Free Shops — Grandes Engana-trouxas

Me sinto assim em um free shop

Desde 1986, o governo uruguaio começou a instituir, em algumas cidades fronteiriças com o Brasil, zonas de duty free shops, ou seja, comércio livre de impostos. Primeiro foram Chuy e Rivera, depois Rio Branco, Aceguá e Artigas. Estas áreas são exclusivas para consumo de turistas e proibidas para os uruguaios — pelo menos isso é o que diz na lei do país.

Desde então, os locais começaram a virar frisson entre os brasileiros, por alguns motivos:

– oferta itens importados não encontrados naquela época no Brasil, devido a restrições de mercado;
– preços convidativos;
– qualidade de produtos primários nos quais o Uruguai detém excelência, como derivados de leite (queijo, doce de leite etc), por exemplo.

Porém o tempo foi passando. Os itens importados já estão disponíveis no nosso país. Os donos dos free shops foram enricando, tomando conta do mercado e adotando estratégias muito inteligentes para faturar mais, como todo bom negócio deve ter. Antenados na demanda dos brasileiros, o preço das mercadorias varia também em dólar de acordo com os valores dos produtos encontrados no Brasil e não apenas conforme os custos que têm. Assim, mantém-se o maior preço possível sem gerar desinteresse dos brasileiros.

Hoje os grandes free shops concentram-se na mão de duas ou três pessoas. Todos possuem os mesmos itens (quando variam, variam em todos). Por exemplo, uma marca de mostarda que tem em um está em todos, e assim por diante. As únicas coisas que ainda valem a pena comprar nesses locais são os produtos primários de origem uruguaia, alguns tipos de bebidas importadas e alguns itens de beleza feminina. Fora isso, praticamente todo o resto é um GIGANTE engana-trouxas.

Ontem estive em Rio Branco e resolvi listar alguns exemplos dos motivos que me fazem achar os free shops uma grande balela.

1. Se você vai em busca de uma marca famosa de roupas para ostentar no peito, você é um imbecil. Continue indo comprar, pois você merece. Hoje o Brasil está muito bem servido de roupas de qualidade, sejam nacionais ou importadas com preços similares ou menores do que os praticados lá.

2. As pessoas se confudem e, por pequenos lapsos de raciocínio, encaram as etiquetas com preço em dólar como se fossem valores em reais. É psicológico.

3. Um pacote de Kit Kat custa 17 dólares? “Como? Eu li bem? Tem Kit Kat no Guanabara a preço de Bis!” É assim como todas as “comidinhas”. Faça a conta.

4. Azeite! Compra-se azeites extravirgens ótimos como Gallo e Borges no supermercado por 10 reais a garrafa de meio litro. Em Rio Branco, 10 dólares a garrafa de um litro. Bullshit!

5. Uma garrafinha de alumínio por 34 dólares? “Como?” 68 reais?”

6. Um copo com bico para criança por 15 dólares? “Tem um ótimo no Big por 19,9 reais!”

7. Um barril Heikenen de 5 litros (excelente, por sinal), tá R$ 59 no Nacional e no Neutral US$ 25. “Vou comprar fora do país para economizar 9 reais?”

8. Há cinco anos atrás comprei lá uma calça Levis por 80 dólares. Há dois anos, por 110 dólares. Hoje, está 245 reais. “Nem a pau, Juvenal!” Nos Estados Unidos, os modelos variam de 30 a 60 dólares, no varejo. Imagino o preço que os free shops compram no atacado.

9. Os preços não representam vantagem que pague sua gasolina e, convenhamos, não é um local bom para passear, a não ser que o seu estilo seja consumista-desenfreado. Ou seja, nem o programa justifica.

10. Você vai voltar cheio de merda supérflua de que não precisa.

11. Ontem, o dólar em todas as lojas estava 1,94 (o de referência do Banco Central, 1,88). Se você usar cartão de crédito internacional terá uma cotação melhor que a deles, porém gastará 6,38% de IOF, o que acaba significando mais.

