Fiz artezinha 2.
Fiz artezinha 3.
Fiz texto abrindo o coração.
Fiz QR-code. Só a Raquel Recuero, a Cissa e a Carmen curtiram. Ninguém deve ter usado. Ehehehe
Fiz promoção com prêmio em cerveja.
Fui entrevistado.
Fui divulgado no jornal impresso. No jornal online.
Fui veiculado na RBS TV.
Enchi o saco de muita gente.
Tive centenas de compartilhamentos.
E dezenas de compartilhamentos de compartilhamentos.
Consolidei minha imagem de chato.
Ajudei a aumentar o mind share do Leoni.
Estimo um alcance de 50 mil pessoas.
Vi muita gente não conseguir votar.
Ajudei.
Excomunguei o sistema.
Não forjei votos, não incentivei, desestimulei quem se ofereceu a fazer.
Estive em quarto.
Tive ajuda de muita gente.
Me re-emocionei com a boa-vontade de outras pessoas, até de distantes.
Me re-decepcionei com o descaso de outras pessoas próximas.
Tive postagem odiosa anônima no blog.
E tive mágoa. Tive pena. Deixei pra lá.
Não desisti mesmo em quinto.
Comprometi dois dias de trabalho.
Tive a compreensão de quem gosta de mim.
Sabia que não dava mais.
Fiquei com raiva das regras do Concurso.
Pensei em comprar usuários de lan house.
Deixei pra lá de novo.
Fui pra quinto.
Segui lutando no fim de semana.
Não foi suficiente.
Tive 1.100 acessos ao blog.
164 curtiram o link do post.
Agora estou com 166 votos.
Presisaria de, no mínimo, outros 400 para tentar ficar em segundo.
Continuar só irá me fazer mais chato do que já estou.
Acabaram-se os amigos.
Mas a música continua.

Vou pensar em uma forma mais contundente de agradecer o voto de alguns e o empenho sobrenatural de outros.

Por enquanto, muito obrigado!

Ou Vai ou Racha!

Agora é que são elas.

Chegou a segunda fase (última com voto popular) do Concurso de Composição do Leoni. Mas as regras mudaram. Agora serão cinco eliminatórias que levarão os dois mais votados para a grande final, quando Leoni avaliará qual a melhor letra a ser gravada por ele.

 

Eu preciso mais do que nunca da sua ajuda!

Estou na primeira eliminatória, e de acordo com a quantidade de votos que meus seis concorrentes fizeram na primeira fase, calculo que será necessário, pelo menos, o dobro de votos que tive para ficar em segundo. Mas nada é impossível se, além de votar, você conseguir um ou dois “amiguinhos” para votar em mim também. As urnas estão abertas de hoje (quinta, 3) até domingo (dia 6).

COMO VOTAR PELO MÉTODO TRADICIONAL 
(não use as instruções do site do Leoni, elas não funcionam!)

1. Se você não tem cadastro (ou seja, se não votou na outra vez), acesse http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php?action=register e cadastre-se. E-mails do Hotmail não funcionam! Escolha outro. Se já tem cadastro, pule para o passo 3.
2. Sua senha chegará no email fornecido. Caso não receba, veja na caixa de spam.
3. Acesse http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php e faça o login. Caso tenha se esquecido da senha, clique aqui http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php?action=lostpassword, insira seu email usado no primeiro cadastro e aguarde a senha chegar.
4. Sem fechar o navegador, vá em http://concurso.leoni.com.br/
5. Escolha “Daniel Moreira” e clique em “votar”. Dependendo do seu navegador, o botão “votar” pode ficar meio invisível, mas ele aparece ao passar o mouse em cima. Procure abaixo da lista de concorrentes.

COMO VOTAR PELO FACEBOOK (agora dá!)

