Previsões para a pandemia de Covid-19

ACIONEI MINHA BOLA DE CRISTAL, CONECTEI COM MEU CHUTÔMETRO E COM MEU PHD EM PALPITE E PREVI O FUTURO DA PANDEMIA

black woman in epidemic riding in bus

Alguns artigos de gente mais especialista do que eu (ou seja, simplesmente “especialista”) dizem que a pandemia de Coronavírus vai durar até 2023. Outros dizem que vai levar sete anos e por aí vai. Por essas divergências, me pergunto: o quanto mais especializada do que eu essa gente é?

O Ministério da Saúde está — eu ia dizer “organizado”, mas creio que esta não é a palavra correta… O Ministério da saúde está — eu ia dizer “planejado”, mas acho que não é bem isso… O Ministério da Saúde está trabalhando no tocante a essa “cuestão” e disse “isso daí”: que em 12 meses estarão vacinadas 60 milhões de pessoas. Resumidamente, essa parcela inclui profissionais da saúde, homens e mulheres acima de 60 anos e outros grupos de risco. Claro que vai depender do abastecimento do imunizante pela indústria, mas, por outro lado, estados também estão trabalhando com outras opções para acelerarem o processo.

Esse número de 60 milhões está longe de representar imunidade de rebanho. Especialistas — ó, os caras de novo — dizem que vacinando 70% da população se chega lá. Só que isso levará tempo.

Pois acho que a gente vai se livrar de boa parte do clima de pandemia, e das restrições a que precisamos praticar, bem antes do previsto. Na medida em que os mais propícios a desenvolverem a forma grave da COVID-19 forem sendo imunizados, as UTIs vão começar a esvaziar. Hoje, em Pelotas, temos 19 desses leitos ocupados. Já tivemos 45. Aos poucos, só estarão sendo internados aqueles abaixo dos 60 e fora dos grupos de risco detectados. O que vai significar números parecidos com os dos agravamentos provocados, por exemplo, pelas várias formas de influenza. Você sabe quantas pessoas são internadas por este motivo na sua cidade? Você alguma vez usou máscara ou deixou de ir em uma festa com medo de pegar H1N1 e desenvolver uma pneumonia?

Quando isso acontecer, vamos continuar usando máscaras? Talvez. Vão permanecer medindo nossa temperatura na entrada dos estabelecimentos? Seria prudente. Vamos manter o hábito de lavar as mãos e usar álcool em gel? Menos, mas acho que sim. O home office vai perdurar? Em empresas em que isso pode acontecer, talvez de alguma forma híbrida, mas realmente essa é uma tendência que se consolidará. Alguns dos novos hábitos virarão questão de etiqueta (pequena ética) social. Será como limpar os sapatos no tapete antes de entrar, usar talheres para comer etc.

Mas o que vai acontecer de bom mesmo é que vamos voltar ao grosso de nossa rotina habitual. Os decretos vão afrouxar, os eventos presenciais vão adotar algumas medidas pró-forma mas vão voltar… Gente gosta de gente, por mais que às vezes não pareça, e a naturalidade poderá retornar em poucos meses. Não vou dar data, pois não renovei minha carteirinha de PhD em imunologia, não tenho controle de todas as variáveis e as coisas também são graduais, mas certamente, a partir do meio do ano, estaremos bem adiantando nesse processo.

Claro que isso tudo também vai depender das cepas variantes. Não sabemos muito sobre as vacinas. Nem mesmo os fabricantes sabem direito. A “fase quatro” de teste está sendo feita agora, na vida real, para descobrirmos o que vai acontecer sobre imunização e sobre efeitos colaterais a longo prazo, principalmente em tecnologias novas, como a da manipulação de RNA. Mas é o preço que se paga. As vacinas limparam o mundo de diversas doenças e milhares de mortes no último século. Isso não é de se desconsiderar.

O que você mesmo pode fazer para ficar mais tranquilo enquanto a vacina não chega é reforçar seu sistema imunológico. Coisa que já deveria ser preocupação mesmo antes da pandemia. Com ele em dia, você reduz drasticamente a necessidade de uso de qualquer tipo de droga, preventiva ou não. Procure um médico e pergunte sobre isso. Só recomendo desconfiar dos que você achar que podem ter algum conflito de interesse e serem mais fieis aos laboratórios que financiam seus cursos e eventos no exterior do que com a própria saúde de seus pacientes. No geral, não tem indústria santa.

Veja se o Corona está parado neste andar

Não. Não irei falar aqui do perigo dos elevadores como local de transmissão do COVID-19. Você já vai entender onde quero chegar.

Quase 81 mil pessoas foram diagnosticadas com o vírus na China, um país de 1,4 bilhões de habitantes. Isso é menos que 0,00006% da população. Dizem que os diagnósticos representam apenas 15% dos casos. Ou seja, 540 mil infectados que 85% deles nem sintomas devem ter tido. Isso representa menos de 0,0004% do país oriental. É claro que os comedores de lámem parecem ter sido exemplarmente eficientes na contenção da epidemia, pelo que vimos nas notícias.

Antes de chegar ao elevador, quero fazer aqui uma pausa no raciocínio para propor um ponto secundário de reflexão.

Gostaria que um infectologista respondesse para eu aprender algo. Por que se considera controlada a epidemia por lá se ainda restam 1,39946 bilhões de pessoas passíveis de infecção? Não basta uma — e há pessoas ainda doentes — para começar tudo de novo? Ou as indústrias chinesas todas estão se voltando para a produção de álcool gel e WD-40 e vão barrar a praga de vez? Kkkk. É uma pergunta séria, apesar da brincadeira.

Mas vamos voltar ao viés original e descobrir onde o elevador entra na história.

Eu havia falado em 0,0004% da população atingida. Mas, além desse percentual reapresentar gente de carne e osso e esse número ser suficiente pra sobrecarregar o sistema de saúde, será que devemos realmente tratar o ser humano como uma percentagem? Uma vida é uma vida, e não importa a quantos zeros após da vírgula ela se encontra. Não é mesmo?

E é aí que traço o paralelo proposto no início.

Sabe a plaquinha aquela que muita gente pergunta por que existe fora da porta do elevador? Por que ser lei afixar a mensagem “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar. Lei número tal.”? Lembra? Pois então, quantas pessoas morrem caindo no poço porque a porta abre sem o elevador estar ali? Quantas leem e se livram da queda? Bom, aí vai a resposta que eu sempre dei a mim mesmo: se for para salvar uma vida, uma única que seja, terá valido a pena termos milhões de plaquinhas como essas espalhadas em todos os andares de todos os prédios pelo mundo.

E ainda, de quebra, estamos ativando a produção da indústria de sinalização, gerando empregos e fazendo girar a economia para fabricá-las.