Tronco e Cetim

O Coelho ficaria poucos dias na cidade e queríamos fazer um clipe. Trata-se do seu disco solo — Aclive — ainda em fase de finalização. Como todo pelotense que vai morar fora, o Laranjal acaba representando a saudade e servindo de âncora para as lembranças da terra natal. E foi onde gravamos, em menos de 20 minutos, as cenas. A ideia central era ser uma captação ao vivo de dois momentos em separado. Tosco como a gente, mas sincero e cheio de vontade de realizar.

O Vinil Voltou

“Vitrola” high-end de preço incalculável

“Ponta de areia, ponto final / Da Bahia-Minas, estrada natural…”

Lembro do primeiro álbum no formato “compact disc” que ouvi: um ao vivo do grupo Boca Livre, na extinta loja de departamentos Imcosul. A música “Ponta de Areia” começava um a cappèlla sensacional. A pureza do som que saia pelas caixas era inédita pra mim. Vidrei. Eu precisava ter um CD-player.

Ia a todas lojas de discos, semanalmente, para ver as novidades. A Beiro reservou uma pecinha no segundo andar, exclusiva, soturna, onde eu folheava os CDs ainda nas caixas de transporte. Me sentia VIP. Meu “The Final Cut” do Pink Floyd veio de lá. Eram pouquíssimos lançamentos, mas iniciei minha coleção antes mesmo de ter onde tocá-la, com o primeiro da Marisa Monte e o “Big Bang” dos Paralamas. Comprei do Júnior (dono da Estúdio CDs), quando trabalhava na Trekos. Deixei-os na estante ao lado das fitas K7, esperando que meu pai abrisse a mão e me desse um equipamento de presente. Quando aconteceu, descobri uma locadora de CDs, cheia de importados — a Alfaveloca. Que festa! Gravava tudo no tapedeck. Era muita BASF 60. Não havia como comprar tudo. Aliás, para um adolescente, praticamente nada.

Agora, cerca de 20 anos depois, em plena democracia digital liderada pelo mp3, não é que o vinil ressurge mais glamuroso que o CD? Meio acanhado, mas megacult. Cheio de defensores, gente descolada, cool. Eu acho bacana, mas meu fascínio não vai além da nostalgia e do apelo visual que as dimensões da capa proporcionam. Em termos de qualidade de áudio, tenho considerações bastante contundentes.

O CD, por ser digital, tem um limite de qualidade: 44,1kHz. Simplificando o entendimento, 44,1 mil informações por segundo. No vinil, o limite é orgânico, não tem essa precisão. Sua qualidade depende muito mais da matéria-prima, equipamentos e processos de fabricação do que o CD. É como comparar foto digital com em filme. Além da parte ótica e de captação de imagem, a digital não te dá mais qualidade do que a grade de pixels em questão possibilita. Já a analógica depende também do filme, da química, da revelação e ampliação. Se isso tudo for de extrema qualidade e estiver extremamente sob controle, você pode ter um suporte superior ao digital. Nos vinis, ainda é mais crítica e necessária a qualidade do toca-discos que você irá executar, passando pela agulha, prato e aterramento. Se for meia-boca, você não terá uma audição satisfatória — condição da esmagadora maioria dos equipamentos que todos nós dispúnhamos.

Tem muito bicho-grilo por aí viajando no vinil, na ambiência (que não passa de ruído da agulha) e na profundidade (trocando em miúdos, estática). Para mim, qualquer interferência não-intencional no som original é defeito, explicado pela ciência, ou experiência quase lisérgica. Prefiro escutar o que o artista e produtor do álbum pretenderam que eu escutasse. Meu amplificador está sempre em flat (zero de graves e agudos), mas isso fica para um outro artigo.

Fico feliz de ter ouvidos médios. Assim, não preciso de equipamentos que custem dezenas de milhares de dólares para me satisfazer. Ou centenas de milhares, se falarmos em tecnologia de ponta para vinis. Não preciso também de mais que 44,1kHz. Caso contrário, eu seria um infeliz eterno.

Não é Brinquedo, Não

Quase não escrevi, mas isso merece.

foto: Gabi Lima

Sábado, tive o prazer de levar minha filha maior (6 anos) no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, para assistir o show Música de Brinquedo do Pato Fu. Para quem ainda não sabe, os efervescentes anseriformes fizeram versões covers (sim, a intenção era soar igual) de grandes clássicos de músicas nacionais e internacionais. O pulo do gato (ou “do pato”) é que tudo isso é feito apenas com instrumentos de brinquedo e assemelhados. Minha filha já havia furado o CD de tanto ouvir, o que deixou o concerto ainda mais bacana e participativo.