Coloque isso tudo na balança:

– preço nem sempre melhores;
– risco de pegar uma estrada;
– probabilidade de você ser parado na aduana;
– deixar dinheiro fora do país, em comerciantes de fora da sua cidade, para marcas estrangeiras, que não geram impostos no seu país (nem no Uruguai);
– correr o risco de ser visto em um free shop e ser reconhecido como um “semelhante”.

Decidi: tô fora!

A Ocasião Faz o Ladrão

Após este tweet, se desenrolou outra história. A mulher do presunto estava à minha frente na fila do caixa. O presunto não era presunto, de fato, mas mortadela. Não por isso — eu adoro mortadela — mas por outros atributos físicos (que não são convenientes propagar), além da sujeira da criatura, meu DNA de preconceito acionou meu estado de alerta. Ela trazia no carrinho esse pacotão da fiambreria pesando cerca de 1kg, algumas latas de ervilhas e um sachet de molho de tomate. Perguntou à atendente quanto custava a mortadela, como se não houvesse etiqueta de preço. A moça respondeu: “dois e sessenta e oito.” “Barato! Foi por isso que ela comprou 1kg” — pensei — “Aproveitou a promoção”. Porém, registrou apenas os frios e pagou, deixando o carrinho com os demais produtos atrapalhando minha passagem. Pediu para que eu empurrasse-o para trás. Virginiano que sou, neguei. Além de ter uma fila considerável e o Nacional da Bento não esbanjar espaço físico, carrinho se passa para frente. Sugeri e ela atendeu. Foi nesse momento que a ocasião fez o ladrão.

Das demais coisas que sobraram, devolveu apenas o extrato de tomate, dizendo que não iria levar. Jogou a mortadela sobre as latas e saiu empurrando o carrinho como se nada tivesse acontecido. Fiquei puto. Denunciei, mas a atendente se fez de desentendida para evitar confronto direto com a “cliente”. Quando fingiu entender, deu-se o tempo suficiente para a mulher estar a dez passos de distância. Sem ter como justificar a conivência, a caixa meteu um olhar 43, semifechou um dos olhos, franziu a testa e disse ardilosa:

— Pode deixar. Ela volta!

Imagino que vá esperá-la com uma emboscada do nível da SWAT ou alguma vingança estilo Charles Bronson em Desejo de Matar.

O Que Os Andróides Precisam Saber Sobre o Instagram

Houve alguns comentários negativos sobre o que escrevi abaixo. Resolvi redigir este intróito, pois parece que não me fiz entender. Quero deixar claro que o assunto não gira em torno do “tipo” de usuário de Android. Não é sua “índole” que está “bagunçando” o Instagram. O que acontece é o grande volume de novos usuários que se instaura — cerca de 2 mil por minuto, segundo noticiado. Antigamente, as pessoas iam aderiando naturalmente e quem gostava ficava, quem não gostava saía. Agora, parece que se abriu uma porteira que retinha uma multidão de famintos. O crescimento desordenado gera esse tipo de coisa. É óbvio também que não trato sobre uma disputa entre egos de usuários e suas marcas — Apple x Samsung; iOS x Android. Por favor, não coloquem palavras em minha boca.

Há poucos dias liberam a tão aguardada versão do Instagram para o sistema Android, até então, apenas disponível para os dispositivos Apple. A enxurrada de adesões foi tão instantânea quando o mote do aplicativo. São todos muito bem-vindos — como se eu estivesse avalizado para dar boas-vindas… Porém, é necessário que os novos usuários entendam algumas coisas sobre esta rede.

1. O INSTAGRAM NÃO É A CASA DA MÃE JOANA, OU SEJA, O TWITTER
Não se registre no aplicativo com o objetivo de ter o maior número de seguidores possível. Não trata-se de competição, mas de acompanhar os amigos (aqueles que realmente valem a pena), os ídolos e ver boas fotos (às vezes). Não comece a seguir adoidado pessoas que vocês nem conhece para que elas te sigam de volta. Só vai acontecer entre os novatos.