1. Acesse o facebook e log com seus dados.
2. Sem fechar a janela, abra outra e acesse http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php, clique em “registrar” (no botão azul do Facebook).
3. Invente um nome de usuário qualquer e copie as letras da imagem para autenticar. Clique em “Increva-se”. Abrirá uma janelinha sobre a tela; clique em “continuar”.
4. Abrirá uma tela de perfil. Clique lá em cima, na direita, onde diz “Consurso Leoni”.
5. Marque a opção “Daniel Moreira” e clique no botão “votar”. Ele pode estar meio invisível, dependendo do seu navegador. Passe o mouse em cima que ele aparece.

Se você não sabe do que se trata o Concurso ou quer conhecer a minha letra que está concorrendo, leia aqui.

Valeu!

Venci o Paredão

20120403-000236.jpgObrigado a todos que ajudaram. Impossível e injusto tentar citar todos. Teve quem só votou, quem não conseguiu mas divulgou, quem fez campanha, trocou ideia… Sem palavras. Não imaginei que eu conseguisse mais de 50 votos e tive 112. Mais do que 25% dos amigos do Facebook, onde fiz a base da divulgação.

Daqui pra frente será assim:
– ao todo serão 19 paredões, onde classificam-se os dois primeiros de cada;
– depois, serão dois com 19 em cada, e duração individual de uma semana, onde se classificam os 5 mais votados;
– os dez vão, aí sim, para o voto do júri.

Vou convocar todos novamente para a segunda fase!

Para quem não sabe o que estou falando é sobre o Concurso de Composição do Leoni (veja aqui e aqui).

Valeu!

Chegou a Hora de Votar

Como já falei aqui, estou participando de um concurso de composição realizado pelo Leoni. Ele fez a música e os competidores têm que fazer a letra. Os finalistas serão escolhidos por votação popular. São 18 paredões com 16 concorrentes em cada. Os dois primeiros colocados são classificados.

PRECISO DA SUA AJUDA! O meu paredão é neste fim de semana e dura até segunda, 2/abr (eu acho). Cada pessoa só pode votar uma vez e precisa criar um cadastro no site do Leoni, irá receber uma senha por email e aí é só votar. CONTO COM VOCÊS.

INSTRUÇÕES PARA VOTAR

1. Acesse http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php?action=register e cadastre-se.
2. Sua senha chegará no email fornecido. Caso não receba, veja na caixa de spam.
3. Acesse http://trampo.com.br/leoni/wp-login.php e faça o login.
4. Sem fechar o navegador, vá em http://concurso.leoni.com.br/
5. Escolha “Daniel Moreira” e clique em “votar”.

Valeu!

Roger Waters, The Wall — Porto Alegre, 25/mar/12

Se não escrever agora, não escrevo mais. Seria uma lástima deixar passar em branco. Eu fui ver Roger Waters tocar The Wall em Porto Alegre. E isso não é pouca coisa.

Não lembro bem o ano em que fui apresentado ao álbum — foi quando conheci o Pink Floyd. Chuto 1988. Dez anos após seu lançamento. Um colega de colégio (Renato, Tatu) me convidou para ir ao Cine Pelotense ver o filme (lançado em 82). Acho que não tinha mais ninguém na sala. Chapei. Para quem vinha do punk, aquilo era muito diferente; difícil dar o braço a torcer. Por outro lado, extremamento sedutor. Gostei tanto que loquei e copiei o VHS. Havia legendas das músicas em português, mas eu queria cantá-las em inglês. Com pouco conhecimento da língua, fui tentando captar as palavras e datilografafa-as em uma máquina de escrever. A maioria não consegui entender. Com a ajuda das legendas e um dicionário português-inglês/inglês-português, tentava verter de volta ao inglês. A outra parte que achava que entendia em inglês, não estava sempre correta, apesar de fazer sentido pra mim e compreender o significado artístico. Ou seja, até hoje, canto versos errados, do jeito que conseguia compreender. Depois, comprei o vinil duplo, com encarte e letras, e escutei até furar.

Corta.