Sem dúvida alguma – desde que assisti os primeiros vídeos do projeto, ainda em estúdio – o que mais impressiona é o baterista Xande, um verdadeiro monstro de energia percussiva, tocando em uma bateria de criança com vigor e precisão indescritíveis. A versão para Ska, dos Paralamas do Sucesso, é sensacional. Imagine reproduzir exatamente as viradas e trejeitos de João Barone em um instrumento minúsculo de brinquedo. Inacreditável.

Mas só isso não conta tudo. A pesquisa ludomusical da banda, encabeçada pelo guitarrista e produtor John Ulhoa, torna o espetáculo e o CD ainda mais ricos, com destaques para o kazoo, a caneta sonora, os joão-bobos, o pogobol, e a sublime caixinha de música de Love Me Tender.

Me emocionei em vários momentos, em especial nas músicas “Simplicidade” e “Perdendo Dentes” (da própria banda) e “Live and Let Die” de Paul MacCartney. Os tradicionais fogos de artifícios das apresentações ao vivo do beatle foram representados com lança-confetes, largando uma chuva de papel picado por toda plateia.

O mais legal de tudo, sem dúvida, foi estar ao lado de minha filha, vendo a reação dela e compartilhando a genialidade de uma banda que curto desde o segundo trabalho, da qual vi os integrantes evoluírem como músicos, compositores, cantores e pessoas.

Só tenho a agradecer. Muito obrigado patos, incluindo as cortesias que recebi da Gabi, em poltronas privilegiadíssimas.

Veja o making of do CD música de brinquedo aqui.

Fanzine Skate-punk

Eu tinha uma banda skate-punk aos 14/15 anos. Bem na época, eu e um amigo, fazíamos um fanzine de skate chamado ProSkate, cheio de matérias e fotos realizadas por nós mesmos. Tinha um “concorrente” que parecia tentar ir na nossa cola, nos imitar. Só que ele não produzia as matérias. Copiava de revistas e remontava. E para as imagens usava figurinhas de um álbum lançado pela revista de skate mais foda da época, a Overall.

Fizemos uma uma música em homenagem a ele.

Nosso zine é bom, nosso zine é mau
Nosso zine tem figurinha da Overall

Legal, legal, legal, legal, legal

Nós tomamos leite, com café ou Nescau
Nós ouvimos Circle Jerks e Suicidal

Legal, legal, legal, legal, legal

Nosso zine tem entrevista com o Junae
E patrocínio do meu pai

Legal, legal, legal, legal, legal

Megashows Sucks (ou: Recalcado Por Que Não Vou Ver U2)

Quando uma grande banda que gosto vem pro Brasil, meu instinto grita para ir. Ter perto de mim aquele som que tanto ouvi, ao vivo, visceral; ver ídolos próximos; sentir a vibração das pessoas que compartilham o mesmo meu sentimento, nos mesmos pontos das músicas que eu ou em outros. Isso me faz muito querer, gastando o dinheiro que for (quando tenho disponível). Mas sempre me decepciono. Não com o artista.

Geralmente, os concertos são em estádios, o que torna a sonorização impossível de ser feita com uma qualidade aceitável. Você também não consegue ficar próximo do palco se não arcar com um ingresso pra área VIP. E quanto a compartilhar o momento mágico com o público que ali está, esqueça. Megaeventos atraem 90% de curiosos contra 10% de fãs de fato (estatística totalmente tendenciosa inventada por mim mesmo). Me irrito com as pessoas que vão apenas pela festa, pela cerveja, pelas gatinhas ou para fazer parte da história.

É por isso que o meu sonho é ver m show do Roberto Carlos em um navio. Não que eu seja fã do Rei, mas quem mais de renome, que mereça ser visto, toca em um espaça pequeno, com acústica privilegiada e sem cobrar uma fortuna pelo ingresso?

Os únicos shows memoráveis que já tive oportunidade de assistir, com qualidade irrepreensível, foram:

Procurado Vulgo, em uma das primeiras Fenadoces, na Associação Rural (o primeiro show de rock da minha vida), em Pelotas;
Titãs, show do O Blesq Blom, no antigo Teatro Avenida, em Pelotas;
Fito Páez, show do Circo Beat, no antigo Engenho Santa Ignácia, em Pelotas;
Sting, show do Mercury Falling, em Paris, em um ginásio poliesportvo em Bercy;
Djavan, show do Novena, no Teatro do Sesi em Porto Alegre;
Vitor Ramil com Paulinho Moska, juntos no mesmo palco, no Teatro da UFRGS em Porto Alegre;
Fernanda Takai, show do Onde Brilhem os Olhos Teus, no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre;
Jorge Drexler, show do Cara B, no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre.