2. O INSTAGRAM NÃO É O FLICKR
Ontem, antes de dormir, aprovei o último novo amigo que acabara de estrear na rede. Quando acordei, hoje, tinha outro e uma nova mensagem daquelas “seu amigo fulano_de_tal ingressou no Instagram com o nome de ciclano_de_tal”. “Legal”, pensei. Fui seguir a criatura e já havia 209 fotos inseridas! Todas do cachorrinho da criatura! Meu filho, ainda bem que não comecei a te seguir ontem, ou teria 209 fotos para baixar no meu app, e inviabilizaria eu prestar atenção nas de outros amigos que realmente me interessam. Será que você já parou de subir sua fototeca? Espero, ou vou te limar.

3. O INSTAGRAM NÃO É O FACEBOOK
Já não há opção de compartilhar por causa disso. Seja comedido. Poste imagens que valham a pena. Mais do que cinco imagens por dia você está correndo risco de ser mal visto. De uma a três é o ideal.

O Instagram é discreto, casual, fino (ehehhe). Está em conformidade com a nova onda do unfollow — onde o menos é mais. Aliás, onde o menos é a única coisa possível de se dar atenção e valor. Eu não quero dizer que fiquei triste com a abertura do aplicativo para Android. Sou democrático. Mas serei obrigado fazê-lo caso essa tendência inicial se confirme. Será que erraram ao expandir suas fronteiras?

Sinceridade, Que Merda!

20120314-064604.jpg

Tem quem ache que sinceridade é uma grande qualidade do ser humano. Eu não. Também não é a pior, óbvio. A questão não é essa. O fato é que sinceridade não eleva o caráter de alguém mais do que um nível. Um filho da puta sincero só é melhor do que um filho da puta falso.

Tem gente que gaba-se por ser e esquece de avaliar suas demais características. Não estou dizendo que não se deve ser sincero e nem depondo contra quem é. Que fique claro.

Hitler foi um sincero incondicional. Conseguiu cativar uma nação sem esconder suas ideologias, aliás, pregando-as. Sinceridade não leva ninguém para o céu. Se sua maior qualidade é essa, e se você acredita em Deus, prepara-se para queimar no fogo do inferno, ou arranje urgente uma personalidade mais rica em valores.

Imagina o SUS da Jamaica

20120227-152039.jpg
Exame de urina do mundo perfeito

Não teve uma vez em que estivemos em Palmas e tenhamos deixado de dar uma passadinha no hospital. Calma. Nenhuma tragédia. Uma vez a mãe da Stela estava desidratada e ficou uma noite no soro. Outra ela estava internada mesmo, por problema de saúde. Noutra a Malu bateu com o dente na testa do primo. Há dois anos e meio, a Alice teve uma febrinha e levamos na Unimed. Desta vez, fomos com a Alice à Unimed novamente.

Ela estava sentindo uma dorzinha para fazer xixi e resolvemos ir ao pediatra de plantão. Uma hora para ser atendido mesmo ser não criança alguma na fila — explica! Se o plano particular do Brasil é assim, imagino o SUS do Paraguay. Entramos no consultório e, sem nem um boa-tarde, o médico me solta em portuñol tocantinense: “¿que pasa?“. Lembrei novamente do Paraguay. Alice achou divertidíssimo e ficou imitando ele falar. Perguntou “¿Toma baño de água corriente ou de bañera? (dizem — “dizem” — que eles não têm chuveiro no Paraguay). “Chuveiro!”, respondemos, “mas tem tomado banho de piscina”, para não dizermos “de lago também”. Mal olhou para a cara da criança, quanto mais a examinou, e deu o veredito (quer dizer, o diagnóstico): “¡infección urinária!“. “E não precisa fazer exame de urina?” — somos curiosos. “¡No!“. Tá bão, então. Receitou um antibiótico.

A dorzinha para urinar tinha passado, mas chegando em casa resolvemos ligar para nosso herói, doutor Chiucheta, em Pelotas. “Claro que tem que fazer exame de urina, antibiograma com cultura!” Não tínhamos prescrição. Poderíamos pagar particular e resolver o caso, mas decidimos voltar à Unimed no dia seguinte para outra consulta e pedir para o paraguaio prescrever.