Roger Waters já esteve em Porto Alegre há dez anos. Mas não com The Wall. Não fui ver. Tanto Pink Floyd sem Roger Waters quanto Roger Waters sem Pink Floyd não fazem tanto sentido. A primeira opção ainda faz mais, enquanto show, pois, pra mim, que sou das antigas, música fora do contexto do álbum, perde muito, pelo menos em termos de conceito da obra. Como o repertório do Pink Floyd é melhor, fico com eles. Porém, assistir The Wall, completo, em um show de seu autor seria, e sempre será, imperdível. É o álbum inteiro! Conheço cada batida de porta, cada respiração, cada telefone chamando, cada passarinho cantando.

Tamanho da fila no Beira-Rio

Comprei o ingresso nos primeiros minutos em que as vendas iniciaram na Internet. Precaução que se mostrou desnecessária, pois apesar de cheio, ainda tinham disponíveis no dia do show. Os portões abririam às 16h. Chegamos, eu o Igor e Xandi, pelas 17h, mas ainda estavam fechados e a fila se arrastava por quilômetros do Beira-Rio. Foram abrir após às 18h, em uma falta de organização da produção local inversamente proporcional à qualidade do espetáculo que estávamos prestes a presenciar.

Eu tinha entrada para a pista e queria me posicionar em frente à mesa de som — tradicionalmente, o melhor ponto para se assistir qualquer show, pois é de onde o técnico mixa e equaliza os instrumentos; tudo é otimizado para aquele ponto de vista (ou de audição). Porém, a área VIP ia até lá e não permitia meu acesso. Como em qualquer megashow, estava mal posicionado, cheio de gente a minha frente. Não enxergava a base do palco. Ainda mais com a multidão toda, com os braços levantados, para gravar com suas câmeras — Porra, olha no Youtube! Compra o DVD! — Fui para trás da torre de luz e som da direita. Consegui uma visão melhor e desobistruída de mais da metade do palco. Quando abriu um espaço, me debrucei na grade que resguardava a torre e fiquei mais confortável do que previa.

Meu ângulo de visão

O que eu queria era imergir no espetáculo, sensação que megaeventos nunca vão conseguir. Mas me concentrei e me contentei com o que tinha, afinal, a maior opera rock da história estava a minha frente, em um espetáculo magnífico de som e luz, o que compensava todo o resto.

É muito ruim ir a um show no qual você não vê os músicos, tanto pela distância astronômica do palco, quanto pela estrutura do muro que vai sendo construído e cobrindo a banda. Mesmo as projeções ao vivo, que constumam ajudar nessa questão, só mostravam, além de Waters, o vocalista secundário, que fazia as vezes de David Gilmour nos duetos. Não me pergunte quantos guitarristas ou tecladistas havia. Não me pergunte se tinha outro baixista para quando Waters não tocava ou se o baixo era pré-gravado. Eu não sei. Muitas vezes fiquei em dúvida se a própria voz de Waters não era playback, em músicas mais complicadas como “The Trial”. Ninguém se questionou sobre a orquestra em “Bring The Boys Back Home”? Não havia, claro. E a voz? Era perfeita demais. Mas a tônica do show era tão diferente de questões como essas, que eu nem deveria levantá-las. É até injusto.

O espetáculo foi dividido em dois atos, conforme os discos do álbum duplo. No primeiro, o muro imenso, que ocupava toda largura so estádio, estava aberto no centro, em um corte em “V”. Os tijolos iam sendo assentados e cobrindo o pouco que se via da banda. As projeções em toda extensão do paredão, compensam, em dinâmica visual, o encobrir dos músicos. O segundo ato começou com “Hey You” sendo apresentada sem mostrar ninguém da banda, nem mesmo o vocalista que emula David Gilmour.

"Nobody Home"

Em “Nobody Home”, minha preferida, alguns tijolos do muro são retirados, revelando um quarto, de onde Waters canta. Esperava que o público fosse à loucura, mas parece que fui só eu. Estranho aguardar tanto pela canção e perceber que o resto das pessoas não compartilha da minha emoção. Agora, é claro que “Comfortably Numb” foi a mais aplaudida. Desconfio que 30% de quem estava lá só conhecia ela e “Another Brick in The Wall”, e que 50% conheciam apenas essas e “Run Like Hell”. E por “conhecer” quero dizer “ter ouvido no rádio ou em alguma festa”.