Eu não estou citando Weezer, que vi em Curitiba, apesar de ter curtido pra caramba, pois não eram as melhores condições acústicas. E ficaram fora dessa lista, por razões que expliquei acima, U2 Pop Mart em Buenos Aires, The Police no Maracanã em 2009, Seupultura/Ramones/Raimundos, juntos, no Gigantinho em Porto Alegre, e diversos outros de menores proporções, como Ultraje a Rigor, Kid Abelha, Nei Lisboa, Biquni Cavadão, Fausto Fawcet, Lobão, Living Colour, Faith no More, Paralamas, Capital Inicial, Pato Fu, Nenhum de Nós, Ed Motta, Caetano Veloso, Nando Reis, Mutantes, 14 Bis, Kleiton & Kledir, Los Hermanos… Cito os piores de todos: Barão Vermelho, no ginásio da Associação Rural de Pelotas, e Fito Páez, no Pepsi On Stage em Porto Alegre, não por culpa dos artístas, mas das condições acústicas. Que fique claro.

Atualmente, o único local que é possível de ter um show de qualidade em Pelotas é no Theatro Sete de Abril, e depende muito do técnico de som. Em Porto Alegre, temos três: o Teatro do Sesi, da UFRGS e do Bourbon Country. O Opinião ainda dá, quando o técnico coopera.

É por isso que eu não entro mais em frisson quando um artista anuncia sua vinda para as bandas de cá. Primeiro e avalio o local, depois o artista.

Carta a Um Fã do Weezer

Encontrei este belo texto, assinado por João Baldi Jr., em seu blog, aqui. João defende o álbum Hurley com bons argumentos, porém eu discordo. Resolvi comentar e, quando me dei conta eu tinha o post sobre o Weezer que eu tava devendo pra mim mesmo, a respeito da fase atual da banda. Então, só para registrar, lá vai.

João,

O teu texto é muito bom. Ao contrário do álbum Hurley. Eu não sou avesso a mudanças. Acho que são necessárias e sou cabeça aberta para entendê-las. O Weezer mudou do Blue pro Pinkerton (pra melhor). Mudou do Pinkerton pro Green (pra um pouco pior). E vem mudando a cada disco, mas sempre ladeira abaixo. Acabo de receber a edição especial do Pinkerton, incluindo o Death to False Metal, CD com as sobras do Hurley e, pasmém, muito melhor. Parece que estão fazendo de propósito. Entraram numas de agradar a maioria e, me desculpa, a maioria não sou eu. O Weezer era único, mas agora tenta se parecer com qualquer uma dessas bandas da moda, que fazem rock-dancante-descolado. Só que não fazem isso bem. Eu levei umas 10 audições para entender Pinkerton. Estava decepcionado porque queria o Blue igualzinho. E veio aquela sujeira, cheia de notas que pareciam fora do lugar. O disco acabou se tornando o melhor do mundo pra mim. E é desse tipo de surpresa que eu sinto falta. Eu quero ser convencido e eles não conseguem mais fazer isso comigo. Três meses depois da decepção de Hurley, Death to False Metal me encheu de esperanças: o Weezer que eu gosto ainda está vivo, só precisa encontrar o caminho de casa.

Yesterday – The Beats

O mais perto dos Beatles que alguém pode chegar não é ir ao show de Paul McCartney, nem comprar um CD de Ringo, nem ter uma foto original autografada pelo Fab Four; não é visitando os túmulos de Lennon e Harisson ou os estúdios Abbey Road, nem ter toda sua discografia, incluindo os discos solos. Você não vai se sentir tão perto dos Beatles aprendendo a tocar todo seu repertório no violão ou mandando fazer uma fantasia de carnaval ao estilo Sgt. Peppers, nem usando um óculos igual ao do John. Se você comprar o livro Anthology, ler todas as biografias e assistir a todos os seus filmes, ter toda a memorabília disponível, nem mesmo assim você está se sentirá tão próximo dos rapazes de Liverpool quanto se for assisitir ao show do The Beats. Isso, por um simples motivo: pouca gente teve a oportunidade de ver os Beatles ao vivo, um privilégio sem igual. Quando se tem músicos extremamente competentes, caracterizados como os ídolos, interpretando com perfeição as canções, com as indumentárias e indumentárias de cada época, nada pode ser mais próximo da sensação de se estar na presença da maior banda de rock da história. É uma experiência real e emocionante, se você se permitir. A voz do intérprete de John é a mais parecida, de longe. Agora, quando em coro com a do de Paul, chega a ser assustador para quem tem medo de fantasmas.