Depois de uma hora e meia de espera, agora sim com bastante gente aguardando, fomos atendidos por outro plantonista. Eu cantei a pedra pra Stela, dizendo que ele não aceitaria cumprir com uma solicitação de um colega e indicar o exame. É o orgulho médico. E, mesmo se aceitasse, sugeriria uma análise diferente. Dito e feito. Pediu um exame simples e não de cultura. Se desse alguma coisa, aí sim, pediria o segundo. A Stela ainda perguntou se não poderíamos fazer os dois ao mesmo tempo. Ele deu a maior engambelada da história da medicina contemporânea. Disse que não era possível com uma única amostra, porque o de cultura se faz com coletor esterilizado e o simples não. “Cuma?!” Eu dividiria a amostra e cuspiria dentro da do simples se fosse preciso.

Mesmo a Alice não sentindo mais dor, autorizamos os exames, um pelo plano e o outro particular, com a mesma amostra, claro. O prazo é de 3 dias para ficarem prontos. Hoje é segunda e viajaremos na quarta. Mesmo a atendente insistindo e discutindo que de segunda à quarta são três dias — e que daria tempo — a gente vai pedir para alguém pegar na quinta e nos enviar, porque o pessoal da Unimed também não consegue mandar email.

Anonymus Gourmet — Os Ataques Continuam

20120204-134715.jpg

A série de ataques do grupo conhecido como Anonymous continua, agora na televisão, sob a forma atentado gastronômico. Um integrante dos rebeldes, conhecido como Anonymus (sic) Gourmet, vem, sistematicamente, agindo contra o sistema alimentar global. Todo sábado, pela manhã, na RBS TV, quase sempre com auxílio de sua arma preferida — o liquidificador —, o rebelde propaga seus ideais desconstrutivistas.

Mas não é apenas contra a SOPA que o militante protesta. Hoje, foi contra o RISOTO (de camarão). Apesar de insistir que os espectadores não precisavam usar arroz arbório, mas um arroz “normal” (eu não sabia que o arbório era anormal), acabou valendo-se da tal variedade, que é mais indicada ao prato. Ao invés de colocar água aos poucos, secando e umedecendo diversas vezes, mexendo sempre, Gourmet cobriu os gãos com água, cozinhando como se fosse um prato convencional de arroz branco.

Depois de cozido, deixou de lado para preparar o camarão. Todo mundo que conhece o vero risotto italiano sabe que isso não se faz pois, depois que o arbório esfria, vira uma pedra. Porém, na hora de misturar o arroz com o camarão, acrescentou um copo de requeijão e um pote de nata. Ou seja, para tentar simular o efeito de um risoto bem feito, colocu 400g de gordura láctea em apenas duas xícaras de arroz.

Sei que Anonymus Gourmet é um personagem de José Antônio Pinheiro Machado, que tenta levar a simplicidade de preparo à mesa dos gaúchos. Acho surpreendente a capacidade que ele tem de ser fiel ao conceito por tanto tempo. Mas o programa peca no que tange a responsabilidade cultural. Acaba sendo um desserviço. Para quem já fez um suco de goiaba passando uma goiabada no liquidificador e disse que se deve colocar amido de milho a deixar reduzir o molho de tomate pois o sabor evapora, “desserviço” é elogio.

Ainda: se alguém souber em que língua está escrito “Anonymus”, por favor me diga.

Eu Tenho. Você Não Tem

Homem é bicho curioso. Ao mesmo tempo que gosta de exclusividades, adora contar as suas para os outros; o que descobriu; o que só ele conhece.

Sabe aquele restaurante que “só você” vai, meio esquisito, mas que tem “uma sopa de capeletti que-vou-te-contar”? E aquela banda islandesa que nunca ninguém ouviu falar, faz “um som maneiro”, a vocalista tem uma tatuagem na testa, não tem guitarrista, mas uma harpa no lugar? Ou então o mecânico, lá do Pestano, que “fez curso na NASA”, sabe tudo de motores, mas se instalou em Pelotas porque a família é daqui e quer “qualidade de vida”?