Há um momento em que um avião projetado despeja centenas de símbolos da foice e martelo, como se fossem bombas, e depois faz o mesmo com as marcas da Shell e da Mercedez-Benz. A massa foi a loucura, mas depois lotou o McDonalds da Silva Só, afinal, ninguém é de ferro e esses megashows dão uma fome de Big Mac e Coca-cola que te conto…

Para quem acha que só estou falando mal, deixo claro que foi o melhor show de grandes proporções que já vi. Melhor que U2 e que Police. Não vi o Paul McCartney. Se eu pudesse, teria ido aos 9 shows que Waters realizou há pouco em Buenos Aires. Eu disse “9 shows”! Argentino é foda!

IV Concurso de Composição Leoni

Sabe o Leoni? Ex-Kid Abelha, ex-Heróis da Resistência… “Garotos”, “Alice”, “Lágrimas e Chuva”, “Como Eu Quero” e todas os demais hits do Kid Abelha do começo da carreira. Pois ele está organizando o IV Concurso de Composição Leoni. Funciona assim: ele compôs uma melodia, gravou sobre harmonia e arranjo e disponibilizou para baixar os áudios com a melodia (“na, na, na nááá…”) e com somente a base. Os candidatos devem fazer uma letra que encaixe na melodia, gravar um vídeo (não sei pra que mostrar a cara, mas…), publicar no Youtube e se inscrever no site. Depois de 7 de março, abrirão votações populares que elegerão os finalistas. O que está em jogo é apenas a letra e não o vídeo. O vencedor será escolhido por juízes designados por Leoni e, acredito, óbvio, por ele próprio.

Tomei coragem de colocar a cara a tapa e fiz minha sugestão. Olhe abaixo. Vou precisar da sua ajuda, se gostar dos meus versos, é claro. Mas eu aviso pelas redes sociais quando for momento de votar.

Once — Apenas Uma Vez

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Quando mostrei ao Renato o clipe que fiz para o Coelho (ver post anterior), logo lembrou e me indicou, com bastante sensibilidade, o maravilhoso filme irlandês “Once” (“Apenas Uma Vez”, no Brasil). No domingo, assisti e acredito que entendi o motivo da relação.

“Once” parece ser uma história de amor. E é. Mas de amor à música. Conta uns dias na vida de um músico que divide seu tempo entre preformances na rua e consertos de aspiradores de pó na oficina de seu pai. Até que conhece uma garota, apreciadora de sua arte, que tem um aspirador com defeito. Os dois começam a andar juntos e ela revela-se uma humilde pianista de mão cheia — com uma voz linda. Ele a coloca em seu projeto autoral e, a partir daí, o que parecia apenas um romance muda de rumo. A protagonista da história passa a ser a música. Isso é percebido diversas vezes, principalmente nos momentos em que a relação entre os músicos da banda é regida por algo maior. Todos são pobres e usam as ruas como ganha-pão, porém embarcam no projeto do personagem sem esperar nada em troca senão satisfação pessoal e amizade. Impossível quem é ou já fez parte desse mundo não se sentir tocado. Ao final do filme, essa questão é jogada na nossa cara duas vezes. Uma delas não posso contar, pois estragaria a surpresa do desfecho. A outra é nos créditos, quando, pela primeira vez me dei conta que o casal não tinha nomes. Está lá: “guy” e “girl”, ao lado do nome dos atores.

As composições do “cara” lembram muito Damien Rice e surpreende (ou não) encontrá-lo nos agradecimentos. As canções são, de fato, de autoria do protagonista, que tem carreira musical ao lado da “garota”, mas com nomes bem mais específicos: Glen Hansard e Markéta Irglová, também conhecidos como “The Swell Season“.

E a relação com o clipe “Tronco e Cetim”? Não está só nesses fatores afetivos com a música, mas na estética crua, nos movimentos de câmera, no ritmo da edição, na captação de áudio ao vivo. Só faltou mesmo as pitadas de romance, mas isso eu deixo pras nossas esposas discutirem. : )

Assista!