O show dos argentinos The Beats que assisti ontem à noite é muito bem bolado. As únicas falhas dizem respeito à falta de cenários mais imponentes, às trocas dos mesmos e à qualidade dos vídeos, um pouco amadores e, certas vezes, longos demais. Coisa que a melhor banda Beatle do mundo, eleita em uma Beatles Convention, em Londres, poderia aprimorar. Outra curiosidade é que utilizam nos vídeos legenda e locução vertidas para o português. Porém parece que utilizaram a tradução automática do Google para fazê-lo. A parte mais engraçada é quando falam da trilha sonora do filme (se referindo ao Hard Day’s Night) dizendo “banda sonora da rodagem”.

Sentado a meu lado, na plateia, estava um menino de 3 anos. O sonho nunca vai acabar.

A Verdadeira Corrida Espacial – Os Replicantes

Ingênua, realística e oportuna. De 1987.

Ele demora um ano rodando o sistema solar.
Ele demora um ano mas volta pro mesmo lugar.

Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Pra onde vai o mundo
vai todo mundo.
Pra onde vai o mundo
daqui a um segundo

Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Será que ele vai estourar?
Será que ele vai poluir?
Até não pudermos respirar
Até não podermos existir

Enquanto o 3º mundo espera o juízo final
eu quero uma vaga no ônibus da corrida espacial

Pra onde vai o mundo?
pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Vai vai vai vai…

Richard Cheese e a Prova-dos-nove

Baixei a discografia completa de Richard Cheese. O cara é fantástico. Pra quem não conhece, um legítimo crooner, acompanhado de sua banda jazz em versões “cool” de grandes sucessos pop. Por exemplo, em “The Girl Is My” (de Michael Jackson e Paul McCartney), Cheese faz um dueto improvável com Stephen Hawking (um imitador, é claro). É de se mijar de rir.

Ouvir verdadeiros hinos da música contemporânea em versões surreais me fez lembrar. Sempre acreditei que uma canção boa de verdade, indiferente do estilo em que foi arranjada originalmente, se prova como tal quando interpretada com acompanhamento mais despretensioso, como com um piano despretensioso ou um humilde violão. A questão é que uma boa melodia sobrevive mesmo em um simples assobio (“um bom assobio”), sem necessidade nem de harmonia que a dê base.

Na voz e arranjos de Richard Cheese também conseguimos tirar a prova. As versões do Metallica, por exemplo, não passam no teste – além de serem engraçadas apenas nos 5 segundos iniciais da primeira audição. É nesse teste de essência que a música-arte distingue-se da música-entretenimento. Algum mérito ou demérito nisso? Não sei. Depende do momento. Apenas uma constatação.

Sobre Fresno e Outras Coisas

Sim. Odeio emo. Música emo. Contra os emos (pessoas) não nutro sentimentos. Não gosto da música da Fresno, pois são baseadas em fórmulas. Se eu gostasse de fórmulas, tinha feito química. Também não gosto das letras da Fresno, pois são bobocas, recorrentes. Quando ouço, fico pensando “por que ele escreveu isso assim? por que usou esta palavra e não esta outra?”. Estou falando da Fresno porque, ao meu ver, está no topo da cadeia alimentar, apesar das calças de mulher que o vocalista usa. O resto é muito pior. Porém, Fresno é uma das bandas que eu respeito, pois souberam se posicionar no seu segmento, tocam muito bem, cantam muito bem, têm bons arranjos. O show deles deve ser muito bom.

A última coisa que eu quero no mundo é agir como os mais velhos,  quando eu ouvia as minhas músicas: “Isso é música de maluco! Não faz o menor sentido! As músicas da minha época é que eram boas! Pelo volume do instrumento, o baterista deve ser o dono da banda!”. Por isso, eu sempre me dedico um pouco a tentar assimilar o que as novidades têm de bom. Tá tocando no rádio? Deixo rolar. Tão ao vivo na TV, mais ainda. Claro que, nesse processo de assimilação, tenho medo de aceitar demais e acabar vendo qualidade onde não existe, mas esse forma de pensar me é útil, principalmente, como publicitário.

Outra que eu respeito muito é a Pitty. Eu nunca compraria um disco dela. Não é meu estilo. Mas ela é muito competente. Além do mais, gosto do aspecto autoral do trabalho. É muito sincero e visceral. Gosto de trabalho atual, meio jovem-guarda. Vejo Roberto Carlos cantando junto a ela em seu especial de fim de ano. Ele só trocaria a parte que diz “… que me acha foda” por “…que me acha joia”. Mas acho que ela não se importaria.