Todos temos nossos tesourinhos. O estranho é que, ao mesmo tempo que gostamos de espalhar para os quatro ventos nossas descobertas, quando se tornam de todos rejeitamos; achamos que viraram pop demais; que estão muito concorridas. Para esses casos, temos sempre a deixa na ponta da língua: “eu frequentava esse restaurante desde que abriu, era muito bom, mas agora já não são mais os mesmos”; “ficaram muito comerciais, o primeiro disco é que era bom, quando tinha o baixista aquele”; “ah, ele não trabalha mais direito, tem muitos clientes, não se atualizou; tô levando na concessionária”.

O homem vive em busca de um reconhecimento estranho por algo que não é dele. Não se dá conta que o tesouro é mais importante que a descoberta. Se sente frustrado quando não recebe o crédito por ter compartilhado algo e acaba descarregando sua fúria e desdém em quem deveria levar os louros: o autor. Seria um tipo de inveja?

Já ouviu o último do Vinx? Um cantor com voz linda que fazia backing vocal para o Sting na turnê do CD “The Soul Cages”: www.vinx.com. Mas o melhor é o primeiro.

O Xis da Questão

Claro que consigo entender, comercialmente, a substituição da palavra “cheese” (queijo) pela letra xis. A sonoridade é parecida, além de ser mais curta, leve, bem-humorada, vendável… Até o design é mais agradável. Você não concorda? O “x” está na moda desde os filmes de pirata, quando marcava o local do tesouro — Corel X, Generation X, Malcom X, Triple X e por aí vai.

O que é inaceitável ou, no mínimo, perturbador são esses trailers e lanchonetes que acham que “x” é sinônimo de sanduíche ou sei lá de quê. Na maioria dos lugares, por exemplo, um x-coração leva coração, alface, maionese e queijo. Já um bauru de coração contém os mesmos coração, alface, maionese e, pasmem, queijo! Não ouse perguntar à garçonete, nem ao dono do bicão, qual a diferença.

— Olha… É que… É… O bauru leva ervilhas. Isso! Ervilhas!
— Ah, “ervilhax”?
— “Ervilhas!”
— Hum… Sei. Mas não está escrito aqui que leva ervilha.
— Não? Deixa eu ver… É, mas tem.
— (Se não levava, passou a levar)

Aí, você lê “hamburger” e “x-burger” e pensa, de novo, que o destaque do segundo é o queijo. Engana-se. Os dois têm. É que o hamburger leva salada. Ou não. Vai saber.

— E o x-salada? Leva o quê?!

Mas cuidado! Não tente aplicar essa lógica em todos os botecos, pois cada um tem a sua. Não existe convenção. Ainda há aqueles que não compreendem nem que “burger” diz respeito ao “bolinho de carne moída”. Mas a falta de critério etimológico não se aplica apenas aos estabelecimentos de Pelotas. Evidente.

Certa vez, em Porto Alegre, olhava o cardápio. Havia duas colunas com os exatos mesmos nomes e descrições repetidos. O que diferia era o título de cada uma: “Baurus” e “X”. Detalhe: em ambas, todos levavam queijo. Tinha até um chamado “Quatro Queijos” (se soubessem o que significa xis, chamariam “XXXX”?). Claro que questionei.

— O que um tem e o outro não?
— É que o bauru é com pão cervejinha e o xis é com pão de leite.
— Ahhhh! Claro! Tá explicado!

Lucro Não É Crime

Volta e meia ouvimos alguém dizer: “eles só pensam no lucro”. Tem gente que acha que obter lucro em uma transação comercial é falha de caráter. Quem nunca escutou “este preço é um roubo”? Figuras de linguagem à parte, o que está se tentando dizer com a exclamação é que oferecer um produto por um preço maior, muito maior ou, até mesmo, absurdamente maior, é crime. Mas não é. Quando uma empresa adota uma política de preços, três coisas são consideradas: custos, posicionamento pretendido e mercado em que está inserida. Como vivemos em uma sociedade capitalista, onde cada um compra o que quer, de quem bem entende, qualquer preço que pague os custos e dê lucro não deve ser recriminado.

