Esquerda, direta ou vice-versa?

Às vezes, vocês não têm a impressão que direita e esquerda trocaram de lado em muitos temas? Sabe quando a gente diz pra pessoa desorientada virar para a esquerda, ela vira pra direita? Aí vem aquelas frases:

— É a mão do relógio!
Ou…
— É a “outra esquerda”!

Antigamente, era a esquerda que acusava os países estrangeiros de usarem artifícios econômicos por interesse nas riquezas de nossas florestas. Agora é a direita.

Não era a esquerda que questionava a indústria da saúde por nos manterem reféns de seus produtos em nome do lucro? Hoje é a direita que questiona as vacinas e o establishment científico como um todo.

O cara que questionasse que o homem foi à lua era, com certeza, alguém que não aceitava o que os americanos nos impunham goela abaixo em nome de sua supremacia. Agora são representantes da direita que acreditam até na Terra plana.

E a música? A esquerda sempre foi elitista nesse quesito artístico, mas hoje é a maior defensora da indústria da música de massa, alegando que a verdadeira cultura do povo está ali e esquecendo que são produtos de grandes empresários do ramo, explorando e escravizando o gosto musical das pessoas.

E os católicos de direita que adoravam a Igreja e agora desaprovam o Papa? Tem esquerdista exaltando o Vaticano!

A Globo era o reduto do capitalista. Agora a direita abomina e a esquerda não para de compartilhar notícias vindas de lá.

Não sei não, mas acho que trocaram de lado só para continuar brigando.

O VAR, o futebol e a Justiça

árbitro usando o vídeo para decidir o lance

A Copa 2018 de futebol na Rússia ficará marcada como o mundial do VAR (Video Assistant Referee), ou como estamos chamando, “árbitro de vídeo”. Baseada nas imagens que são capturadas durante o jogo, em tempo real, uma equipe fora do campo analisa os lances um a um e oferece ajuda ao juiz oficial. Às vezes ele aceita, em outras não, mas o fato é que, por causa desse apoio que visa dirimir dúvidas e evitar injustiças, até o dia de hoje, início da segunda fase da competição, já foram batidos vários recordes, como, por exemplo, o número de pênaltis marcados.

Alguns dizem que o VAR acaba com a graça do futebol. Segundo eles, a diversão do esporte tem muito a ver com as discussões durante e pós-jogos; se foi ou não foi gol, se a falta foi bem marcada ou sobre a profissão das mães dos juízes. Ora, será que entre todas as bestialidades que o futebol oferece para o deleite da massa sedenta de sangue, essa é imprescindível que seja mantida?

Vivemos no Brasil uma época em que as leis são relativizadas, o que vale para um não vale para outro e em que algumas práticas ilegítimas são legitimadas com a desculpa do todo-mundo-faz. O poder judiciário, o último a ser questionado depois da derrocada total dos outros dois, agora se mostra também partícipe desse mecanismo nojento do qual somos vítimas, às vezes cúmplices.

Aí, quando surge um método inequívoco, inquestionável e isento de se fazer justiça (e das cegas) no esporte mais importante do planeta, tem gente que prefere o erro, a vantagem, a simulação, o jeitinho, a malevolência, o escárnio — a injustiça. Tudo em troca de um bate-boca, uma discussão de bar, um xingamento, uma — para muitos — diversão.

Pois sou totalmente a favor do VAR, de que vença o melhor, de que o fair play, o talento, o treinamento e as regras sejam protagonistas. Que o mundo possa ter diversos VARs para todas as esferas carentes de seriedade. Só, claro, não precisa chegar ao ponto apresentado no episódio 3 da primeira temporada de Black Mirror — “The Entire History of You”.