O que pode ser considerado imperícia, burrice ou, agora sim, crime é o preço baixo demais – a concorrência desleal. Alguns tipos de empresa que costumamos ver por aí:

– FILANTRÓPICA – A empresa não sabe calcular seus custos, cobra menos do que deveria, tem lucratividade baixa ou zero. Com isso remunera mal seus funcionários, puxa a concorrência para baixo. Vê-se muitas dessas ao nosso redor. Ah, elas terão vida curta? Acredite, tem muitas com mais de uma década, apostando que as coisas ainda vão melhorar.
– PAITROCINADA – Algumas foram montadas pelo “papai” ou estão instaladas em um imóvel da família. Nenhum problema com isso, desde que esses custos sejam previstos. Afinal, quem é “papai”? Um supervilão tentando destruir o mercado subsidiando as aventuras profissionais dos filhos? E não existisse “papai”? Como seria a vida financeira dessa empresa? Infelizmente, não existe uma Liga da Justiça para combater esse tipo de concorrência.
– SONEGADORA – “O Governo leva todo o meu lucro.” “Todo mundo sonega, por que não eu?” Claro que os impostos são abusivos. Claro que não há nada mais indignante do que a corrupção deste país. Mas e aí? Vai fazer o mesmo? Vai nivelar por baixo? O trocadilho é infame, mas não se paga imposto pra sonegar. Quem só precisa de um motivo para justificar um ato ilícito deve repensar sua existência.

Portanto, se você achar o preço alto, não compre. Se achar o serviço ruim, não volte. É um favor que fará a sua cidade. Só não despeje sua raiva no coitado do lucro, no empresário que trabalha bem, que foi às aulas de matemática, que pretende ser remunerado de forma justa, que faz a roda da economia girar. A mesma roda que fará os salários aumentarem (inclusive o seu), reduzirá os custos de produção, aumentará o seu poder aquisitivo e levará você a pensar em abrir um negócio próprio. Nessa hora você vai entender melhor o que estou dizendo.

Vendas Coletivas: Três Motivos para Anunciar e Três para NÃO

Existem mais de mil sites de “vendas coletivas” no Brasil. E isso me preocupa um pouco. Não que eu ache a ideia ruim, pelo contrário, mas pelo seu mau uso.

De um lado os consumidores: muitos acham que os preços menores vêm de simples barganha com os fornecedores. A falsa impressão de preço baixo devido ao volume maior negociado chega a criar um falso pensamento que os valores normais são abusivo. Na verdade, tais anúncios nada mais são do que investimento, no qual não se arca apenas com a redução da receita, mas com o pagamento pelo serviço de divulgação.

De outro lado, os anunciantes: o frisson é enorme e, cada vez que alguém anuncia, a concorrência se sente impelida a fazer o mesmo. Porém, a maioria não sabe o que faz, tanto para o seu negócio como para o mercado em que está inserida.

Por que sua empresa deve anunciar em um site de vendas coletivas?

1) Porque precisa chamar atenção no mercado, seja por inauguração recente, seja por estar apresentando um novo produto.

2) Porque tem um diferencial inédito em sua área de atuação, de extrema qualidade, e precisa de consumidores que o experimente e divulguem espontaneamente para seus amigos.

3) Porque tem um item em estoque que precisa de saída.

Por que sua empresa NÃO deve anunciar em um site de vendas coletivas?

1) Porque estará ofertando preço e não qualidade. Atrairá consumidores interessados na vantagem financeira, que a trocarão pelo concorrente quando a oferta dele for melhor.

2) Porque estará ajudando a criar consumidores-monstros, que só escolhem onde irão jantar fora, por exemplo, pelas opções de restaurantes anunciantes do sistema, criando um mercado insustentável para a sua própria existência.

3) Porque, se o seu estabelecimento está sempre lotado (como vi um outro dia anunciando), não há motivo algum de oferecer um preço menor, prejudicando o atendimento de seus clientes habituais, que a prestigiam pelo que é e não pelo preço promocional que pratica.

Não é preciso dizer que faz ainda muito mais mal à saúde dos negócios ofertar um produto medíocre pela ocasião ou por DNA mesmo. Não há propaganda que conserte o que não presta; a magia se desfaz no primeiro contato e o boca-a-boca negativo é muito mais intenso.